O risco de desenvolver uma forma grave da doença parece ser maior em mulheres grávidas, num contexto cheio de novas variantes do coronavirus. A gravidez aumenta o risco de desenvolver uma forma grave de Covid-19. Principalmente para mulheres “entrando no terceiro trimestre de gestação e gestantes com comorbidades”, informa a Alta Autoridade de Saúde (HAS) da França, em seu guia.
Estar grávida em 2021 significa perguntar-se, além das questões tradicionais sobre a gravidez, uma outra, muito angustiante, sobre os riscos associados à Covid-19. Se as mulheres que estão esperando um filho podem ser vacinadas na França desde 5 de março, muitas permanecem inseguras sobre as recomendações a serem seguidas, e os riscos incorridos se elas contraírem o vírus.
No entanto, a literatura científica sobre o assunto ainda é limitada. Segundo o ginecologista Cyril Huissoud em entrevista ao site de France Info, “As mulheres grávidas têm entre duas e cinco vezes mais probabilidade de desenvolver uma complicação relacionada ao Covid-19”.
Secretário-geral do Colégio Nacional de Ginecologistas e Obstetras Franceses (Cngof) da França, Huissoud especifica que uma mulher grávida “envelhece” “15 anos” em termos de risco. “Assim, uma grávida de 35 anos com perfil de saúde igual ao de uma mulher de 50 anos desenvolverá os mesmos riscos perante a Covid-19”, ilustra.
Mas as parturientes podem ficar tranquilas. “Na grande maioria dos casos, as mulheres grávidas são assintomáticas ou pouco sintomáticas”, indica Cyril Huissoud. “Mas não devemos descartar os riscos clássicos associados à gravidez, como trombose venosa ou pré-eclâmpsia, que se multiplicam com Covid-19.”
Entre as 17 gestantes admitidas em terapia intensiva na França entre 16 de março e 17 de maio de 2020, “nenhuma morte foi registrada”, relata a HAS.
Transmissão da Covid ao feto
Sendo poucos os casos documentados, este risco de transmissão ao feto continua “muito raro”, indica o Inserm, o Instituto francês da Ciência e Saude. Um estudo norte-americano publicado na revista BJOG em 13 de agosto de 2020 indica que nas 71 parturientes com teste positivo para Covid-19 que vieram para dar à luz, nenhum dos bebês testou positivo.
No entanto, um estudo de caso, publicado em julho de 2020 na Nature Communications, relata transmissão através da placenta durante o último trimestre da gravidez. “Em um pequeno número de casos, conseguimos encontrar uma modificação da placenta, mas há mais risco de causar outros tipos de complicações a partir da doença do que transmitir o vírus ao feto”, tranquilizou o ginecologista Cyril Huissoud.
Há risco de má formações do feto?
Essa é uma pergunta que a comunidade científica se coloca, principalmente durante o primeiro trimestre da gravidez, quando os órgãos do bebê estão se formando.Os poucos casos documentados sobre o assunto dizem respeito principalmente a pacientes no terceiro trimestre de gravidez. O Conselho Superior de Saúde Pública (HCSP) indicou, em seu relatório de 23 de julho de 2020, que nenhuma malformação relacionada à Covid-19 havia sido descrita até o momento.
No entanto, autoridades de saúde irlandesas disseram, em 4 de março, que estavam investigando os casos de quatro natimortos que poderiam estar ligados à Covid-19.
Segundo os médicos legistas que notificaram os casos na Irlanda, as grávidas com resultado positivo para a Covid deram à luz uma criança natimorta, cuja causa da morte foi uma infecção da placenta. “Mais pesquisas devem ser realizadas” para associar ou não “esses natimortos a uma doença chamada Covid placentis”, especificou, no entanto, o vice-diretor médico da República, Ronan Glynn.
O parto é mais complicado?
Para algumas parturientes, isso pode acontecer. De acordo com dados científicos, o número de partos cesáreos e partos prematuros está aumentando em mulheres com Covid-19.
“A taxa de cesárea varia entre 80 e 90% e a taxa de partos prematuros varia entre 20 e 40%” em mulheres com Covid, relata a Alta Autoridade de Saúde da França. O secretário-geral da Cnogf também explica esses números pelo desejo de cuidar rapidamente de uma mãe com problemas respiratórios. “Graças a um parto prematuro controlado ou a uma cesariana, uma mãe com uma forma grave de Covid-19 pode se recuperar mais rapidamente e ser tratada para seu problema de oxigenação”.
Em relação às complicações pós-parto que os médicos costumam os observar de perto, como febre alta, pouco oxigênio no sangue ou uma condição que exige re-hospitalização.
Um estudo norte-americano, publicado em 13 de agosto de 2020, relata que, entre as 71 mulheres infectadas com o vírus, 13% delas teve pelo menos uma complicação pós-parto. Essa proporção era de apenas 4,5% entre as mulheres não infectadas com o vírus.
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