Guerra pornô: o novo sexo seguro

Por Pepe Escobar.
(Português/Español).
O início do século 21 é viciado em guerra pornô, um nobre esporte consumido por ‘batatas’ globais, digitais e de sofá [o autor se refere aos couch potatoes, os espectadores passivos do mundo]. A guerra pornô assumiu o palco na noite de 11 de setembro de 2001, quando o governo de George W. Bush lançou a “Guerra ao Terror”– que foi interpretada por muitos dos seus praticantes como uma forma sutil de legitimação do terror de estado dos Estados Unidos predominantemente contra muçulmanos.
Era também a guerra DE terror — como manifestação de terror de estado, em que o poder high tech, urbano, basicamente enfrentou a astúcia rural. Os Estados Unidos não tinham o monopólio disso; Beijing praticou esta guerra na província [muçulmana] de Xinjiang e a Rússia praticou na Chechênia.
Como a pornografia, a guerra pornô não pode existir sem se basear em uma mentira — numa representação grosseira. Mas, diferentemente da pornografia, a guerra pornô é pra valer; em vez de figurantes em filmes grosseiros e baratos, na guerra pornô as pessoas morrem de verdade — e aos montões.
A mentira para acabar com todas as mentiras no centro desta representação foi definitivamente estabelecida com o vazamento de um memorando de 2005 da Downing Street [a sede do governo britânico], no qual o chefe do serviço secreto M16 confirmou que o governo Bush queria derrubar Saddam Hussein ligando o terrorismo islâmico a armas (inexistentes) de destruição em massa. Assim, como estava no memorando, “as informações de inteligência e os fatos estão sendo ajustados em torno da política”.
No fim, George “ou conosco ou contra nós” Bush estrelou em seu próprio super-pornô — que foi tanto a invasão quanto a destruição do flanco leste da nação árabe.
A nova Guernica
O Iraque pode ser visto como o Guerra das Estrelas das guerras pornô — uma apoteose de sequências. Considerem a segunda ofensiva contra Fallujah no final de 2004. Na época eu descrevi como a nova Guernica. Também tomei a liberdade de parafrasear Jean-Paul Sartre, que escreveu sobre a guerra [do colonialismo francês] na Argélia; depois de Fallujah nunca mais dois norte-americanos poderiam se encontrar sem um cadáver entre eles. Para citar o Apocalypse Now, do Coppola, havia corpos, corpos por todo lado.
O Francisco Franco de Fallujah foi Iyad Allawi, o premier instalado no Iraque pelos Estados Unidos. Foi Allawi quem “pediu” ao Pentágono para bombardear Fallujah. Em Guernica — assim como em Fallujah — não houve distinção entre civis e guerrilheiros: valeu a lei do “Viva la muerte!”.
Comandantes dos fuzileiros navais dos Estados Unidos disseram abertamente que Fallujah era a casa do Satã. Franco negou o massacre de Guernica e culpou a população local — assim como Allawi e o Pentágono negaram qualquer morte de civis e insistiram que os “insurgentes” eram culpados.
Fallujah foi reduzida a escombros, pelo menos 200 mil residentes se tornaram refugiados e milhares de civis foram mortos, para “salvá-la” (ecos do Vietnã). Ninguém na mídia corporativa ocidental teve colhões para dizer que, de fato, Fallujah foi a Halabja norte-americana.
Quinze anos antes de Fallujah, em Halabja, Washington foi a muito entusiasmada fornecedora das armas químicas para Saddam, que as usou para matar milhares de curdos. Na época a Central de Inteligência Americana (CIA) disse que não foi Saddam, mas o Irã de Khomeini. Ainda assim, foi Saddam e foi deliberado, assim como os Estados Unidos fizeram em Fallujah.
Médicos em Fallujah identificaram corpos inchados e amarelados sem ferimentos, assim como “corpos dissolvidos”– vítimas do napalm, o coquetel de poliestireno e combustível de jato. Os moradores que conseguiram escapar denunciaram bombardeios com “gases venenosos” e “bombas estranhas que soltavam fumaça como se fosse um cogumelo… depois disso pequenos projéteis voavam deixando para trás longas colunas de fumaça. Os pedaços daquelas estranhas bombas explodiam em chamas que queimavam a pele ainda que se atirasse água sobre ela”.
É exatamente o que acontece com pessoas bombardeadas por napalm ou fósforo branco. As Nações Unidas baniram o bombardeio de civis com napalm em 1980. Os Estados Unidos são o único país do mundo que ainda usam napalm.
Fallujah também resultou num mini hit pornô; a execução sumária de um homem iraquiano ferido, sem defesa, dentro de uma mesquita, por um fuzileiro naval dos Estados Unidos. A execução, capturada em vídeo e vista por milhões no You Tube, soletrou de forma clara as regras “especiais” de engajamento. Os comandantes dos fuzileiros navais, na época, diziam a seus subordinados para “atirar em tudo o que se move e em tudo o que não se move”; para dar “dois tiros em cada corpo”; no caso de ver homens em idade de serviço militar nas ruas de Fallujah, para “derrubá-los”; e para metralhar e usar tanques contra todas as casas antes de adentrá-las.
As regras de engajamento no Iraque foram codificadas em um manual de campo de 182 páginas distribuído para cada soldado, pelo Pentágono, em outubro de 2004. Este manual de contra-insurgência enfatizava cinco regras; “proteger a população; estabelecer instituições políticas locais; reforçar o governo local; eliminar a capacidade dos insurgentes; e explorar informação obtida de fontes locais”.
Agora, de volta à realidade. A população de Fallujah não foi protegida: foi bombardeada para fora da cidade e transformada em massa de milhares de refugiados. As instituições políticas já estavam lá: a shura [espécie de conselho] de Fallujah governava a cidade. Nenhum governo local  é capaz de comandar um monte de escombros com uma população em fuga, o que dizer de “reforçar o governo”. As “capacidades dos insurgentes” não foram eliminadas; a resistência se dispersou em 22 outras cidades que estavam fora do controle da ocupação dos Estados Unidos e se espalhou na direção de Mosul, ao norte; e os norte-americanos continuaram sem informações de “fontes locais”, já que antagonizaram todos os corações e mentes.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, a maioria da população já tinha sido imunizada contra a guerra pornô. Quando surgiu o escândalo de Abu Ghraib, na primavera de 2004, eu dirigia em rodovias do Texas, visitando a Bushland. Praticamente todas as pessoas com as quais conversei a respeito atribuiram a humilhação dos prisioneiros iraquianos a “algumas maçãs podres”, ou defenderam o que aconteceu em básicas patrióticas (“precisamos dar lição em ‘terroristas’”).
Amo um homem uniformizado
Em tese, existe um mecanismo aprovado no século 21 para defender civis da guerra pornô. É o R2P — a doutrina da “responsabilidade de proteger”. É uma ideia que existe desde 2001 — na verdade, desde algumas semanas depois da guerra contra o terror ter sido declarada –, formulada pelo governo do Canadá e algumas fundações. A ideia era de que o concerto das nações tinha o “dever moral” de intervenção humanitária em casos como o de Halabja, para não mencionar o Khmer Rouge no Camboja, na metade dos anos 70, ou o genocídio em Ruanda, na metade dos anos 90.
Em 2004, uma comissão da ONU codificou a ideia — crucialmente autorizando o Conselho de Segurança a decretar “intervenção militar” apenas “como último recurso”. Então, em 2005, a Assembleia Geral das Nações Unidas endossou a resolução de apoio ao R2P e em 2006 o Conselho de Segurança passou a resolução 1674 sobre “proteção de civis em conflitos armados”; eles deveriam ser protegidos contra “genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade”.
Agora pulemos para o fim de 2008, início de 2009, quando Israel — usando jatos norte-americanos — detonou um ataque em grande escala contra a população civil da faixa de Gaza.
Olhem a reação oficial dos Estados Unidos; “Israel obviamente decidiu se proteger e ao seu povo”, disse o então presidente Bush. O Congresso dos Estados Unidos votou por 390 a 5 para reconhecer “o direito de Israel de se defender dos ataques que partem de Gaza”. O governo de Barack Obama, que estava a caminho de assumir, ficou silencioso. Apenas a futura secretária de Estado, Hillary Clinton, disse que “apoiamos o direito de defesa de Israel”.
Pelo menos 1.300 civis — inclusive mulheres e crianças — foram mortas pelo terror de estado em Gaza. Ninguém invocou a R2P. Ninguém apontou para o fracasso de Israel em sua “responsabilidade de proteger” os palestinos. Ninguém pediu uma “intervenção humanitária” tendo como alvo Israel.
A mera noção de uma superpotência — e outros poderes menores — tomar decisões de política externa baseda em questões humanitárias, como proteger pessoas sob cerco, é uma piada. Já naquela época deu para entender como a R2P seria instrumentalizada. Não se aplicava aos Estados Unidos no Iraque ou no Afeganistão. Não se aplicava a Israel na Palestina. Seria eventualmente aplicável somente a governantes “bandidos”, que não fossem “nossos bastardos” — como Muamar Gaddafi, na Líbia, em 2011. Intervenção “humanitária”, sim; mas apenas para se livrar dos “bandidos”.
E a beleza da R2P é que ela pode ser colocada de cabeça pra baixo a qualquer momento. Bush pediu a “libertação” das mulheres afegãs — especialmente das que vestiam burca — dos “diabólicos” Talibã, de fato configurando a invasão do Afeganistão como uma intervenção humanitária.
E quando as ligações falsificadas de Saddam com a al-Qaeda e com armas de destruição em massa, inexistentes, ficaram claras, Washington passou a justificar a invasão, ocupação e destruição do Iraque via… R2P; “responsabilidade de proteger” os iraquianos de Saddam e em seguida de proteger os iraquianos deles próprios.

O matador acordou antes do sol nascer
O mais recente capítulo da série de episódios da guerra pornô foi o massacre de Kandahar quando, de acordo com a versão oficial do Pentágono  (ou complô para esconder), um sargento do exército norte-americano, atirador de elite e veterano da guerra no Iraque — um assassino altamente treinado — atirou em 17 civis afegãos, inclusive em nove mulheres e quatro crianças, em dois vilarejos distantes três quilômetros um do outro, e queimou alguns dos corpos.
Como em Abu Ghraib, houve a usual onda de negativas do Pentágono — como “isso não somos nós” ou “não agimos desta forma”; sem mencionar o tsunami de reportagens da mídia corporativa dos Estados Unidos que humanizaram o herói-tornado-assassino-em-massa, como em “ele é um cara bacana, de família”. Em contraste, nem uma única palavra sobre o Outro — as vítimas afegãs. As vítimas não têm rosto; ninguém sabe o nome delas.
Uma investigação afegã séria estabeleceu que 20 soldados podem ter tido participação no massacre — como em My Lai, no Vietnã; e que incluiu o estupro de duas das mulheres. Faz sentido. A guerra pornô é uma subcultura de grupo letal — completa com assassinatos-alvo, vingança, dessecração de cadáveres, colheita de troféus (dedos e orelhas cortados), incêndio do Corão e urinar em corpos. É, essencialmente, um esporte coletivo.
Equipes de execução dos Estados Unidos deliberadamente mataram civis afegãos, a maioria adolescentes, como esporte, plantaram bombas em seus corpos e depois posaram com os cadáveres como se fossem troféus. Não foi acidente que algumas destas equipes operavam a partir de uma base perto da área do massacre de Kandahar.
E não deveríamos nos esquecer do ex-comandante dos Estados Unidos no Afeganistão, general Stanley McChrystal, que em 10 de abril de 2010 admitiu, francamente, “atiramos num número impressionante de pessoas” que não eram ameaça aos Estados Unidos ou à civilização ocidental.
O Pentágono vende a guerra do Afeganistão como vendeu a do Iraque (e mesmo, lá atrás, a do Vietnã); a ideia de que esta é uma contrainsurgência com foco na população — ou COIN — destinada a conquistar “corações e mentes” e parte de um grande esforço para construir uma nação.
É uma mentira monumental. O reforço de tropas de Obama no Afeganistão — baseado na COIN — foi um fracasso total. O que veio depois foi guerra clandestina, obscura, liderada por “equipes de matança” das Forças Especiais. Isso implica em uma inflação de ataques aéreos e noturnos. Sem mencionar a guerra de aviões não-tripulados, tanto no Afeganistão quanto nas áreas tribais do Paquistão, cujo alvo favorito são os casamentos da etnia Pashtun.
Incidentalmente, a CIA alega que desde maio de 2010, aviões não-tripulados superinteligentes mataram mais de 600 alvos humanos “cuidadosamente selecionados” — e, miraculosamente, nenhum civil.
Espere para ver este filme pornô de guerra celebrado numa orgia de produções conjuntas do Pentágono com Hollywood. Na vida real, isso é promovido por gente como John Nagl, que era da equipe do general David Petraeus no Iraque e que agora dirige o instituto pró-Pentágono Center for New American Security.
O novo macho estelar pode ser representado pelos soldados do Comando Conjunto de Operações Especiais (JSOC). Mas esta é uma produção do Pentágono, que criou, de acordo com Nagl, “uma máquina contraterrorista de matar em escala industrial”.
A realidade, no entanto, é muito mais prosaica. As técnicas da COIN, aplicadas por McChrystal, se sustentam em apenas três componentes; vigilância 24 horas baseada em aviões não-tripulados; monitoramento da telefonia celular; localização física dos telefones a partir dos sinais emitidos por eles.
Isso significa que qualquer pessoa na área sob o avião não-tripulado que estiver usando um celular pode ser definida como “terrorista” ou pelo menos como “simpatizante do terrorismo”. E então o foco dos ataques noturnos no Afeganistão passou de “alvos de alto valor” — integrantes de alto ou médio escalão da al-Qaeda e do Talibã — para qualquer pessoa acusada de ajudar o Talibã.
Em maio de 2009, antes da chegada de McChrystal, as Forças Especiais dos Estados Unidos faziam 20 ataques por mês. Em novembro, eram 90 por mês. Na primavera de 2010, eram 250 por mês. Quando McChrystal foi demitido — por causa de uma reportagem da [revista] Rolling Stone (ele estava competindo com a Lady Gaga pela capa; a Lady Gaga venceu) — e Obama o trocou por Petraeus, no verão de 2010, já eram 600 ataques por mês. Em abril de 2011 já eram mil ataques por mês.
É assim que funciona. Nem pense em usar um telefone celular em Kandahar ou outros províncias afegãs. Caso contrário, os “olhos no céu” vão te pegar. Você no mínimo será mandado para a cadeia, junto com milhares de outros civis taxados de “simpatizantes do terrorismo”; e analistas de inteligência vão usar suas informações para compilar novas listas de “matar/capturar” na rede para caçar civis.
Quanto aos “danos colaterais” civis dos ataques noturnos, eles sempre foram apresentados pelo Pentágono como “terroristas”. Exemplo; num ataque em Gardez em 12 de fevereiro de 2010, dois homens foram mortos; um promotor de justiça de um governo local e um oficial de inteligência afegão, assim como três mulheres (duas delas grávidas). Os matadores disseram ao comando conjunto Estados Unidos-OTAN em Cabul que os dois homens eram “terroristas” e que as mulheres foram encontradas amarradas e amordaçadas. E então o homem que era o alvo do ataque se apresentou dias depois para interrogatório e foi libertado sem sofrer qualquer acusação.
É apenas o começo. Assassinatos-alvo — como praticados no Afeganistão — serão a tática do Pentágono em todas as futuras guerras dos Estados Unidos.
Passe a camisinha, querida
A Líbia foi uma grande exibição da guerra pornô — completa com um toque romano de um chefe “bárbaro” derrotado, sodomizado e executado nas ruas, diretamente para o YouTube.
Isso, por sinal, é exatamente o que a secretária de Estado Hillary Clinton, numa visita-relâmpago a Trípoli, tinha anunciado 48 horas antes do fato.  Gaddafi deveria ser “capturado ou morto”. Quando ela viu a imagem na tela de seu BlackBerry ela só conseguiu reagir com o terremoto semântico de um “Uau!”.
No minuto em que a resolução da ONU impôs uma zona de exclusão aérea na Líbia usando como cobertura a R2P, foi a luz verde para a troca de regime. O plano A sempre foi capturar e matar Gaddafi — no estilo de um assassinato-alvo afegão. Esta era a política oficial do governo Obama.  Não havia plano B.
Obama disse que a morte de Gaddafi significou “a força da liderança norte-americana em todo o mundo”. Foi tão próximo de um “pegamos” (ecos da captura de Saddam pelo governo Bush) quanto se poderia esperar.
Com um bônus extra. Embora Washington tenha pago nada menos que 80% dos custos operacionais dos retardados da OTAN (grosseiramente, 2 bilhões de dólares), foi troco. Ainda assim, é estranho que tenham dito “fizemos”, já que a Casa Branca sempre disse que não era uma guerra; que era alguma coisa “cinética”. E que não tinha controle de nada.
Só os perdidamente ingênuos engoliram a propaganda dos 40 mil ataques aéreos “humanitários” da OTAN, que devastaram a infraestrutura da Líbia de volta à idade da pedra, como um Choque e Espanto em câmera lenta. Isso nada teve a ver com R2P.
Foi tão R2P quanto sexo seguro — com a “comunidade internacional” no papel de camisinha. A “comunidade internacional”, como todos sabem, é composta por Washington, alguns poucos membros da OTAN e os poderes democráticos do Golfo Pérsico, como Qatar e Emirados Árabes Unidos, mais a Casa de Saud nas sombras. A União Europeia, que até a prorrogação fazia a barra das saias de Gaddafi, rapidamente tropeçou em editorais que denunciavam o reino de 42 anos do “bufão”.
Quanto ao conceito de lei internacional, foi jogada na tubulação, tão suja quanto aquela em que Gaddafi foi encontrado. Saddam pelo menos teve um julgamento encenado num tribunal improvisado antes de enfrentar o carrasco (ele também acabou no YouTube). Osama bin Laden foi simplesmente apagado, em estilo-assassinato, depois da invasão territorial do Paquistão (sem YouTube, por isso muitos nem acreditam). O Gaddafi foi embora numa mistura de guerra aérea com assassinato. Eles são os Três Graciosos Escalpos da Guerra Pornô.
Doce emoção
A Síria é apenas mais uma narrativa da guerra pornô. Se você não pode R2P, simule.
E pensar que tudo isso foi codificado tanto tempo atrás. Já em 1997, a revista do Colégio de Guerra do Exército dos Estados Unidos definiu o que chamou de “futuro das guerras”. Foi descrito como “o conflito entre os mestres da informação e as vítimas da informação”.
Eles estavam certo de que “já somos mestres na guerra de informações… Hollywood está ‘preparando o campo de batalha’… A informação destrói empregos tradicionais e culturas tradicionais; seduz, trai e se mantém invulnerável… Nossa sofisticação no manejo da informação nos capacita a sobreviver e sobrepujar todas as culturas hierárquicas… Sociedades que temem ou que não conseguem gerenciar o fluxo de informação simplesmente não serão competitivas. Elas podem dominar a tecnologia para ver os vídeos, mas nós vamos escrever os roteiros, produzí-los e coletar os direitos autorais. Nossa criatividade é devastadora”.
Guerra de informação pós-tudo não tem relação com geopolítica. Como o proverbial produto de Hollywood, deve ser gerada a partir de emoções brutas; “ódio, inveja e cobiça — emoções em lugar de estratégias”.
Na Síria é exatamente como a mídia corporativa ocidental já escreveu o script de todo o filme; são as táticas da guerra de informação do Colégio de Guerra, na prática. O governo sírio nunca teve qualquer chance diante dos que “escrevem os roteiros, produzem e coletam os direitos autorais”.
Por exemplo, a oposição armada, os assim-chamados integrantes do Exército Livre Sírio (um coquetel impressionante de desertores, oportunistas, jihadistas e mercenários estrangeiros), levaram jornalistas ocidentais até Homs e depois insistiram em tirá-los de lá, em condições extremamente perigosas — com gente sendo morta — via Líbano, em vez de usar a ajuda da Crescente Vermelha. Era apenas a forma de escrever/impor um “corredor humanitário” até Homs. Foi teatro puro — ou guerra pornô empacotada como drama de Hollywood.
O problema é que a opinião pública ocidental agora é refém desta marca de guerra de informação. Esqueça a possibilidade de negociações pacíficas entre partes adultas. O que sobra é o roteiro binário de bons contra maus, onde o Grande Homem Mau deve ser destruído a qualquer custo (e junto com ele a esposa, puta esnobe que adora consumir!).
Só os terminalmente ingênuos para acreditar que os jihadistas — inclusive os rebeldes da OTAN na Líbia — financiados pelo Clube da Contrarrevolução do Golfo Pérsico, também conhecido como Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) são um monte de reformistas democráticos queimando em boas intenções. Mesmo a Human Rigths Watch foi forçada a admitir que estes “ativistas” armados foram responsáveis por “sequestros, detenções e tortura”, depois de receber informações sobre execuções cometidas por grupos de oposição contra civis e soldados leais ao governo sírio.
O que esta narrativa pornô (leve e pesada) esconde, no fim, é a verdadeira tragédia síria; a impossibilidade do festejado “povo sírio” de se livrar de todos estes bandidos — o sistema Assad, a Irmandade Muçulmana controlada pelo Conselho Nacional Sírio, e o Exército Livre Sírio infestado de mercenários.
Ouçam o som do caos
Este parcial catálogo de vilezas invevitavelmente nos traz até o campeão de bilheteria da guerra pornô — o psicodrama do Irã.
2012 é o novo 2002; Irã é o novo Iraque; e qualquer que seja a estrada, para usar o novo lema neocon, homens de verdade vão a Teerã via Damasco, ou diretamente a Teerã, sem escalas.
Talvez apenas sob o Ártico seríamos capazes de escapar do cortejo cacófono de direitistas norte-americanos — e seus cães amestrados europeus — que salivam sangue e distribuem seu festival de falácias como “o Irã quer eliminar Israel do mapa”, “já deu de diplomacia”, “as sanções já deram o que tinham de dar”, ou “o Irã dentro de um ano, de seis meses, de uma semana, de um dia ou de um minuto vai montar sua bomba”.
Naturalmente estes cães de guerra nunca se importariam em acompanhar o que a Agência Internacional de Energia Atômica está fazendo, sem mencionar a Estimativa Nacional de Inteligência divulgada pelas 17 agências de inteligência dos Estados Unidos.
Porque, em grande medida, eles estão “escrevendo os roteiros, produzindo e coletando os direitos autorais” nos termos da mídia corporativa, eles podem sair ilesos de uma impressionante e tóxica fusão de arrogância e ignorância — sobre o Oriente Médio, a cultura persa, a questão nuclear, a indústria petrolífera, a economia global, sobre “o Resto” comparado com “o Ocidente”.
Assim como no Iraque em 2002, o Irã é sempre desumanizado. A “narrativa” insistente, totalmente histérica e fomentadora do medo, de “devemos bombardear agora ou depois”, é sempre sobre as tão inteligentes bombas destruidoras de bunkers e mísseis precisos, que vão inflingir devastação superlimpa em grande escala sem produzir um só “dano colateral”. Como sexo seguro.
E mesmo quando uma voz do establishment como o New York Times admite que nem a inteligência dos Estados Unidos, nem a de Israel acredita que o Irã decidiu construir uma bomba (uma criança de 5 anos poderia chegar à mesma conclusão), a histeria continua intergalática.
Enquanto isso, enquanto se prepara — “todas as opções estão na mesa”, Obama não cansa de repetir — para outra guerra no que já chamou de “arco de instabilidade”,  o Pentágono encontrou tempo para reempacotar a guerra pornô. Levou apenas 60 segundos, num vídeo que agora está no YouTube, chamado Em Direção ao Som do Caos (Toward the Sound of Chaos), divulgado dias depois do massacre de Kandahar. Note qual é o público-alvo: o grande mercado dos pobres, desempregados e politicamente ingênuos jovens norte-americanos.
Ouçam o que diz a voz no mini-filme: “Onde o caos ameaça, os Poucos emergem. Fuzileiros navais se movem em direção aos sons da tirania, da injustiça e do desespero — com a coragem e a determinação para silenciá-los. Ao acabar com os conflitos, instalar a ordem e ajudar aqueles que não conseguem se ajudar, os fuzileiros navais enfrentam as ameaças de nosso tempo”.
Talvez, neste universo orwelliano, deveríamos pedir aos afegãos mortos, nos quais os fuzileiros navais urinaram, ou aos milhares de mortos em Fallujah, que fizessem uma resenha do filme. Bem, homens mortos não escrevem. Talvez pudessemos pensar no dia em que a OTAN vai instalar uma zona de exclusão aérea sobre a Arábia Saudita para proteger os xiitas das províncias do leste, enquanto os aviões não-tripulados do Pentágono disparam mísseis Hellfire contra os milhares de príncipes da Casa de Saud, arrogantes, medievais e corruptos. Não, não vai acontecer.
Mais de uma década depois do início da guerra contra o terror, é a isso o que o mundo chegou: uma audiência virtualmente mundial de preguiçosos, exaustos, atordoados, conduzidos de distração em distração, impotentemente viciados na desprezível atrocidade das guerras pornô.
Tradução: Luiz Carlos Azenha.

Pornografía bélica: el nuevo sexo seguro

Por Pepe Escobar.

Versión muy abreviada de una conferencia en el XII Seminario de Solidaridad Política en la Universidad de Zaragoza, España, 27 de marzo de 2012.

Los principios del Siglo XXI son adictos a la pornografía bélica, el principal espectáculo deportivo consumido por el sillón global y las patatas digitales. La pornografía bélica se robó el centro de atención en la noche del 11 de septiembre de 2001, cuando el gobierno de Bush lanzó la Guerra Global contra el Terror (GWOT, por sus siglas en inglés), que fue interpretada por muchos de sus practicantes como una sutil legitimización del terror estatal de EE.UU. en particular contra los musulmanes.

También fue una guerra DE terror, una manifestación de terror estatal oponiendo el poder urbano de alta tecnología básicamente contra la astucia rural, de baja tecnología. EE.UU., por cierto, no ejerció ese monopolio; Pekín lo practicó en Xinjiang, su Lejano Oeste, y Rusia en Chechenia.

Como la pornografía convencional, la pornografía bélica no puede existir sin basarse en una mentira, una representación obscena. Pero a diferencia de la pornografía convencional, la bélica es auténtica; a diferencia de obscenas, baratas películas snuff, la gente en la pornografía bélica, muere realmente, en masa.

La mentira para rematar todas las mentiras en el centro de esta representación se estableció definitivamente con la filtración del memorando Downing Street de 2005, en el cual el jefe del MI6 británico confirmó que el gobierno de Bush quería eliminar a Sadam Hussein relacionando el terrorismo islámico con armas de destrucción masiva (inexistentes). Por lo tanto, como decía el memorando: “la información y los hechos se están amañando en torno a esa política”.

A fin de cuentas, George “estás con nosotros o contra nosotros” Bush fue la estrella de su propia snuff de proporciones históricas, que también al mismo tiempo tuvo la doble función de ser la invasión y destrucción del flanco oriental de la nación árabe.

 

La nueva Guernica

Irak se puede ver ciertamente como la Guerra de las Galaxias de la pornografía bélica, una apoteosis de secuelas. Por ejemplo la (segunda) ofensiva de Faluya a finales de 2004. Entonces la describí como la nueva Guernica. También me tomé la libertad de parafrasear los escritos de Sartre sobre la Guerra de Argelia; después de Faluya basta con que se reúnan dos estadounidenses para que haya entre ellos un cadáver. Citando Apocalipsis Ya, de Coppola, había cuerpos, cuerpos por doquier.

El Francisco Franco de Faluya fue Iyad Allawi, el primer ministro interino instalado por EE.UU. Fue Allawi el que “pidió” al Pentágono que bombardeara Faluya. En Guernica, como en Faluya, no hubo distinción entre civiles y combatientes: fue la regla de “¡Viva la muerte!”.

Los mandos de los marines estadounidenses dijeron oficialmente que Faluya era la casa de Satán. Franco negó la masacre de Guernica y culpó a la población local, tal como Allawi y el Pentágono negaron las muertes de civiles e insistieron en que los culpables eran los “insurgentes”.

Redujeron Faluya a escombros, por lo menos 200.000 residentes se convirtieron en refugiados y mataron a miles de civiles con el fin de “salvarla” (ecos de Vietnam). Por cierto, en los medios corporativos occidentales nadie tuvo la valentía de decir que en realidad Faluya fue el Halabja estadounidense.

Quince años antes de Faluya, en Halabja, Washington era un proveedor entusiasta de armas químicas a Sadam Hussein, quien las utilizó para matar con gas a miles de kurdos. Entonces la CIA dijo que no fue Sadam; fue el Irán de Jomeini. Pero fue Sadam el que lo hizo, y deliberadamente, como EE.UU. en Faluya.

Los doctores de Faluya identificaron cadáveres hinchados y amarillentos sin ninguna herida, así como “cuerpos fundidos”, víctimas del napalm, el cóctel de poliestireno y combustible jet. Los residentes que lograron escapar hablaron de “gases venenosos” y “extrañas bombas que producían humo como nubes en forma de hongos… y que luego pequeños trozos caían del aire con largas colas de humo. Los trozos de esas extrañas bombas estallaban en grandes fuegos que queman la piel incluso cuando les arrojas agua”.

Es exactamente lo que sucede a la gente bombardeada con napalm o fósforo blanco. La ONU prohibió bombardear a los civiles con napalm en 1980. EE.UU. es el único país del mundo que sigue utilizando napalm.

Faluya también suministró un éxito de mini snuff; la ejecución sumaria de un iraquí herido e indefenso en una mezquita por un marine estadounidense. La ejecución, filmada y vista por millones en YouTube, representó gráficamente las reglas “especiales” de enfrentamiento. Los mandos de los marines estadounidenses de la época decían a sus soldados que “dispararan contra todo lo que se mueve y todo lo que no se mueve”; que dispararan “dos balas en cada cuerpo”; si veían a cualquier hombre de edad militar en las calles de Faluya, que “le derribaran” y que rociaran todas las casas con fuego de ametralladoras y de tanques antes de entrar en ellas.

Las reglas de enfrentamiento en Irak se codificaron en un manual de campo de 182 páginas distribuido a todos y cada uno de los soldados y publicado en octubre de 2004 por el Pentágono. Este manual de contrainsurgencia subrayó cinco reglas: “proteger a la población; establecer instituciones políticas locales; reforzar gobiernos locales; eliminar capacidades insurgentes y explotar información de fuentes locales”.

Ahora, de vuelta a la realidad. No se protegió a la población de Faluya; la expulsaron de la ciudad a fuerza de bombas y la convirtieron en una masa de miles de refugiados. Las instituciones políticas ya estaban establecidas: la Shura de Faluya dirigía la ciudad. Posiblemente ningún gobierno local puede gobernar un montón de escombros que tienen que recuperar ciudadanos enfurecidos, por no hablar de “reforzarlo”. Las “capacidades insurgentes” no se eliminaron; la resistencia se dispersó por otras 22 ciudades fuera del control de la ocupación estadounidense y se propagó al norte hasta llegar a Mosul; y los estadounidenses se quedaron sin información “de fuentes locales”, porque convirtieron en enemigos a todo corazón y mente posibles.

Mientras tanto, en EE.UU., la mayor parte de la población ya era inmune a la pornografía bélica. Cuando estalló el escándalo de Abu Ghraib, en la primavera de 2004, yo iba conduciendo por Texas, explorando Bushlandia. Prácticamente todas las personas con las que hable atribuían la humillación de los prisioneros iraquíes a “unas pocas manzanas podridas”, o la defendían por motivos patrióticos (“tenemos que impartir una lección a los ‘terroristas’”).

 

Adoro a un hombre en uniforme

Teóricamente, existe un mecanismo aprobado en el Siglo XXI para defender a los civiles de la pornografía bélica. Es la doctrina R2P “responsabilidad de proteger”. Se trata de una idea del gobierno canadiense y algunas fundaciones que ya circuló en 2001, pocas semanas después de que se lanzara la guerra contra el terror. La idea era que el concierto de las naciones tenía un “deber moral” de desplegar una intervención humanitaria en casos como Halabja, por no hablar de los Jemeres Rojos en Camboya a mediados de los años setenta o el genocidio de Ruanda a mediados de los noventa.

En 2004, un panel en la ONU codificó la idea, crucialmente con el pensamiento de que el Consejo de Seguridad pueda autorizar una “intervención militar” solo “como último recurso”. Entonces, en 2005, la Asamblea General de la ONU apoyó una resolución a favor de R2P y en 2006 el Consejo de Seguridad de la ONU aprobó la resolución 1674 sobre “la protección de civiles en un conflicto armado”; debían ser protegidos contra “genocidio, crímenes de guerra, limpieza étnica y crímenes contra la humanidad”.

Ahora aceleremos hasta fines de 2008, comienzos de 2009, cuando Israel –utilizando aviones caza estadounidenses para crear un verdadero infierno– desencadenó un ataque en gran escala contra la población civil de la Franja de Gaza.

¿Y la reacción oficial en EE.UU.?: “Obviamente Israel decidió protegerse y proteger a su pueblo”, dijo el presidente Bush. El Congreso de EE.UU. votó con abrumadores 390 contra 5 votos por reconocer “el derecho de Israel a defenderse de los ataques de Gaza”. El gobierno entrante de Obama guardó un estruendoso silencio. Solo la futura secretaria de Estado, Hillary Clinton, dijo: “apoyamos el derecho de Israel a la autodefensa”.

Por lo menos 1.300 civiles –incluidos numerosas mujeres y niños– fueron asesinados por el terrorismo de Estado en Gaza. Nadie invocó la R2P. Nadie apuntó a que Israel no cumplió con su “responsabilidad de proteger” a los palestinos. Nadie pidió una “intervención humanitaria” frente a Israel.

La simple noción de que una superpotencia –y otras potencias menores– tomen sus decisiones de política exterior con base en motivos humanitarios, como proteger a gente sitiada, es un chiste absoluto. Por lo tanto ya entonces aprendimos cómo se implementaría la R2P. No se aplicaba a EE.UU. en Irak o Afganistán. No se aplicaba a Israel en Palestina. Finalmente se aplicaría solo para entrampar a gobernantes “canallas” que no fueran “nuestros hijueputas”, como en el caso de Gadafi en Libia en 2011. Intervención “humanitaria” sí; pero solo para librarse de los “malos”. Y la belleza de R2P era que se podía aplicar al revés en todo momento. Bush llamó a “liberar” a los afganos que sufrían, especialmente a las mujeres vestidas con burkas, de los “malvados” talibanes, configurando en realidad la invasión de Afganistán como una intervención humanitaria. Y cuando se desenmascararon las afirmaciones engañosas sobre los vínculos entre al Qaida y las inexistentes armas de destrucción masiva, Washington comenzó a justificar la invasión, ocupación y destrucción de Irak mediante… R2P: “responsabilidad” de proteger a los iraquíes frente a Sadam y luego frente a sí mismos.

El asesino despertó al alba

El episodio más reciente de la serie de la pornografía bélica es la masacre de Kandahar cuando, según la versión (o encubrimiento) oficial del Pentágono un sargento del ejército estadounidense, francotirador y veterano de la guerra de Irak –un asesino altamente calificado– mató a tiros a 17 civiles afganos, incluidas nueve mujeres y cuatro niños, en dos aldeas a tres kilómetros de distancia, y quemó algunos de sus cuerpos.

Como en el caso de Abu Ghraib, hubo el acostumbrado torrente de desmentidos del Pentágono, como “no somos nosotros” o “no hacemos las cosas de esa manera”; para no mencionar un tsunami de historias en los medios corporativos estadounidenses humanizando al héroe-convertido-en-asesino masivo, como en “es un muchacho tan bueno, un hombre de familia”. Al contrario, ni una sola palabra sobre Los Otros, las víctimas afganas. No son personas; y nadie conoce sus nombres.

Una –seria– investigación afgana estableció que unos veinte soldados pudieron participar en la masacre, como en My Lai en Vietnam; y eso incluyó la violación de dos de las mujeres. Tiene sentido. La pornografía bélica es una subcultura letal y de grupo, junto con asesinatos selectivos, muertes por revancha, profanación de cuerpos, recolección de trofeos (dedos u orejas cortados), quema de Coranes y orinar sobre cadáveres. Esencialmente es un deporte colectivo.

“Equipos de asesinato” estadounidenses han ejecutado deliberadamente al azar a civiles afganos inocentes, sobre todo adolescentes, por deporte, colocaron las armas sobre sus cuerpos y luego posaron con sus cadáveres como trofeos. No es por accidente que hayan estado operando desde una base en la misma área de la masacre de Kandahar.

Y no debemos olvidar al antiguo máximo comandante de EE.UU. en Afganistán, el general Stanley McChrystal, quien el 10 de abril de 2010 admitió, brutalmente: “Hemos matado a una cantidad increíble de personas” que NO constituían una amenaza para EE.UU. o la civilización occidental.

El Pentágono sesga y publicita en Afganistán lo que ya mercadeó en Irak (e incluso mucho antes en Vietnam, en realidad); la idea es que se trata de una “contrainsurgencia centrada en la población”, o COIN, para “ganar corazones y mentes”, y que forma parte de un gran proyecto de construcción de una nación. Es una mentira monumental. La ‘oleada’ de Obama en Afganistán –basada en COIN– fue un fracaso total. Lo que la reemplazó fue una guerra dura, encubierta, tenebrosa, dirigida por “equipos de asesinato” de las Fuerzas Especiales. Eso implica una inflación de ataques aéreos e incursiones nocturnas. Para no hablar de ataques de aviones no tripulados, tanto en Afganistán como en las áreas tribales de Pakistán, cuyos objetivos preferidos parecen que son las bodas pastunas. A propósito, la CIA afirma que desde mayo de 2010, los aviones sin tripulación ultra-inteligentes han matado a más de 600 objetivos humanos “cuidadosamente seleccionados” y, milagrosamente, ni a un solo civil.

 

Pronto veréis este gran espectáculo de pornografía bélica celebrado en una orgía de próximos éxitos conjuntos del Pentágono y Hollywood. En la vida real, es amañado por gente como John Nagl, quien estuvo en el equipo del general David Petraeus en Irak y ahora dirige el think tank pro Pentágono Centro para la Nueva Seguridad Estadounidense.

Los nuevos súper machos estelares podrían ser los oficiales del Comando Conjunto de Operaciones Especiales (JSOC). Pero se trata de una producción del Pentágono, que ha creado, según Nagl, “una máquina letal de contraterrorismo de dimensión industrial”. La realidad, sin embargo, es mucho más prosaica. Las técnicas de COIN, aplicadas por McChrystal, se basaban en solo tres componentes: vigilancia permanente por parte de aviones sin tripulación (drones); monitoreo de teléfonos móviles y localización de la ubicación física de los teléfonos por sus señales. Eso implica que cualquiera en un área vigilada por drones que utilice un teléfono celular era identificado como “terrorista”, o por lo menos como “simpatizante terrorista”. Y entonces el enfoque de las incursiones nocturnas en Afganistán pasó de “objetivos de alto valor” –miembros de alto nivel y mediano nivel de al Qaida y talibanes– a cualquiera marcado como colaborador de los talibanes.

En mayo de 2009, antes de la llegada de McChrystal, las Fuerzas Especiales de EE.UU. realizaban 20 incursiones mensuales. En noviembre eran 90 al mes. Al llegar la primavera de 2010, eran 250. Cuando despidieron a McChrystal –por un artículo en Rolling Stone (compitió con Lady Gaga por la portada y ganó Lady Gaga)– y Obama lo sustituyó por el general David Petraeus en el verano de 2010, eran 600 incursiones mensuales. En abril de 2011, llegaron a más de 1.000 al mes.

Así funcionan las cosas. No se te ocurra utilizar un teléfono celular en Kandahar y otras provincias afganas. De otra manera, los “ojos del cielo” acabarán contigo. En el mejor de los casos te enviarán a la cárcel, junto con otros miles de civiles marcados como “simpatizantes de terroristas”, y los analistas de los servicios de inteligencia utilizarán tus datos para compilar su “lista de muerte/captura” y capturarán aún más civiles.

En cuanto a los “daños colaterales” civiles de las incursiones nocturnas, siempre fueron presentado por el Pentágono como “terroristas”. Ejemplo: en una incursión en Gardez el 12 de febrero de 2010, mataron a dos hombres: un fiscal local del gobierno y un funcionario de los servicios de inteligencia afganos. Así como a tres mujeres (dos de ellas embarazadas). Los asesinos dijeron al comando de EE.UU./OTAN de Kabul que los dos hombres eran “terroristas” y que las mujeres habían sido halladas amordazadas y atadas. Luego el auténtico objetivo del asalto se entregó para que le interrogaran unos días después y le dejaron en libertad sin acusación alguna.

Y es solo el comienzo. El asesinato selectivo –tal como se practica en Afganistán– será la táctica preferida del Pentágono en todas las guerras futuras.

 

Pásame el condón, querido

Libia fue una importante exhibición de pornografía bélica completa con un ingenioso toque romano del derrotado jefe “bárbaro” sodomizado en las calles y luego ejecutado, directamente en YouTube.

Esto, a propósito, es exactamente lo que la secretaria de Estado de EE.UU., Hillary Clinton, en una visita relámpago a Trípoli, había anunciado menos de 48 horas antes del hecho. Había que “capturar o matar” a Gadafi. Cuando lo vio en la pantalla de su BlackBerry solo pudo reaccionar con el terremoto semántico “¡Wuau!”

Desde el instante en que una resolución de la ONU impuso una zona de exclusión aérea sobre Libia bajo la cobertura de R2P, se convirtió en una tarjeta verde para el cambio de régimen. El Plan A fue siempre capturar y matar a Gadafi, como en un asesinato selectivo al estilo afgano. Era la política oficial del gobierno de Barack Obama. No había un Plan B.

Obama dijo que la muerte de Gadafi significaba “la fuerza del liderazgo estadounidense en todo el mundo”. Fue tan parecido al “¡lo capturamos!” (ecos de Sadam capturado por el gobierno de Bush) como se podría imaginar.

Con una bonificación adicional. A pesar de que Washington pagó por lo menos un 80% de los costes operativos de esos tontos de capirote de la OTAN (unos 2.000 millones de dólares), era solo dinero de bolsillo. En todo caso, todavía era bochornoso “¡Lo hicimos!”, porque la Casa Blanca siempre dijo que no era una guerra, era algo “cinético”. Y no estaba al cargo.

Solo los ingenuos absolutos pueden haberse tragado la propaganda de las más de 40.000 bombas “humanitarias” que devastaron la infraestructura de Libia hasta devolverla a la Edad de Piedra como en una “Comoción y Pavor” a cámara lenta. Eso nunca tuvo nada que ver con R2P.

Fue tan R2P como el sexo seguro, y la “comunidad internacional” fue el condón. La “comunidad internacional”, como todos saben, está compuesta por Washington, unos pocos miembros arrastrados por la corriente de la OTAN y las democráticas potencias del Golfo Pérsico de Qatar, y los Emiratos Árabes Unidos (EAU), más la Casa de Saud en la sombra. La UE, que poco antes acariciaba el borde de las túnicas de Gadafi, no tardó en excederse con los editoriales sobre los 42 años de reinado de un “bufón”.

En cuando al concepto del derecho internacional, quedó tirado en una alcantarilla tan sucia como aquella en la que se ocultó Gadafi. Sadam por lo menos tuvo un juicio amañado en un tribunal ilegítimo antes de enfrentarse al verdugo (también terminó en YouTube). A Osama bin Laden simplemente lo eliminaron, como en un asesinato, después de una invasión territorial de Pakistán (sin YouTube, de modo que muchos no lo creen). Gadafi lo superó, eliminado en una mezcla de guerra aérea y asesinato. Son las Tres Agraciadas Cabelleras de la Pornografía Bélica.

Dulce emoción

Siria es una declinación más de la narrativa de la pornografía bélica. Si no puedes emprender R2P, invéntala.

Y pensar que todo esto se codificó hace tanto tiempo. Ya en 1997, el War College Quarterly del Ejército de EE.UU. definió lo que llamó “el futuro de la guerra”. Lo describió como “el conflicto entre los maestros de la información y sus víctimas”.

Estaban seguros de que “ya somos los maestros de la guerra de la información…. Hollywood ‘prepara el campo de batalla’… La información destruye las tareas tradicionales y las culturas tradicionales; seduce, traiciona, pero sigue siendo invulnerable… Nuestra sofisticación en su manejo nos permitirá sobrevivir y funcionar mejor que todas las culturas jerárquicas… Las sociedades que temen o que no pueden administrar el flujo de información simplemente no serán competitivas. Podrán dominar los medios tecnológicos para ver los vídeos, pero nosotros escribiremos los guiones, los produciremos y cobraremos los royalties. Nuestra creatividad es devastadora”.

La guerra de la información que va más allá de todo, no tiene nada que ver con la geopolítica. Como el proverbial producto de Hollywood, tiene que ser “engendrada” de emociones en carne viva: “odio, celos y codicia, emociones, en lugar de estrategia”.

En Siria es exactamente el guión que han seguido los medios corporativos occidentales en toda la película; la tácticas de la “guerra de la información” de War College aplicadas a la práctica. El gobierno sirio nunca tuvo muchas posibilidades contra los que “escriben los guiones, los producen y cobran los royalties”.

Por ejemplo, la oposición armada, el denominado Ejército Libre Sirio (un desagradable cóctel de desertores, oportunistas, yihadistas y mercenarios extranjeros) llevó a los periodistas occidentales a Homs y luego insistió en extraerlos, en condiciones extremadamente peligrosas y con muertos a través del Líbano, en lugar de hacerlo mediante la Medialuna Roja. No estaban haciendo otra cosa que escribir el guión para que se abriera un “corredor humanitario” a Homs, impuesto desde el extranjero. Fue puro teatro, o pornografía bélica presentada como un drama hollywoodense.

El problema es que la opinión pública occidental depende ahora de este tipo de guerra de la información. Olvidad incluso la posibilidad de negociaciones de paz entre partes adultas. Lo que quedan son los binarios buenos contra la intriga de los muy malos, en la que hay que destruir al Gran Sujeto Malo a cualquier precio (¡y para colmo su esposa es una perra snob a la que le gusta ir de compras!)

Solo los ingenuos terminales pueden llegar a creer que los yihadistas –incluidos los rebeldes de la OTAN de Libia– financiados por el Club Contrarrevolucionario del Golfo, también conocido como Consejo de Cooperación del Golfo (CCG) sean un montón de reformistas democráticos ardientes de buenas intenciones. Hasta Human Rights Watch se vio finalmente obligado a reconocer que esos “activistas” armados fueron responsables por “secuestros, detención y tortura”, después de recibir informes sobre “ejecuciones de miembros de las fuerzas de seguridad y civiles por parte de grupos armados de oposición”.

Lo que oculta finalmente esta narrativa de pornografía bélica (blanda y dura), es la verdadera tragedia siria: la imposibilidad de que el tan alabado “pueblo sirio” pueda librarse de todos esos pillos, el régimen de Asad, el Consejo Nacional Sirio controlado por la Hermandad Musulmana y el Ejército Libre Sirio infestado de mercenarios.

Escuchad el sonido del caos

Este catálogo –muy parcial– de aflicciones nos lleva inevitablemente al actual exitazo supremo de la pornografía bélica, el psicodrama iraní.

2012 es el nuevo 2002; Irán es el nuevo Irak, y sea cual sea la carretera, para evocar la nueva consigna neoconservadora, los hombres de verdad van a Teherán vía Damasco, o los hombres de verdad van a Teherán non-stop.

Es posible que solo bajo el agua del Ártico podamos escapar del cortejo cacofónico de los derechistas estadounidenses –y sus respectivos perros falderos europeos– salivando por sangre y desplegando el festival usual de falacias como “Irán quiere borrar a Israel del mapa”, “la diplomacia ha llegado al final”, “las sanciones son demasiado tardías”, o “Irán está a un año, 6 meses, una semana, un día, o un minuto de construir una bomba”. Por cierto esos perros de guerra no se preocuparían jamás de seguir lo que hace realmente el Organismo Internacional de Energía Atómica (OIEA), sin hablar de los Estudios Nacionales de Inteligencia publicados por las 17 agencias de inteligencia de EE.UU.

Porque ellos, en gran medida, “escriben los guiones, los producen y cobran los royalties” en términos de medios corporativos, pueden salirse con la suya con una fusión sorprendentemente tóxica de arrogancia e ignorancia, sobre Medio Oriente, sobre la cultura persa, sobre la integración asiática, sobre el problema nuclear, sobre la industria petrolera, sobre la economía global, sobre “el Resto” en comparación con “Occidente”.

Como en el caso de Irak en 2002, permanentemente se deshumaniza a Irán. La incesante, totalmente histérica, “narrativa” para inducir al miedo de “debemos bombardear ahora o debemos bombardear más tarde” siembre trata de bombas ¡oh tan inteligentes! revienta búnkeres y misiles de precisión que realizarán un trabajo ultra limpio de devastación a gran escala sin producir un solo “daño colateral”. Exactamente como el sexo seguro.

E incluso cuando la voz del propio establishment –el New York Times – admite que ni la inteligencia estadounidense ni la israelí creen que Irán haya decidido construir una bomba (un niño de 5 años podría llegar a la misma conclusión), la histeria sigue siendo inter-galáctica.

Por lo pronto, mientras se prepara -“todas las opciones están sobre la mesa” sigue repitiendo el propio Obama– para una guerra más en lo que solía denominarse “arco de inestabilidad”, el Pentágono también encontró el tiempo necesario para rediseñar la pornografía bélica. Solo requirió un vídeo de 60 segundos que ahora está en YouTube, titulado Toward the Sound of Chaos [Hacia el sonido del caos], presentado solo unos días después de la masacre de Kandahar. Basta con considerar su audiencia objetiva clave, el inmenso mercado de pobres, desocupados y políticamente muy ingenuos jóvenes estadounidenses.

Escuchemos la sobregrabación de la minicinta:

“Donde emerge el caos, emergen los Pocos. Los marines se mueven hacia los sonidos de la tiranía, la injusticia y la desesperación con el coraje y la resolución de silenciarlos. Al terminar el conflicto, imponer el orden y ayudar a los que no se pueden ayudar ellos mismos, los marines enfrentan las amenazas de nuestros tiempos”.

Tal vez, en este universo orwelliano, deberíamos pedir a los afganos muertos sobre los que orinaron los marines de EE.UU., o a los miles de muertos en Faluya, que escribieran una reseña de la película. Bueno, los muertos no escriben. Tal vez podamos pensar en el día en el que la OTAN imponga una zona de exclusión aérea sobre Arabia Saudí para proteger a los chiíes en la provincia oriental, mientras los drones del Pentágono lanzan una alfombra de misiles Hellfire sobre esos miles de arrogantes, medievales, corruptos, príncipes de la Casa de Saud. No, no sucederá.

Más de una década después del comienzo de la guerra contra el terror, el mundo se presenta como sigue: una audiencia perezosa, virtualmente mundial, hastiada, deslumbrada y entretenida de distracción en distracción, impotentemente adicta a la deshonrosa exhibición de atrocidades de la pornografía bélica.

Traducido del inglés para Rebelión por Germán Leyens.

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