Por Mariana Jungmann.*
Durou cerca de oito horas o depoimento da presidenta da Petrobras, Graça Foster, na comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) do Congresso Nacional que investiga denúncias de irregularidades na companhia petrolífera.
Entre outras coisas, ela esclareceu os procedimentos internos da companhia, voltou a admitir que a compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, foi “muito ruim”, e defendeu a decisão de construir a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. “Isso é inexorável: a Petrobras precisava de mais refino no Brasil, e ainda precisa. Então, nós tínhamos que construir a refinaria, e o melhor local era Pernambuco”, disse.
Sobre a decisão inicial de fazer o projeto de Abreu e Lima com a estatal venezuelana PDVSA e a decisão posterior de cancelar a parceria, Graça Foster disse que a companhia de petróleo da Venezuela demorou a aceitar entrar no negócio, e quando resolveu, impôs condições que a Petrobras decidiu não acatar. Mesmo assim, ela disse que a PDVSA tem grande experiência no setor, e por isso a parceria foi inicialmente considerada vantajosa.
As obras da Refinaria Abreu e Lima são um dos eixos de investigação da CPMI. Inicialmente orçadas em R$ 2,5 bilhões, já custaram R$ 15 bilhões e estão 87% concluídas, segundo Graça Foster.
O preço tão acima do esperado foi justificado pela executiva em razão da necessidade de investimentos que não tinham a ver com a atividade-fim da refinaria em si, mas com a infraestrutura da região onde ela está sendo instalada. “Construir uma refinaria no Brasil, mais especificamente construir a Rnest não é apenas ou tão somente esta foto que eu mostro on-site, off-site, intramuros. Nós temos que construir os extramuros. Tudo aquilo que está fora. Acontece muito pouco, ou em alguns lugares não existe esse investimento fora do coração da refinaria”, explicou.
Segundo ela, grande parte dos investimentos foi aplicada no Porto de Suape e em estradas. Apesar de a companhia não ser ressarcida por eles, Graça Foster disse que os recursos poderão retornar na forma de descontos em tarifas e preferência para o uso do porto.
“Eu gostaria de destacar que nós investimos, a Petrobras investiu R$ 464 milhões naquilo que chamamos “escopo com ressarcimento”, em que é rebatido para uma redução na tarifa. Nós temos uma compensação sobre esse investimento, que é um Termo de Adiantamento da Tarifa, uma redução nessa tarifa para utilização do porto. E há uma parte em que nós temos prioridade de utilização do porto, mas não temos nenhum ressarcimento”, disse.
Por fim, o custo total das obras, considerados os investimentos extramuros, está atualmente orçado em R$ 18,49 bilhões. Graça Foster disse que a companhia está “trabalhando duro” para manter essa previsão. Ela também comentou o afundamento da plataforma P-36 – na Bacia de Campos, em 2001 – e disse que ele resultou em prejuízo de R$ 2,2 bilhões para a empresa, embora houvesse seguro. Segundo ela, o valor é relativo ao pagamento de tributos referentes à refinaria, que não eram cobertos pelo seguro.
Sobre outras denúncias que estão sendo investigadas, Foster disse que se sente “envergonhada”, especialmente quando é usado o termo “quadrilha” para designar o grupo de funcionários da empresa acusados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, de corrupção e lavagem de dinheiro. No entanto, ela disse que compreende que as investigações ainda estão em curso, e aguarda o fim delas e o esclarecimento de todos os fatos.
*Repórter da Agência Brasil
Fonte: Agència Brasil