Por Roger McKenzie, Globetrotter.
Notícias vindas da Alemanha e dos Estados Unidos afirmam que um grupo pró-ucraniano esteve por trás da explosão dos gasodutos Nord Stream, no Mar Báltico, em setembro de 2022.
O jornal alemão Die Zeit, as rádios ARD e SWR, bem como a revista Kontraste, reportaram neste mês que investigadores conseguiram reconstruir os passos da sabotagem dos gasodutos que ligam a Rússia à Alemanha em 26 de setembro de 2022.
Citando diversas autoridades sob anonimato, a investigação realizada pelos veículos teria revelado que cinco homens e uma mulher usaram um iate alugado por uma companhia ucraniana na Polônia para fazer o ataque.
O The New York Times também reportou que a inteligência dos EUA tem sugerido que um grupo pró-ucraniano estaria por trás das explosões.
Segundo o jornal, o presidente estadunidense Joe Biden e seus conselheiros “não autorizaram” o ataque.
O The New York Times normalmente se comporta como um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA. Em 2004, o jornal foi forçado a emitir um pedido de desculpas por sua cobertura enganosa sobre a presença de armas de destruição em massa no Iraque. O veículo foi essencialmente usado pelo Departamento de Estado para repetir as afirmações que justificaram a guerra ilegal levada adiante pelos EUA e seus aliados.
E aqui estamos de novo – dessa vez após uma reportagem do premiado repórter investigativo Seymour Hersh, que acusou os EUA de terem ordenado a explosão dos gasodutos Nord Stream durante a realização de um exercício militar da OTAN.
Hersh explicou como os noruegueses ajudaram mergulhadores estadunidenses a instalar explosivos remotos nos gasodutos em junho de 2022.
Washington e seus aliados negaram a acusação trazida à tona por Hersh. O The New York Times, fiel à sua trajetória, optou por repetir as afirmações oferecidas a ele e aos veículos alemães selecionados a dedo.
O ministro de Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, declarou que ele leu as reportagens “com grande interesse”, mas fez um alerta contra tirar conclusões rápidas sobre o assunto.
“Nós precisamos diferenciar com clareza se foi um grupo ucraniano que agiu sob as ordens da Ucrânia ou […] sem o conhecimento do governo”, disse ele a repórteres.
Isso é muito diferente da insistência dos EUA e seus aliados de que a Rússia fora a responsável por explodir os gasodutos com os quais ganhou dinheiro fornecendo grandes quantidades de energia para a Europa.
O ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, rejeitou as sugestões de que o ataque poderia ter sido ordenado por Kiev.
Ele disse aos repórteres: “É como um elogio às nossas forças especiais, mas esta atividade não é nossa”.
Claro que ele nega. Ele já saberá que os EUA foram os responsáveis pela explosão.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, se recusou a comentar a reportagem do The New York Times, observando que as investigações da Dinamarca, Alemanha e Suécia ainda estão em andamento.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, descreveu os últimos relatos da mídia como uma manipulação coordenada destinada a ocultar as origens do ataque.
Ele afirmou: “Os mentores do ataque terrorista claramente querem desviar a atenção”.
O presidente russo Vladimir Putin e seus funcionários acusaram os EUA de realizar a explosão dos gasodutos, que eles descrevem como um “ataque terrorista”.
Jan Oberg, diretor da Fundação Transnacional para a Pesquisa da Paz e do Futuro (Transnational Foundation for Peace and Future Research), disse que, uma vez que a reportagem de Hersh se mostre justificada e o papel das forças da Marinha dos EUA comprovado, “os europeus vão acordar e finalmente entender que não têm mais interesses compartilhados com os EUA”.
A organização de paz liderada por mulheres CODEPINK emitiu uma declaração afirmando que “é necessária uma investigação real e pública sobre este crime contra o meio ambiente!”
Não pela primeira vez, o organizador nacional da Aliança Negra pela Paz (Black Alliance for Peace), Ajamu Baraka, acertou ao tuitar: “A arrogância da mente supremacista branca torna impossível para ela entender como a última manobra de propaganda com a campanha de desinformação sobre o ataque dos EUA aos oleodutos Nord Stream está tornando a imprensa dos EUA motivo de chacota em todo o mundo. Já que os EUA afirmam que querem reprimir as campanhas de desinformação, talvez devam investigar a campanha de desinformação [do Times] sobre o ataque ao Nord Stream?”
Este artigo foi produzido por Globetrotter e traduzido por Pedro Marin para a Revista Opera. Roger McKenzie é o editor internacional do jornal Morning Star. Siga Roger no Twitter no @RogerAMck.
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