Por Claudia Weinman, para Desacato. info.
“Quatro empresas controlam a compra da produção agrícola no mundo, a própria ONU indicou isso como um dos problemas da crise alimentar internacional. E são cinco ou seis empresas que controlam mais de 90% da produção de sementes e insumos agrícolas, por isso precisamos garantir o estudo e a formação de novas experiências”. – Tairi Felipe Zambenedetti.
Por meio do projeto “Resistência da Mãe Terra”, o coletivo da Pastoral da Juventude Rural (PJR), Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Extremo-oeste de Santa Catarina, estão realizando um estudo sobre as práticas agroecológicas para a implantação de um sistema agroflorestal na região, sendo essa, uma primeira experiência que reúne jovens camponeses/as e também juventude urbana.
No dia 28 de outubro aconteceu um primeiro encontro desse coletivo onde foi feita a explanação sobre o projeto que deve ser executado durante um ano com formações, viagem para uma área que já possui agrofloresta em funcionamento além da efetivação dessa experiência em alguma área da região. Conforme Tayson Bedin (PJR), os recursos que irão garantir o projeto são provenientes da Fundação Luterana de Diaconia e tem como objetivo implementar um jeito diferente de fazer agricultura. “Esse projeto é ousado porque está muito distante da agricultura convencional, se contrapõe à agricultura de mercado, de monocultivo. Nós vamos seguir a partir desse primeiro encontro com um cronograma de formações e atividades até fazermos a experiência em uma área da região”.
A agrofloresta envolve entre outros elementos, a concretização de práticas agroecológicas que garantem a sustentabilidade da terra, o cuidado com a natureza levando em consideração os aspectos socioculturais, econômicos, técnicos e ecológicos. Segundo o dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores, Anderson Munarini, essa prática envolve conhecimentos, saberes, valores que propõe uma nova agricultura, de base ecológica. “A agrofloresta está dentro dessa proposta, de garantia da produção e respeito à biodiversidade, o uso de sementes crioulas, a produção de alimentos saudáveis. Ela se apresenta como uma nova estratégia e um novo desafio que a juventude está propondo”, explicou.
Segundo Munarini, para que o projeto funcione é necessário compreender quem são as pessoas que fazem parte dessa experiência. “Precisamos iniciar sabendo onde a gente está. A agroecologia e agrofloresta trabalham se espelhando na natureza, imitando os processos que a natureza desenvolve no dia a dia, o seu processo de evolução. É preciso incorporar esses princípios nesse trabalho para não cair no erro da agricultura convencional que vai contra os processos ecológicos da natureza. As práticas agroecológicas impulsionam os processos agroecológicos que a natureza própria desenvolve então o nosso papel nesse projeto é nos tornarmos um indivíduo a mais no agroecossistema que vamos estar trabalhando”, disse ele.
Plano Camponês
Outro elemento destacado nesse projeto é a inserção do Plano Camponês nos debates feitos pelo grupo. Tairi Felipe Zambenedetti (MPA), salientou que esse plano significa uma proposta de agricultura e de sociedade, baseado na sistematização que o movimento realizou em quase 20 anos de organização. “É um plano a longo prazo que é alicerçado em alguns eixos como: produção, formação, educação, soberania (hídrica, energética, territorial…)”.
Segundo Zambenedetti, é necessário que no projeto seja enfatizada a necessidade de reafirmar o campesinato como um modo de vida. Ele destacou que a produção agrícola hoje é suficiente para que todos/as se alimentem bem e que o problema não estaria na produção e sim, na distribuição dos alimentos. “Existe uma hegemonia do agronegócio e a associação entre o capital financeiro, capital industrial que envolve as grandes multinacionais com o sócio menor que é o latifúndio. Essas três forças dão a dinâmica de como a agricultura funciona. Além disso, temos ainda quatro empresas que controlam a compra da produção agrícola no mundo, a própria ONU indicou isso como um dos problemas da crise alimentar internacional. E são cinco ou seis empresas que controlam mais de 90% da produção de sementes e insumos agrícolas, por isso precisamos garantir o estudo e a formação de novas experiências”, disse ele.
Zambenedetti falou também sobre os problemas sociais gerados pelo agronegócio dizendo que a agricultura produzida a partir desse viés é insustentável. “Uma agricultura que deixou de ser produtora de alimentos para ser consumidora de energia, causando fome, alimentos contaminados e reafirmando o trabalho escravo nas fazendas, prova disso é a flexibilização desse trabalho pela suprema corte”.
Jovens que fazem parte do projeto
Um primeiro contato
Os jovens Wellington Maziero do município de Bandeirante e Claudia Ciconet, de Descanso, falam sobre o primeiro contato com o tema e os estudos propostos no projeto. “Não é todo mundo que tem acesso a essas informações e a um projeto como esse. Esse projeto mostra que precisamos pensar na mãe terra, para que ela se fortaleça novamente pois do modo que o ser humano está agindo está matando ela, a gente sente isso”, disse Wellington.
Segundo Claudia, a discussão em grupo torna a compreensão mais fácil. “É bom ouvirmos pessoas de lugares diferentes e saber que essa experiência pode ser feita, que existe uma outra maneira de produzir, de viver, que o campo é bom mas que precisamos nos contrapor a lógica forçada do mercado”, finalizou.
Os próximos passos do projeto ainda serão divulgados. Em 2018 a intenção segundo os/as organizadores/as é visitar um local em outra região onde a experiência é desenvolvida.
Fotos: Julia Saggioratto e Paulo Fortes.