Por Altamiro Borges.
Após ser aplaudido pelos abutres financeiros em um convescote em São Paulo, o fascistoide Jair Bolsonaro parece que decidiu ajustar o seu programa para as eleições presidenciais deste ano. Ele agora tenta combinar o conservadorismo na política e nos costumes – com sua defesa da ditadura e seu discurso hidrófobo de estímulo aos preconceitos – com uma agenda ultraliberal na economia. A mistura explosiva não é nova. O ditador chileno Augusto Pinochet é um exemplo clássico deste amálgama. Ele torturou, matou, reprimiu e censurou; e, ao mesmo tempo, acionou os “Chicago Boys” para implantar a primeira experiência de neoliberalismo selvagem no continente. Ideólogos neoliberais, como Friedrich Hayek e Milton Friedman, também sempre ensinaram aos seus súditos que a liberdade do “deus-mercado” deve se sobrepor à democracia.
Para superar as suspeitas e agradar a cloaca empresarial, Jair Bolsonaro anunciou recentemente que seu tutor econômico e o futuro ministro da Fazenda, caso eleito, é o banqueiro Paulo Guedes, um privatista radical. Com doutorado na Universidade de Chicago – o que já diz tudo sobre sua visão destrutiva e regressiva –, o economista é o principal executivo do banco Bozano Investimentos e foi um dos criadores do Instituto Millenium – o antro dos barões da mídia. Em entrevista ao jornalista Fábio Zanini, na Folha deste domingo (25), ele explicitou que não se contrapõe às ideias autoritárias do ex-capitão do Exército e defendeu um programa agressivo de privatizações e de desmonte do Estado. O seu slogan segue sendo o “privatizar tudo”.
As suas teses neoliberais já foram rejeitadas pela sociedade. Nas eleições presidenciais de 1989, ele coordenou o programa do empresário Guilherme Afif Domingos, que levou uma surra nas urnas. Agora, porém, Paulo Guedes avalia que estão maduras as condições para implantar o seu ideário. A onda conservadora que tomou conta da sociedade com a cavalgada golpista que derrubou Dilma Rousseff e alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer motivaram sua volta à disputa política. “No programa de Afif, eu propunha privatizar tudo”, afirma cheio de empáfia e saudosismo. E dá os detalhes do seu plano macabro:
“Por que não pode vender o Correio? Por que não pode vender a Petrobras? E se o mundo for para um negócio de energia solar? E o shale gas [gás de xisto]? E se o petróleo, daqui a 30 anos, estiver valendo US$ 8 [o barril]? Você sentou em cima de um totem, ficou adorando o Deus do óleo. Por que uma empresa que assalta o povo brasileiro tem que continuar na mão do Estado?”. Para ele, a iniciativa privada é santa, nunca esteve metida em corrupção. “Já viu alguém do Bradesco corromper alguém do Itaú?”. Ela também é eficiente e vai resolver todos os problemas do Brasil. Haja cinismo deste rentista aloprado, adorador de Milton Friedman e da ditadura chilena.