Por Adilvane Spezia, MPA e Rede Soberania.
Sábado, 18
Enquanto a maior parte das pessoas desfrutava do descanso semanal para repor as energias, divertir-se ou compartilhar afeto com seus familiares, em Brasília neste sábado os sete ativistas que estão desde o dia 31 de julho em Greve de Fome seguiam com seu ato extremo, pedindo por justiça no STF, respeito à democracia e defesa da constituição. “Nosso ato representa a fome contra a fome”, explica o pernambucano Jaime Amorin. Para o militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) a certeza do ideal justo é o alimento que mantém os sete em atividade, firmes em suas convicções: “Nós vamos em frente, até onde aguentarmos, vamos até o fim!”, afirma sob o olhar de concordância dos companheiros e companheiras Frei Sérgio Görgen e Rafaela Alves (ambos do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA), Gegê Gonzaga (da Central dos Movimentos Populares – CMP), Zonália Santos e Vilmar Pacífico (ambos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST) e Leonardo Soares (do Levante Popular da Juventude).
No sábado (18) os grevistas receberam dezenas de visitas de populares e lideranças comunitárias e políticas. Uma das visitantes em destaque foi a representante do Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (FNDC) e do Coletivo Intervozes, Bia Barbosa, que foi até o Centro Cultural de Brasília – onde os grevistas estão alojados – manifestar sua solidariedade. Na conversa, em destaque a forma como a mídia burguesa ignora as pautas de interesse do povo e se dedica a atender apenas os interesses dos representantes do grande capital.
Técnicos da Secretaria da Saúde também estiveram visitando as instalações e conversando com a equipe de apoio e grevistas. O motivo da visita foi colocar à disposição os serviços em saúde pública, medicamentos, estrutura e mesmo o serviço de ambulância se for necessário. No aspecto de saúde, a equipe de apoio e voluntários mobilizaram-se para reunir recursos para contratar camas hospitalares para oferecer melhor condições de repouso aos grevistas e cadeiras de roda que vão servir como suporte de mobilidade.
Ainda no sábado os grevistas receberam muitas manifestações de apoio através de redes sociais, e-mails e cartas endereçadas ao CCB, entre as quais a manifestação oficial da Cáritas Brasil, da qual destaca-se um trecho: “É testemunho da nossa fé cristã, estarmos juntos e apoiando esse gesto profético e corajoso dos irmãos e irmãs em greve de fome, que denunciam de forma contundente a situação de injustiça institucionalizada que vive o povo brasileiro. Junto com os grevistas, também queremos lutar contra a volta da fome no país, o aumento do custo de vida, a perda de direitos em saúde e educação, o aumento da violência, a perda da soberania nacional”.
Encerrando o dia, o já tradicional ato inter religioso foi realizado na frente do Supremo Tribunal Federal (STF), contando com a participação de celebrantes de matriz católica e presbiteriana. Durante a celebração, um gesto de amparo protagonizado pela grevista Rafaela Alves chamou atenção: como a ausência de alimentação proporciona – entre outros efeitos – a queda da temperatura corporal, a militante do MPA entregou seu casaco para um dos grevistas que não participa do grupo, empreendendo seu ato deitado em frente ao STF.
Domingo, 19
O domingo na Greve de Fome foi marcado por momentos de forte mística e musicalidade. As atividades iniciaram logo cedo, com a visita de 110 alunos da 7ª turma da Escola Nacional de Formação da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Agricultura (Contag), acompanhados de membros da diretoria da organização e parlamentares do campo progressista. Aristides Santos, que preside a confederação, enalteceu o gesto humano e aguerrido dos grevistas. “A coragem de vocês vai além da nossa. Quantas vezes não vamos a uma reunião porque faltou transporte ou outra coisa? Ou desistimos diante da primeira dificuldade que aparece? Vocês nos encorajam a superar os momentos difíceis, com força e energia para fazer a luta e manter a resistência por um Brasil de todas e de todos”. A fala de Santos registrou ainda fortes críticas ao governo golpista de Michel Temer e ao poder judiciário brasileiro que tem atuado sob influência política.
No início da tarde quem esteve no CCB foi a cantora venezuelana Damaris Castillos. Visivelmente emocionada entre os grevistas, ela fez uma apresentação à capela. No repertório, além de canções próprias, também foram relembradas obras de Mercedes Sosa, Violeta Parra e Víctor Jara. No final da tarde os grevistas receberam a visita do cantor Joel Oliveira e do saxofonista João Filho. Enquanto os dois se apresentaram, receberam o reforço especial do jornalista Beto Almeida e de Damaris, que já havia se apresentado no início da tarde e retornou para participar do novo momento musical. No repertório dessa segunda apresentação constaram obras de jazz, bossa nova, serestas e, claro, também canções de luta. Ao agradecer pela solidariedade dos músicos, a grevista Zonália Santos reafirmou que o grupo está mobilizado e unido para seguir com o ato, bem como enalteceu o fato de que a presença de artistas e as visitas de solidariedade que acontecem todos os dias são alimentos simbólicos que mantém os grevistas firmes em seus propósitos. Com lágrimas nos olhos Joel Oliveira resumiu o sentimento que tem feito muita gente somar-se ao movimento grevista: “sua luta é a nossa luta!”