Por Isadora Stentzler.
Indígenas da aldeia Tajy Poty, de Terra Roxa, no Oeste do Paraná, estão há pelo menos uma semana sem água potável. A comunidade tem bebido água do Córrego Tapera, que desce pelas terras de um fazendeiro que cultiva milho e soja ao lado da aldeia. O medo da comunidade é que agrotóxicos na água e animais mortos, já vistos no rio, contaminem os indígenas. Pelo menos uma criança já teve diarreia.
Segundo o cacique Leocinio Gonçalves Ava Tupã Mirim, o problema se estende desde 2012. Eles são mantidos com um caminhão pipa que, uma vez por semana, carrega a caixa d’água da comunidade. Mas devido às fortes chuvas dos últimos dias e os problemas da estrada, o caminhão não consegue mais ter acesso.
Em 15 de dezembro de 2020, o cacique, junto à Fundação Nacional do Índio (Funai), protocolaram um pedido ao Ministério Público Federal (MPF) em Guaíra pedindo melhorias no trecho, mas até agora não foram respondidos.
Um pedido para que a prefeitura de Terra Roxa colocasse cascalho na estrada também foi feito. De acordo com o cacique, a prefeitura disse que não poderia arrumar por que fica “na área rural” e que “só cuida da área urbana”.
“Quando a caixa d’água não está abastecida, a gente pega água do rio que vem da direção da fazenda, onde o cara planta soja, onde o cara planta milho. E com certeza essa água é contaminada. Mas a gente é obrigado a tomar essa água. Por isso que a gente está esperando a instalação de poço artesiano. Não foi feito isso também. Mas o que mais agravou é que as crianças, toda a comunidade, pegam água do rio, que vem da direção do vizinho, e lá, quando morre animal, ele também joga no rio. Uma vez eu já vi o cara levando uma vaca morta pra jogar ali em cima de uma nascente”, disse o cacique.
A aldeia tem 28 famílias, sendo 27 crianças, oito adolescentes e cinco idosos. O medo do cacique é que os indígenas contraiam doenças, como diarreia, cólera e barriga d’água devido ao consumo dessa água. A alternativa, para eles, seria arrumar a estrada – o que pedem desde o ano passado -, e a instalação de um poço artesiano.
Falta de demarcação prejudica
A comunidade, que fica no oeste do Paraná, é marcada por conflitos. A terra não é demarcada, o que aumenta a tensão com fazendeiros locais.
No ano passado, a Justiça Federal também determinou a suspensão de qualquer ato de demarcação de terras indígenas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, além de anular o relatório de identificação e delimitação da Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavirá, que na época compreendia 14 aldeias Guarani localizadas em ambas as cidades – hoje já são 15.
Procurada, a assessoria da Prefeitura de Terra Roxa não respondeu à reportagem. A assessoria do MPF também foi procurada e, até a publicação da reportagem, ainda não tinha enviado resposta. A reportagem aguarda posicionamento.