Greve dos usuários


Por Elaine Tavares.

Neste domingo, dia 17 de abril, o governo municipal, do omisso prefeito Dário Berger, estabelecerá nova tarifa para o transporte coletivo. Passará dos três reais (3,21). A medida é um tapa na cara das pessoas que usam o ônibus em Florianópolis, pois, afinal, ao preço de hoje, o serviço é de última categoria. Os ônibus são velhos, os horários são poucos, as esperas longas, e os empresários enchem baús de dinheiro com a super lotação.

Experimente entrar no terminal urbano no final da tarde. Tu terás a visão do inferno. Filas intermináveis, gente desolada, pessoas que só chegarão as suas casas duas horas ou mais depois. Um desastre de administração. Um escândalo cotidiano que não aparece no jornal nem na TV. Duvido que o próprio diabo, em pessoa, aguentasse. Os usuários são não-seres, não-pessoas, não-sujeitos, não importam para a administração. A cidade é feita, pensada, planejada para os carros. Os que não os têm, que se danem.

Pois bem, desde 2004 os estudantes protagonizam revoltas de rua. Puxam protestos, manifestações, encontram apoio nos sindicatos e até na população. Todos os anos que se anunciam aumentos de tarifas, eles enfrentam a polícia, são presos, apanham, recebem xingamentos e maldições por atrapalharem o “sagrado” direito dos carros, de ir e vir. Sobre o direito das gentes, de ir e vir, ninguém diz nada.

Pois é hora das gentes dizerem sua palavra, mostrarem que são pessoas, sujeitos, seres. E só há um lugar no corpo dos empresários em que eles sentem dor: o bolso. Há que tocá-los aí, no seu ponto “G”, seu lugar sagrado.

Minha proposta é utópica, singela, mas possível. Que nesta segunda-feira ninguém entre nos ônibus. Que eles fiquem apodrecendo nos terminais desintegrados. Que as pessoas saiam de seus bairros à pé, de carona, de bicicleta, como naqueles dias em que ficamos sem ônibus por conta da greve dos trabalhadores. Se conseguimos sobreviver a eles, também podemos provocar um prejuízo tremendo aos donos das empresas. Ninguém nos ônibus, greve de usuários. Nenhuma catraca rolando, nenhum ônibus circulando. E tudo por nossa própria vontade.

Vamos provocar um tremendo mal-estar na cidade. Gente andando por toda a parte. Gente circulando, aparecendo do nada, utopicamente indo em direção ao seu direito sagrado de ir e vir sem que ninguém lhes peça mais de três reais. Em Buenos Aires, capital da Argentina, o transporte é subsidiado. A pessoa paga o equivalente a 0,50 centavos. Nós temos o direito de ter o nosso transporte subsidiado também e a tarifa deveria ser zero. O ônibus serve, em última instância, para as pessoas se deslocarem de casa para o trabalho, logo, para fazer girar a roda do consumo, deste sistema que tudo nos tira.

Nesta segunda-feira  vamos fazer os empresários sofrerem, gritarem, espernearem, tal qual a gente nos terminais, todos os dias. Vamos colocar os ônibus para dormir. E que durmam até que a tarifa baixe, e baixe muuuuuito. Vamos dar à cidade outra resposta. Todos esperam pelo ritual da manifestação em frente ao terminal. Vamos inventar novas liras, novas canções. Uma resposta surpreendente e radical. Nenhum centavo fluindo para o bolso dos barões do transporte.

Será a vez de eles enfrentarem o inferno com choro e ranger de dentes! Greve de usuários já, por tantos dias quantos forem necessários.

Imagem: CMI

 

 

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