Governos de esquerda perdem narrativa por desatenção com a comunicação

São Paulo – O jornalista e publicitário Chico Malfitani critica a falta de empenho de governos de esquerda para disputar narrativas por meio do marketing, campo em que a direita consegue ser mais efetiva. Segundo ele, esse descaso fez com que os sucessos dos 13 anos de gestão petista fossem esquecidos pela população. “A esquerda acha que basta governar bem para ser reconhecido”, analisa, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual.

“A esquerda esteve no poder e veja o que fez de marketing para mostrar à população que a situação do país melhorou?”, questiona. “A esquerda não entende a importância do marketing. Nós vivemos numa sociedade de comunicação de massa e ela desconsidera isso”, lamenta.

O publicitário também lembra que o governo perdeu a batalha da comunicação da Copa do Mundo “dentro do país do futebol”. Ele também afirma que a esquerda precisa ressignificar o verde e amarelo utilizado pela direita nas últimas manifestações.

“Hoje, quem sai de bandeira verde e amarela é quem está entregando o Brasil, enquanto a esquerda, com o vermelho, está defendendo o patrimônio nacional. O marketing faz parecer o inverso. A esquerda deveria sair de verde e amarelo com a frase ‘O Brasil para os brasileiros’ para defender as nossas empresas e o nosso desenvolvimento”, defende Malfitani.

Malfitani cita como exemplo de uma comunicação falha o que ocorreu no mandato do ex-prefeito Fernando Haddad. “Ele fez uma ótima gestão em São Paulo, mas não explicava ao povo as suas medidas. Colocou ciclovia, mas não ficou uma semana ali explicando a importância, mostrando os exemplos de fora. Na redução de velocidade foi a mesma coisa”, critica.

A falta de marketing fez com que as conquistas sociais fossem esquecidas pela população, diz o publicitário, que cita o exemplo de alunos bolsistas criticando as políticas públicas no ensino superior. “A esquerda só conseguiu fazer boa comunicação em períodos eleitorais. Muita gente ganhou Bolsa Família, conseguiu vaga no Prouni, e se virou contra o governo que proporcionou isso. Há uma desqualificação da mídia, mas o governo tinha recursos para desconstruir isso.”

Outro ponto criticado pelo especialista é a falta de uniformidade no discurso. “A ultradireita usa a insatisfação popular, juntou com a greve dos caminhoneiros, e pede intervenção militar, quando nós deveríamos estar na rua defendendo o Brasil. A esquerda precisava se unir e ter uma palavra de ordem única. Uma hora é ‘Lula Livre’, outra é sobre ‘Cadê as Provas?’. A esquerda não se define”, acrescenta.

Por fim, ele cita que “nem sempre a publicidade faz milagres”, como prova o governo de Michel Temer com a campanha “Avançamos”, ridicularizada nas redes sociais. “Já faz muito tempo que ele tem 95% de desaprovação. O país está afundando em todos os sentidos, então se a publicidade vai contra a realidade, ela se torna ineficaz. Quando a situação era favorável para nós, a gente não mostrava”, conclui.

Ouça a entrevista:

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