Por Francisco Fernandes Ladeira.
Pelo menos desde 2020, a imprensa hegemônica brasileira (porta-voz do grande capital) tem investido maciçamente para promover a chamada “terceira via”. Ou seja, um nome que seja competitivo e viável para a eleição presidencial, superando a polarização entre lulismo e bolsonarismo. Na prática, isso significa fomentar um candidato que, assim como Bolsonaro, se comprometa totalmente com a agenda neoliberal, porém seja minimamente civilizado.
Nessa linha editorial, além da demonização dos dois políticos brasileiros mais populares atualmente, há a tentativa (até aqui frustrada) de colocar Lula e Bolsonaro como duas faces da mesma moeda: o extremismo político. Um, à esquerda. O outro, à direita.
Nessa empreitada, diferentes nomes foram testados. Os dois primeiros do (quase falido) PSDB, partido orgânico do grande capital no Brasil. João Doria foi apresentado como “gestor” e “apolítico”. No entanto, não conseguiu se demonstrar popular para além do estado que governou. Eduardo Leite foi noticiado como uma força jovem na política. Mas, por ser homossexual, não conseguiu atingir apoio entre o público “conservador nos costumes”.
Desse modo, apesar dos esforços, os discursos midiáticos não obtiveram sucesso. A eleição presidencial de 2022 foi decidida entre Lula e Bolsonaro. Felizmente, com resultado favorável para os setores populares.
No entanto, o presente cenário – com a relativa queda de popularidade do governo Lula, e Bolsonaro, além de inelegível, correndo risco de ser indiciado e preso – trouxe um novo ânimo para os discursos relacionados à terceira via. E o nome da vez, como demonstram os noticiários recentes, é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. O chamado “bolsonarista moderado”, lembrando um infeliz termo cunhado por Joel Pinheiro da Fonseca.
Na capa da Revista Veja – que, em cenários políticos passados, lançou Collor e Aécio Neves à presidência – foi apresentado o “Plano T”, em referência à primeira letra do nome do governador de São Paulo. Segundo a publicação da Editora Abril, a “possível condenação de Jair Bolsonaro (PL) e impopularidade de Lula ampliam articulações para que governador paulista se lance na disputa de 2026”.
Nessa mesma linha, Igor Gielow, da Folha de São Paulo, apontou que o esvaziamento dos atos bolsonaristas de domingo (16/3) servem para Tarcísio ensaiar discurso de 2026. Para o articulista, “Tarcísio precisa mostrar-se palatável para a grande franja do eleitorado que rejeita Bolsonaro sem necessariamente apoiar Lula”.
Já no Valor Econômico, jornal do Grupo Globo, Maria Cristina Fernandes sugeriu que Tarcísio use Bolsonaro como uma espécie de trampolim para consolidar sua candidatura ao Planalto em 2026.
E assim a grande mídia parece ter escolhido seu nome para 2026. Essa linha jornalística busca vender Tarcísio como moderado, que evita críticas ao STF e sem ligações com a truculência da polícia paulista. Se essa empreitada vai ser exitosa, como foi Collor em 1989, ou terminar em derrota, a exemplo de Aécio em 2014, vai depender do xadrez político brasileiro.
Francisco Fernandes Ladeira é Doutor em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Licenciado em Geografia pela Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac). Especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mestre em Geografia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).
A opinião do/a/s autor/a/s não representa necessariamente a opinião de Desacato.info.