Por Vilani Oliveira.*
Perdeu quem apostou na passividade dos trabalhadores brasileiros diante da imposição, pelos governos das três esferas, de medidas restritivas de investimentos públicos e de direitos. Em Florianópolis, por exemplo, o discurso da necessidade de “corte de gastos” do prefeito recém-empossado Gean Loureiro (PMDB) não convenceu. Principalmente por que na campanha eleitoral de 2016 as mensagens do então candidato eram bem diferentes do que as medidas adotadas após a posse.
Eleito com 50,26% da preferência do eleitorado, contra 49,74% da adversária Angela Amim, uma diferença ínfima de 1.153 votos, Gean Loureiro revelou sua verdadeira face logo no início do mandato, quando enviou à Câmara Municipal o pacote do “austericídio”.
Em menos de um mês no cargo, Gean Lorota descumpriu tudo o que prometera aos eleitores e enviou para a Câmara um pacote composto por cerca de 40 medidas prejudiciais aos moradores e ao funcionalismo, como a perda do Plano de Cargos e Salários, a redução das licenças médicas, a fusão dos planos de previdência, a instituição do trabalho sem remuneração (“voluntário”) na prefeitura, entre outras propostas que desmontam o serviço público municipal.
Aprovado na Câmara com uma diferença de apenas um voto, o pacotaço significará, na prática, o fechamento de escolas e postos de saúde, a redução de serviços essenciais, e a entrega descarada para a iniciativa privada da exploração de direitos, como saúde e educação, transformados em meras mercadorias.
Até aí, nenhum novidade no receituário do PMDB, partido do prefeito e do presidente golpista Michel Temer. A surpresa, porém, veio do andar de baixo: os servidores públicos municipais de Florianópolis, organizados pelo sindicato da categoria (Sintrasem), decidiram, no dia 16 de janeiro, denunciar o pacote de perversidades e entrar em greve até que Gean Loureiro, o “mini-Temer de Santa Catarina”, revogue as medidas.
No dia 7 de fevereiro, os municipais deram uma demonstração de força e colocaram nas ruas da Capital cerca de dez mil pessoas, numa “manifestação monstro” apontada como o maior protesto de municipários na história do Estado.
A resposta desesperada da prefeitura ao sucesso da mobilização dos servidores veio no dia seguinte. A Procuradoria do Município pediu, sem sucesso, a prisão dos líderes do movimento, a destituição da diretoria do Sintrasem e a intervenção na entidade, que representa dez mil trabalhadores, uma clara afronta à Constituição Federal e à Lei 7.783/89.
Apesar de negado pelo Judiciário, o pedido de prisão dos sindicalistas provocou o repúdio de mais de 500 entidades locais, nacionais e internacionais. A solidariedade veio dos quatro cantos do mundo: Rússia, Estados Unidos, Paquistão, Índia, Dinamarca, África, dentre outros.
Apesar da repercussão mundial, a mídia nacional continua ignorando solenemente a greve. As grandes corporações de comunicação temem que o exemplo de Florianópolis se espalhe Brasil afora, em resposta aos ataques dos governos federal, estaduais e municipais, que querem substituir, a ferro e fogo, o modelo de Estado do bem-estar social pelo Estado mínimo, liberal, privatizante e excludente. Esse é o cerne da questão.
Analisando os dados financeiros do município, os servidores concluíram que o pacotão de “redução de gastos” defendido pelo prefeito e aprovado pelos vereadores é meramente ideológico, uma vez que a maioria das medidas adotadas não terá impacto nas contas da prefeitura. Ao contrário do que alega o prefeito, não há qualquer justificativa plausível para que a gestão municipal insista em arrancar dos trabalhadores direitos conquistados há mais de 20 anos.
Portanto, só há uma maneira de encerrar a greve, que neste 21 de fevereiro completa 35 dias: revogar imediatamente o pacote de maldades aprovado pela Câmara Municipal e estabelecer canais de negociação entre o gestor municipal e o comando de greve.
Até lá, os trabalhadores continuarão firmes na luta e não se intimidarão com qualquer tentativa de enfraquecimento do movimento, entre elas a mais nova ameaça de Gean Loureiro de enviar para o Legislativo um novo projeto de lei mantendo a retirada de direitos.
Ao invés de desmobilizar os grevistas, a atitude só atesta a intransigência e o despreparo do chefe do Executivo para solucionar um conflito criado pelo próprio prefeito e que somente ele pode resolver.
Avante, municipais de Florianópolis! Até a vitória! Nenhum direito a menos! Nenhum passo atrás!
—
*Presidente da Confetam/CUT.
Fonte: CUT.