Na manhã de sábado (14), o Haiti foi o epicentro de um terremoto que chegou a atingir 7,2 de magnitude. Segundo dados oficiais, o tremor deixou 1.419 vítimas e mais de 6,9 mil feridos. A Unicef fala em 1,2 milhão de pessoas diretamente afetadas pela tragédia.
A tempestade tropical Grace que atinge a região atrapalhou as buscas de possíveis sobreviventes sob os escombros. Segundo o Centro Nacional de Furacões, fortes chuvas e ventos de até 75 km/h impossibilitaram o trabalho dos socorristas.
As condições climáticas prejudicam ainda mais o acesso à água, abrigo e outros serviços básicos. Além disso, devido aos deslocamentos tectônicos, as inundações têm mais profundidade e torna o terreno mais propício a deslizamentos de terra, o que piora a situação das famílias vulneráveis que aguardam apoio humanitário.
Estima-se que cerca de 40 mil casas tenham sido destruídas. De acordo com relatório do OCHA (Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários), a expectativa é de que os números aumentem, com danos significativos em infraestruturas e estradas.
Uma reportagem do New York Times relata que tubulações subterrâneas da cidade de Les Cayes foram trincadas, causando inundações nas ruas. Uma médica que se identificou como Fatima Geralde Joseph disse que tentou correr até a clínica onde trabalha, para ajudar no atendimento de urgência aos feridos, mas não conseguiu atravessar as ruas inundadas e teve que retornar para casa.
A tragédia é social e a causa é o imperialismo – O Haiti é o país mais pobre das Américas, devido aos processos de colonização, exploração e de intervenção estrangeira na ilha.
Especialistas afirmam que o país, se melhor preparado, assim como países mais ricos e desenvolvidos, evitaria muitas mortes e destruição de casas e outras importantes infraestruturas.
Jonathan Katz, jornalista da Associated Press e autor do livro “O Grande Caminhão que Passou: Como o mundo chegou para salvar o Haiti e deixou para trás um desastre” relata que “grande parte dos gastos militares dos EUA logo após o desastre foi mais centrado na prevenção de protestos e para interromper a imigração em massa do que na reconstrução do país”.
Se todos os fundos gastos com tropas militares fossem canalizados para melhorar as condições de vida da população, o número de mortes por terremoto nunca ultrapassaria o saldo de 100 vítimas.
Crise contínua – Desde o terremoto de 2010 no país, que deixou mais de 200 mil mortos e 300 mil feridos, contando ainda as vítimas do furação de 2016, que também atingiu o território e deixou centenas de mortos e milhares de desabrigados, há até hoje como saldo dezenas de milhares de desabrigados.
Se em 11 anos depois a população ainda não conseguiu se reerguer, o momento atual se revela como uma verdadeira crise contínua, com, sistematicamente, alguns agravantes de crise política e intervenção estrangeira que nada têm a ver com eventos naturais.
O povo haitiano vive intensa crise econômica, social e política desde que o presidente do Haiti, Jovenel Moïse, fora assassinado em 7 de Julho em sua própria casa, na capital Porto Príncipe.
A ilha já vinha sendo, ao longo dos últimos anos, local de intensas manifestações contra o governo. Tanto em 2019 quanto em 2020, já em meio a pandemia, protestos foram realizados pela saída de Jovenel Moise.
Os motivos para a revolta popular eram muitos: contra o autoritarismo do governo vigente – Moise impôs uma ditadura para manter seu governo com a prorrogação de seu mandato, adiando indefinidamente as eleições, suprimido o parlamento e a corte de justiça – e por direitos fundamentais básicos – na ilha caribenha de 11 milhões de habitantes, dois em cada três haitianos vivem com dois dólares por dia. Cerca de dois milhões de seus cidadãos são ameaçados pela fome, 35% da população precisa urgentemente de ajuda alimentar e a desnutrição crônica afeta 40 em cada 100 pessoas.
Fora imperialismo – À época do assassinato de Moise, a CSP-Conlutas expressou preocupação com a situação do povo haitiano. A Central afirmou ser de extrema importância, no marco da solidariedade internacional e incondicional com o povo haitiano, ajudar as vanguardas a se organizarem no enfrentamento e na ruptura com todos os setores burgueses, para impedir a volta do grupo de Aristides, Préval ou qualquer outro inimigo interno dos trabalhadores.
Neste momento de crise, é também importante manter o posicionamento pelo fim do controle politico militar imperialista dos EUA e europeu, da ONU, OEA, FMI, Banco Mundial e todas formas de subordinação estrangeira, que pode ser estabelecido e aprofundado sob o véu do apoio humanitário, tal como foi a Minustah (Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti) e a MINUJUSTH (Missão das Nações Unidas de Apoio à Justiça no Haiti).
Todo poder ao povo haitiano!
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