Por Renato Scardoelli e Rosário Mendez.*
O laboratório da Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp), órgão responsável por exames para detectar câncer, atendimento de pacientes e pesquisa em cancerologia, que atua no atendimento e assistência pública há 45 anos, está ameaçado de extinção pelo governador João Doria (PSDB).
O laboratório público da Fosp, que atende a 342 unidades de saúde espalhadas pelo estado de São Paulo, realiza cerca de 250 mil exames de papanicolau e 13,7 mil biópsias de colo, mama e pele por ano, sem contar mais de 3 mil exames de imuno-histoquímica por mês, cerca de mil exames destes para o diagnóstico específico de câncer de mama.
Para a dentista Andréa Alves de Sousa a falta de visibilidade social do trabalho do Oncocentro, coloca a entidade em situação de fragilidade. Embora reconhecido no exterior, internamente não há apoio, segundo ela.
“A ala de reabilitação odontológica faz 5 mil atendimentos e entrega de 600 próteses ao ano, números semelhantes a de instituições que possuem o dobro da nossa equipe e recursos privados abundantes”, cita a dentista.
Sousa disse ainda que a Fosp fabrica próteses personalizadas para vítimas de câncer, que tiveram partes da cabeça e pescoço amputados, além de oferecer a assistência a pacientes de outros estados do Brasil.
Em audiência pública, organizada recentemente na Assembleia Legislativa de São Paulo pela deputada Beth Sahão (PT-SP), o psicólogo Paulo Iakowski Cirillo afirmou que a notícia do encerramento das atividades foi recebida com tristeza e apreensão pelos profissionais da entidade.
“Durante 45 anos fomos a esperança dos pacientes que chegam ao Oncocentro e agora tudo aquilo está em risco”, lamentou.
Maior laboratório público do país
O diretor adjunto de laboratório, Alexandre Muxfeldt Ab´Saber, rebateu estudo técnico da Secretaria Estadual de Saúde que afirma que a Fosp está “defasada e ociosa”.
“Trinta e cinco funcionários são responsáveis por 247 mil exames por ano. Eu também trabalho no Hospital das Clínicas (HC), o maior da América Latina, e lá, com o mesmo número de profissionais, são feitos 20 mil exames”, explica.
Ab´Saber lembra que a Fosp é a única entidade que regulamenta e revisa o trabalho dos demais laboratórios da área. “Ninguém na iniciativa privada vai se interessar em fazer esse tipo de trabalho”, garante.
Dados de todo o estado
Carolina Terra de Moraes, doutora de epidemiologia, destacou o trabalho da entidade na produção de informação e coordenação de registros provenientes de 78 hospitais da rede de oncologia do estado de São Paulo. Esse banco de dados alcançou 1 milhão de tumores cadastrados.
“Com as informações recebidas, conseguimos saber, por exemplo, que mais de 70% de casos de câncer são atendidos em 3 regiões do estado, e as outras 14 atendem apenas 30%”, exemplifica.
Os dados, segundo a especialista, são usados por pesquisadores, profissionais da saúde e gestores para subsidiar estudos clínicos e epidemiológicos sobre o câncer.
???????*Renato Scardoelli é jornalista e assessor de imprensa na Alesp
* Rosário Mendez é jornalista e assessora da Liderança do PT na Alesp
Edição: Cecília Figueiredo