Por Eliane Verbena.
O Sesc Ipiranga apresenta o espetáculo infantojuvenil Um Dia, Um Rio com o Grupo 59 de Teatro, uma criação coletiva inspirada no livro homônimo de Leo Cunha e André Neves (ilustrações). A montagem cênico musical, dirigida por Fabiano Lodi, estreia no dia 26 de fevereiro e segue até 2 de abril, sempre aos domingos, às 11 horas.
A peça narra a vida de um rio, desde o seu nascimento como um riacho até a exuberância de suas águas que desenham lindas paisagens. Ao longo do percurso, o rio encontra um grande desafio para preservar suas águas, as formas de vida que abriga e as que surgem ao redor. A peça apresenta um lamento, um grito de socorro tardio de um rio indefeso que não tem como reagir ao ser invadido pela lama da mineração. Com lirismo e contundência, Um Dia, Um Rio aborda o desastre ambiental que destruiu a Bacia do Rio Doce (MG), em 2015.
A montagem
Um Dia, Um Rio é resultado de um processo continuado de pesquisa do Grupo 59 de Teatro (O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá e Histórias de Alexandre) sobre a transposição da literatura para o palco, na fricção entre literatura e teatro, e a musicalidade na cena, em interlocução com o público infantojuvenil. O novo projeto traz uma adaptação teatral a partir da obra de Leo Cunha e André Neves voltada para a infância, um trabalho imagético para crianças de 4 a 12 anos.
O livro canta um lamento sensível e profundo de um rio indefeso que é completamente destruído ao ser invadido pela lama da mineração. Esse rio – que personifica e simboliza o grito de socorro do meio ambiente, vitimado por inúmeras ações predatórias e pela nossa falta de cuidados ambientais – sonha em ser rio outra vez, um dia.
A montagem cria um poema cênico contundente, conduzido essencialmente pela música. A variedade de ritmos da cultura musical brasileira e o canto coral, acompanhado de instrumentos de percussão tocados ao vivo pelo próprio elenco, marcam a experiência sonora do espetáculo, retomando a marca do Grupo 59 de “contar cantando” e “cantar contando”. As canções foram criadas pelo elenco junto aos diretores musicais Felipe Gomes Moreira e Thomas Huszar, a partir de trechos do livro, além de algumas citações ao cancioneiro das festas populares brasileiras. “O canto traz o fluxo para a condução da história, traz a narrativa com consciência pelo entendimento das palavras”, comenta Felipe. Ele explica que “a trilha sonora é inspirada em temas de congada, toadas de boi, cantos de canoeiros e de trabalho na beira do rio, religiosidade e por lamentos, como uma forma de louvação pela vida que o rio carrega”.
Segundo o diretor Fabiano Lodi, “a dramaturgia musical e corporal encontra no espírito brincante dos ritmos brasileiros a leveza para tratar a contundência do tema e pensar caminhos para um mundo diferente. Os atores brincam em cena como o rio brinca com suas águas, com a terra, com as montanhas”. A oralidade proposta pelo Grupo 59 coloca os cinco atores em cena todo o tempo. Todos interpretam a personagem Rio, que tem voz própria, que brinca de interpretar outros papeis do contexto ao seu redor (canoeiro, margem e outros).
A visualidade do espaço cênico é inspirada pelo movimento de folhear o livro e se surpreender, a cada página, com uma ilustração diferente que ajuda a contar uma parte da história. O cenário, com formas angulares em madeira, se reconfigura frequentemente, como uma brincadeira que remete ao impacto das ilustrações do livro. Em contraponto, os atores usam figurinos leves e sinuosos, combinando espaços, sensações e estados de espírito no jogo cênico.
Em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (2009), o Grupo 59 de Teatro mergulhou no universo da fábula de Jorge Amado, em Histórias de Alexandre (2017) na prosa de Graciliano Ramos e agora, com Um Dia, Um Rio, aventura-se nos caminhos da poesia contemporânea para a infância e juventude, da palavra-poema em potência de encantamento que toca os sentidos.
FICHA TÉCNICA – Uma criação do Grupo 59 de Teatro inspirada na obra de Leo Cunha e André Neves. Direção: Fabiano Lodi. Dramaturgia: Bruno Gavranic e Grupo 59 de Teatro. Elenco: Carol Faria, Fernando Vicente, Gabriel Bodstein, Nathália Ernesto e Jane Fernandes. Direção musical: Felipe Gomes Moreira e Thomas Huszar. Cenário e figurinos: Kleber Montanheiro. Assistência em cenário e figurinos: Marcos Valadão. Desenho de luz: Gabriele Souza. Operação de luz: Sylvie Laila. Técnico de som: Nicholas Rabinovitch. Pensamento corporal: Fernando Vicente. Ilustrações: André Neves. Fotos: Pri Fiotti. Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação. Produção executiva: Gabriela Cerqueira. Coordenação de produção, temporada Sesc: Gabriel Bodstein. Idealização de projeto: Carol Faria e Fabiano Lodi. Produtora associada: Leneus Produtora de Arte. Idealização e produção: 59 Produções Artísticas e Culturais. Realização: Sesc São Paulo