O ex-ditador guatemalteco Efraín Ríos Montt foi condenado nesta sexta-feira (10/05) a 50 anos de prisão por genocídio, após ordenar nos anos 80 violações, torturas e incêndios cometidos por soldados contra indígenas Ixil. É a primeira vez que o judiciário submete um ex-mandatário local a um processo desse tipo. O Diretor de Inteligência, José Maurício Sanchéz, no entanto, foi absolvido e não ficou comprovado de que ele teve qualquer responsabilidade nas mortes.
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Ríos Montt durante julgamento na Cidade da Guatemala. Ele foi condenado a 50 anos de prisão por genocídio contra indígenas Ixil
Centenas de familiares de vítimas e sobreviventes Ixil, além de representantes de organizações de direitos humanos, foram ao tribunal testemunhar o julgamento histórico e aplaudiram a sentença. De acordo com o site espanhol Periodismo Humano, as pessoas presentes gritaram “justiça!” assim que a sentença foi anunciada.
Por alguns minutos o ex-ditador ficou retido na sala pela juiza Yasmin Barrios, pela falta de polícias que o levassem à prisão para começar a cumprir a pena. O tribunal penal da Guatemala revogou o benefício da prisão domiciliar ao ex-ditador. Logo após o anúncio, advogados de Ríos Montt tentaram sair com o cliente por uma das portas do local.
Os promotores do caso pediam 75 anos de prisão a Ríos Montt, que governou por um curto, mas violento período de tempo. Cerca de 100 pessoas testemunharam no julgamento – que foi suspenso no final de abril – e contaram histórias de horror do assassinato em massa contra homens, mulheres e crianças por soldados, especialmente no início de 1980. O militar, de 86 anos, declarou-se inocente, argumentando que não ordenou genocídio contra qualquer grupo na Guatemala, onde a maioria da população é indígena.
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Indígenas Ixil acompanham julgamento do ex-ditador guatemalteco Efraín Rios Montt, condenado a 50 anos de prisão
“Diante de massacres, torturas, violação e translado de crianças, estamos totalmente convencidos da intenção de acabar com o grupo indígena Ixil”, afirmou Barrios antes de pronunciar a sentença.”O então chefe de Estado e do comando militar do Exército da Guatemala, Efraín Ríos Montt, tinha ciência de tudo o que acontecia e do planejamento das ações. Ele teve conhecimento de tudo que estava acontecendo e não impediu. Seria ilógico pensar que o chefe de estado desconhecesse o que estava acontecendo nas aldeias”, continuou.
Ríos Montt governou a Guatemala em um período particularmente sangrento na longa guerra civil do país centro-americano. Durante décadas, ele se beneficiou de uma lei que concedia imunidade a ocupantes de cargos públicos. Assim que deixou o Congresso, em 2012, a Justiça determinou que o ex-ditador fosse levado a julgamento por causa dos indícios relacionados à morte de mais de 1.700 indígenas num plano contra a insurgência que foi executado sob suas ordens. Estima-se que 200 mil civis tenham morrido na guerra civil guatemalteca (1960-96), que deixou também 45 mil desaparecidos.
Fonte: Ópera Mundi