Governo e Farc, perto do acordo de fim do conflito

Negociadores trabalham para anunciá-lo neste mês. Faltaria por acordar os passos da implementação.

PL

Enquanto o país discute sobre a blindagem jurídica dos acordos de paz com as Farc, as negociações em Havana caminham para um iminente acordo sobre o ponto do fim do conflito. Quer dizer, sobre o cessar-fogo bilateral e definitivo, o cronograma de deixação de armas e as medidas que o Governo tomará para garantir a segurança dos guerrilheiros.

O acordo sobre esse ponto seria anunciado neste mês. “Essa é a ideia”, disse a EL TIEMPO uma fonte ligada ao processo de paz.

Como se trata, nos fatos, do pacto que marca o fim da guerra, o que restaria às partes por negociar é o sexto e último ponto da agenda: implementação, verificação e referenda dos acordos, no qual entra o mecanismo para blindar juridicamente todo o combinado em Havana.

O Governo e as Farc estão trabalhando para que a paz definitiva seja firmada em fins de junho numa cerimônia especial na capital cubana, na qual voltariam a se encontrar o presidente Juan Manuel Santos e o máximo chefe das Farc Timoleón Jiménez, ‘Timochenko’.

[Ademais: ‘A falta de popularidade do Presidente não afeta o processo de paz’]

Só um obstáculo, “como o intento de querer legitimar no Congresso a Jurisdição Especial para a Paz”, poderia alterar os tempos previstos em Havana, disse a EL TIEMPO uma fonte próxima aos diálogos.

Nos últimos dias, a mesa de paz esteve centrada na definição do número de zonas acampamentárias das Farc e as condições de mobilidade dos guerrilheiros.

Está previsto que, uma vez anunciado o acordo sobre o cessar-fogo bilateral e definitivo e a deixação de armas, se abra um espaço para que os chefes das Farc exponham ante suas tropas o pacto com o qual se termina a guerra.

Ante os combatentes, afirma outra pessoa próxima aos diálogos, os comandantes “devem ratificar o fim da rebelião e da luta armada para converter-se em partido político”.

Se estará cumprindo, assim, um fato de enorme significado para as Farc: a renúncia aos fuzis e a seu uniforme de combate após 52 anos de guerra.

Porém, também para a Colômbia este será um divisor de águas histórico.

A notificação dos chefes guerrilheiros a suas tropas de que abandonarão as armas marcará o início de uma nova era: a de um país sem Farc, algo que as últimas gerações nunca conheceram.

Isto, a julgar pelas pesquisas, não tem sido avaliado pelos colombianos em toda sua dimensão. A última sondagem de Gallup –feita nas cinco principais cidades do país- indica que 66 por centro dos entrevistados não crê que o processo de paz vá por bom caminho.

Paradoxalmente, América Latina, Europa e Estados Unidos assumiram o fim do conflito com as Farc como um dos fatos mais importantes deste ano no mundo.

[Também: Embaixador do país em Cuba diz que paz pode ser firmada em 2 ou 3 meses]

A prova é que, há algumas semanas, em Luxemburgo os chanceleres da União Européia se comprometeram com o fundo para financiar a implementação dos acordos e deram seu respaldo político à paz colombiana.

O cronograma

Fontes consultadas por EL TIEMPO indicaram que, uma vez que os chefes das Farc tenham explicado a suas tropas o acordo do fim do conflito, o que poderia levar uns 15 dias, definirão com o Governo os detalhes do último ponto da agenda –implementação, verificação e referenda- e se alistarão para o ato final do processo de paz.

Segundo o que se discutiu em Havana, o cessar-fogo bilateral e definitivo poderia ser posto em marcha inclusive antes da firma da paz.

Para isto, deve-se haver cumprido o deslocamento das tropas guerrilheiras a todos os lugares onde estarão as zonas acampamentárias e deverá estar pronta a verificação coordenada pela ONU.

E o Governo terá que começar a preparar o desencarceramento dos guerrilheiros presos, que as Farc estimam entre 1.500 e 2.000.

O passo que marca a transformação de um guerrilheiro das Farc num civil, que é a entrega de sua arma, poderia começar antes do prazo pactuado pelo Governo e o grupo insurgente quando anunciaram o acordo sobre justiça, a 23 de setembro de 2015.

Nesse dia informaram que a deixação de armas iniciaria 60 dias depois da firma da paz; porém, segundo soube EL TIEMPO, o próprio grupo guerrilheiro disse que não necessita de tanto tempo para começar esse processo.

O desarme concluiria entre seis e sete meses depois de que se firme a paz.

Para as Farc é crucial culminar o desarme antes de que termine seu mandato, em janeiro, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a quem consideram um apoio chave para a paz. Esta guerrilha espera que a deixação das armas desemboque em sua exclusão da lista de grupos terroristas desse país.

A blindagem jurídica

Resolvido o ponto do fim do conflito, o que segue é que o Governo e as Farc definam o mecanismo para blindar juridicamente os acordos, de tal maneira que nem outro governo nem o Congresso nem a própria Corte Constitucional possam revogá-los no futuro.

Já o ex-fiscal geral Eduardo Montealegre se adiantou com uma demanda ante esse tribunal para que o pactuado em Havana tenha categoria de Acordo Especial, uma figura do Direito Internacional Humanitário [DIH] que permite às partes de um conflito fazer tratados de paz. E como o DIH tem nível constitucional, o Acordo Especial o teria.

O Governo foi explícito em que também está interessado em blindar os acordos e em que não fechou a porta a nenhuma proposta, porém disse que a decisão sobre como fazê-lo as partes devem tomá-la.

De fato, fez um chamado à Corte Constitucional para que não julgue a demanda de Montealegre até que não haja acordo definitivo de paz, pois considera que um julgamento judicial prévio pode alterar decisões sobre o pacto final.

Por seu lado, ‘Iván Márquez’ ratificou na sexta-feira que para as Farc o Acordo Especial é “o caminho mais curto” para assegurar juridicamente os acordos.

Duplo seguro

Porém, independentemente da decisão que a Corte tome e da ferramenta que se acorde na mesa, o assessor das Farc Enrique Santiago crê que os pactos de paz devem ficar duplamente assegurados. “No direito internacional e no interno”, afirma o advogado espanhol.

Segundo disse Santiago a EL TIEMPO, para blindá-los internacionalmente, “uma via fácil, rápida e adequada é a incorporação do acordo final a uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas”.

Foi o que ocorreu no ano passado com o pacto de paz entre o governo e a guerrilha em Mali.

O Governo deve fazer a solicitação para a incorporação do acordo final de paz a uma resolução do Conselho de Segurança.

Se a corte decide contra a demanda de Montealegre, desde o ponto de vista de Santiago a blindagem interna teria que fazer-se “mediante uma lei ordinária que dê a categoria de tratado de paz ao acordo final”. Depois, deveria incorporar-se à Constituição como um artigo transitório, mediante um ato legislativo. Isto obrigaria a um trâmite adicional no futuro para dar-lhe status constitucional permanente.

De imediato, nesta semana o Governo e as Farc voltarão a encontrar-se em Havana para resolver o pendente sobre o ponto do fim do conflito, cujo acordo querem anunciar antes de maio terminar.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.