Por Bruna Andrade.
“Divulgar deputados custa o mesmo que 1,9 mil moradias”, essa foi a manchete que estampou a capa de Zero Hora na segunda-feira. A chamada é para uma reportagem que faz parte de uma série que pretende “mostrar como os deputados federais gastam o dinheiro público”.
Já na primeira reportagem da série é possível perceber o caráter de tentativa de deslegitimação da classe política, prática recorrente da grande mídia. Nela Zero Hora apresenta os valores gastos pelos deputados com a divulgação de seus mandatos fazendo uma comparação com a quantidade de casas, cisternas e quilômetros de rodovias que poderiam ser construídos com esse montante sem, evidentemente, falar sobre a importância desses gastos. É possível, é claro, que alguns dos 574 deputados que gastaram R$ 78.130.813,01 em dois anos e oito meses estejam, de fato, fazendo uso incorreto desse dinheiro, inclusive são apresentados indícios de superfaturamento de notas por dois deputados do Rio de Janeiro. No entanto, em nenhum momento o jornal se preocupa em falar que os deputados têm acesso a essas verbas para que possam prestar contas à sociedade e, principalmente, aos seus domicílios eleitorais sobre a sua atuação em Brasília. Preocupa-se, apenas, em apresentar os gastos como excessivos.
O discurso criminalizante da política não se apresenta por acaso, tem o claro objetivo de incitar a apatia e a antipatia do povo à política, o que só interessa às classes dominantes, às elites das quais fazem parte as onze famílias que dominam o espectro comunicacional do Brasil. E, por falar em interesses, Zero Hora não fala nos seus interesses e do Grupo RBS sobre as verbas publicitárias. Quanto dos R$ 3.975.333,20 gastos pelos parlamentares gaúchos nesse período receberam os veículos da família Sirotsky? De fato não sabemos quantas dessas 1.953 “casas” foram para a RBS, mas existem outras de que temos conhecimento.
O Jornalismo B teve acesso aos dados das despesas com publicidade do Governo do Estado do Rio Grande do Sul em 2012. O total gasto foi de R$ 64.736.853,55, dos quais, R$ 16.694.324,03 foram para veículos do Grupo RBS, lembrando, somente no ano de 2012. E esse número pode ser ainda maior, já que consideramos apenas 8 das 24 rádios do grupo.
Se formos comparar com a verba despendida em publicidade pela Câmara dos Deputados no mesmo período, R$ 30.777.227,57, veremos que uma única empresa recebeu do Governo do Estado mais da metade desse valor. Para usarmos o mesmo exemplo de Zero Hora, se 574 deputados gastaram ao equivalente a 1.953 casas em 32 meses, a RBS recebeu 417 em apenas 12. A reportagem condena o gasto médio mensal por deputado de R$ 4.253,64; mas não parece se incomodar em receber, na esfera do Executivo estadual, a média mensal de R$ 1.391.193,67. Se dividirmos ainda esse valor pela quantidade de deputados, seria como se o Grupo recebesse, de cada um, a quantia de R$ 2.423,68 por mês, mais da metade da média mensal dos parlamentares. Nenhum desses dados, obviamente, um dia foi condenado pelo veículo ou sequer apareceu em Zero Hora.
Fonte: Jornalismo Mob.