Às 19h desta quinta-feira (1º) foi lançado, em São Paulo, o Guia sobre Drogas para Jornalistas, publicação feita por meio de uma parceria da Plataforma Brasileira de Política de Drogas (PBPD) com o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCcrim) e a Catalize, financiada pelo Social Science Research Council. A publicação, com 96 páginas, traz um glossário com mais de 200 verbetes usados de forma geral na cobertura de drogas, explicando conceitos jurídicos e científicos e os traduzindo para uma linguagem mais simples.
“A cobertura, feita no calor jornalístico das redações, muitas vezes acaba reproduzindo estereótipos e desinformações sobre diversas substâncias. Como a Plataforma de Política de Drogas tem como um dos seus objetivos a qualificação do debate sobre o tema, a gente tentou sintetizar em um guia as informações, básicas, de forma que o jornalista possa consultar rapidamente”, aponta o antropólogo e coordenador científico da PBPD Maurício Fiore, em entrevista ao jornalista Glauco Faria na Rádio Brasil Atual.
De acordo com Fiore, trata-se de “uma espécie de porta inicial para que o jornalista se sinta amparado para fazer o seu trabalho e a partir dali até buscar outras fontes”, visto que o tratamento jornalístico do tema ainda se baseia em muitos lugares-comuns. “O estigma já começa na ideia de usuário de drogas, como se uma parte enorme da população não fosse usuária de alguma droga. As pessoas esquecem que estamos falando de substâncias psicoativas como café e álcool”, afirma.
Um dos exemplos dessa confusão conceitual pode ser visto na cobertura em relação à situação da região da capital paulista conhecida como Cracolândia. “É colocado como se o problema da vida daquelas pessoas está apenas no crack, sendo que todas as pesquisas que temos a respeito da região mostram que existe um acúmulo ali de pessoas que tiveram abuso sexual na infância, que estão vinculadas a conceitos de pobreza extrema ou romperam vínculos sociais e afetivos. Claro que o crack faz parte disso, mas você mistura tudo isso sob uma única pecha, do ‘craqueiro’, do usuário compulsivo”, explica.
“No guia, tentamos mostrar que se você voltar um olhar jornalístico para aquela região não pode diagnosticar. A pessoa está andando na Cracolândia e já se diz que é dependente de crack. É preciso ter cuidado”, destaca Fiore.