Por Joana Amaral Cardoso.
A cidade velha de Hebron, na Cisjordânia, foi esta sexta-feira inserida na lista de património mundial e em risco pela Comissão de Património Mundial da UNESCO. Classificado como “local de valor universal excepcional” na Palestina, a decisão do organismo das Nações Unidas enfureceu Israel, cujo embaixador para a UNESCO abandonou mesmo a sessão e pede agora a rejeição da resolução.
Na sessão desta sexta-feira da UNESCO, que teve lugar em Cracóvia, na Polónia, a votação secreta (a pedido de Israel, detalha o Guardian) teve um resultado de 12 a favor e três contra, além de seis países se terem abstido, permitindo a declaração da zona da cidade “zona protegida” – a cidade velha de Hebron, na Cisjordânia ocupada, é apenas um de 33 locais nomeados que a reunião da UNESCO, que decorre até dia 12, está a avaliar. Na cidade velha de Hebron, que surge listada no site da Organização para a Educação, Ciência e Cultura da ONU como “Hebron/Al-Khalil Old Town, Palestina”, encontra-se por exemplo a Mesquita de Ibrahim ou Túmulo dos Patriarcas, um de vários locais de culto para muçulmanos e judeus situados na área.
A ministra palestiniana do Turismo admitiu em comunicado essa vitória geopolítica – o voto e a inclusão de Hebron na listagem de património mundial da UNESCO como um sítio palestiniano “é um desenvolvimento histórico, porque frisa que Hebron” e a mesquita/túmulo “pertencem historicamente ao povo palestiniano”. A proposta de inclusão de Hebron na lista proveio da Palestina, que é membro reconhecido da UNESCO desde Outubro de 2011. A UNESCO terá contribuído assim com mais um passo para o reconhecimento da Palestina como um estado independente, apesar da oposição de Israel e dos EUA – e a organização da ONU já tinha plasmado num documento oficial, há dois anos, que tanto o Túmulo dos Patriarcas/Mesquita de Ibrahim é “parte integral da Palestina”. A cidade velha de Hebron não é o primeiro sítio palestiniano reconhecido como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO – antecedem-na a Igreja da Natividade e a Rota da Peregrinação, em Belém (2012) e a paisagem cultural de Battir, Jerusalém Sul, formada pelas oliveiras e vinhas (2014).
Na sua contestação da nomeação e votação, Israel defendeu que “a formulação da decisão ignora as suas ligações históricas à cidade”, como escreve a agência Associated Press. O embaixador israelita Carmel Shama-Hacohen ter-se-á insurgido junto da mesa do presidente da sessão, Jacek Purchla, e depois deixado a sala. A embaixadora dos EUA terá tentado impedir que a proposta palestiniana avançasse, mas sem sucesso, escreve o Guardian.
O chefe da Comissão Nacional de Israel para a UNESCO, Naftali Bennett, também ministro da Educação de Israel, criticou também a votação. “As ligações judaicas a Hebron são mais fortes do que a vergonhosa votação da UNESCO”, disse, citado pela AP. Esses laços “remontam a milhares de anos”, disse ainda, já citado pelo Guardian. “Hebron, lugar de nascimento do reino do Rei David, e o Túmulo dos Patriarcas, a primeira compra judaica em Israel e local de repouso dos nossos antepassados – são os sítios patrimoniais mais antigos do nosso povo”. Shama-Hacohen pede mesmo que “a resolução da ONU seja rejeitada”.
A classificação de Património Mundial é atribuída a locais considerados de importância única para o mundo e a humanidade e determina o estabelecimento de medidas que garantam a sua preservação.
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Fonte: Público.pt.