Grande imprensa se opõe à internacional fascista? Só quem é ingênuo acredita nessa possibilidade

Por Francisco Fernandes Ladeira.

Semanas atrás, quando o bilionário Elon Musk promoveu ataques à soberania brasileira, muito se falou na grande imprensa sobre a “Internacional Fascista”, movimento articulado pela extrema direita para desestabilizar democracias mundo afora e impulsionar nomes como Donald Trump e Jair Bolsonaro. “Essa ofensiva do Elon Musk não se trata de um capricho de um bilionário mimadinho. (…) Elon Musk está espelhando uma estratégia de articulação internacional de radicais da direita”, afirmou Daniela Lima, apresentadora da GloboNews.

Por sua vez, Ruy Castro escreveu em sua coluna na Folha de São Paulo que a Internacional Fascista “já detém o governo na Itália, Polônia, Hungria e Holanda. Integra ou apoia o governo na Finlândia, Suécia e Grécia. Cresce a galope na França. Chegou perto nas eleições em Portugal e Espanha. Pândega ou trágica, venceu na Argentina. Promove o terror na Alemanha, no Canadá e na Nova Zelândia. E os EUA podem ter Trump de volta”.

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Por outro lado, no último domingo (28/4), o Jornal O Globo dedicou três páginas ao bolsonarista Tarcísio de Freitas, sinalizando um possível apoio a candidatura do governador de São Paulo para a presidência da República em 2026. Um dia depois, “coincidentemente”, o economista Joel Pinheiro da Fonseca lançou na Folha de São Paulo o oximoro “bolsonarismo moderado”, indicando a necessidade da criação de espaços para a ascensão de direitistas que respeitem as regras do jogo democrático. Ou seja, Tarcísio de Freitas.

Diante dessas linhas jornalísticas (aparentemente contraditórias), uma questão se torna inevitável: a grande imprensa se opõe ao fascismo? Para responder a essa pergunta, é oportuno recorrer a uma das clássicas máximas do marxismo. O fascismo nada mais é do que a alternativa utilizada pela burguesia quando a chamada “democracia” não dá mais conta de manter os lucros do grande capital. Também é uma forma para evitar o avanço das ideias de esquerda entre a classe trabalhadora.

Recentes acontecimentos da política brasileira corroboram o que foi dito acima sobre a aliança entre fascistas e elites econômicas (a quem os interesses a mídia hegemônica atende).

Em 2013, quando as jornadas de junho já estavam sequestradas pela direita tradicional, segmentos fascistas foram bem-vindos para engrossar as manifestações. Dois anos depois, o mesmo procedimento foi adotado nas mobilizações pelo impeachment de Dilma Rousseff. Mas o ápice dessa relação foi o apoio (meio envergonhado) dos grandes veículos de comunicação brasileiros à candidatura de Jair Bolsonaro para a presidência em 2018. Na época, o mais importante era evitar a volta do PT ao Planalto.

Portanto, não há antagonismos substanciais entre fascismo e grande imprensa. O que pode acontecer, no máximo, são pequenas diferenças, como naquilo que conhecemos como “pauta dos costumes”. No que diz respeito à aplicação da nefasta agenda neoliberal, Globo, Folha de São Paulo, Estadão e similares estão fechados com o “bolsonarismo moderado”.

Em última instância, a única “internacional” que a grande mídia teme é a Internacional Socialista. A histórica frase de Marx e Engels, “Proletários de todos os países, uni-vos”, ainda faz tremer a burguesia (como dito, a quem a mídia hegemônica atende). Consciência de classe! Já os fascistas serão sempre os aliados pontuais do grande capital.

Francisco Fernandes Ladeira é doutorando em Geografia pela Unicamp e pós-graduando em Jornalismo pela Faculdade Iguaçu.

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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