Governo Bolsonaro reduz investimento mínimo por aluno e deputado vê ‘golpe contra o Fundeb’

Campanha Nacional pelo Direito à Educação adverte que repasses deveriam aumentar para garantir um padrão mínimo no país

Foto: Pixabay

Por meio de uma portaria interministerial, o governo de Jair Bolsonaro alterou os parâmetros operacionais do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) para o exercício de 2020. A medida, publicada nesta quinta-feira (26) em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), diminui o valor mínimo nacional a ser investido por aluno anualmente.

De acordo com o texto, esse valor será reduzido de R$ 3.643,16 para R$ 3.349,59, menos 8%. Por lei, o montante deveria atingir nível suficiente para garantir um padrão mínimo de qualidade definido nacionalmente.

A portaria, no entanto, não só reduz como já entra em vigência “com efeitos financeiros a contar de 1º de janeiro de 2020”. Os acertos decorrentes das alterações “devem ser realizados pelo Banco do Brasil, no prazo de 30 dias”, aponta a publicação, assinada pelos ministros da Educação, Milton Ribeiro, e da Economia, Paulo Guedes.

Ataque ao novo Fundeb

A redução do valor mínimo ocorre também no momento em que o governo está prestes a passar a contribuir com uma porcentagem maior, de 12%, já a partir do próximo ano. O aumento na participação foi concretizado com a aprovação do Novo Fundeb. Uma votação histórica que o tornou permanente e constitucional apesar da oposição do governo Bolsonaro. Até 2026, a União deverá ser responsável por 23% da complementação.

A coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, usou as redes sociais para contestar a diminuição dos recursos deste ano. “Quando a gente aprova um Fundeb permanente que exige mais recursos e o governo perde, o que ele faz? Canetada”, ironizou.

Portaria de Bolsonaro é ‘criminosa’

Construído com a participação da sociedade por meio de debates e mobilização de entidades, como a Campanha Nacional, o Fundeb é considerado o principal instrumento para impedir desigualdades e garantir uma educação pública de qualidade no país.

De acordo com Andressa, o governo deveria atuar para aumentar o valor no investimento por aluno, assim como o repasse do financiamento da educação para “responder aos efeitos da crise” no setor provocados pela pandemia do novo coronavírus. Mas, para 2021, o Ministério da Educação deverá ter um corte de R$ 1,4 bilhão em seu orçamento.

Em nota técnica, publicada em 1º de outubro, a Coalizão Direitos Valem Mais, calcula que o orçamento deveria ser de R$ 181,4 bilhões, no total. Ou seja, R$ 36,8 bilhões a mais do que é previsto no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) do próximo ano, com R$ 144,5 bilhões. “Países que melhor responderam à crise de covid-19 na educação AUMENTARAM o financiamento e é recomendação da Relatora da ONU, Koumbou Boly Barry”, destacou a coordenadora geral pelo Twitter.

O deputado federal José Guimarães (PT-CE) chamou a portaria de “criminosa”. O parlamentar protocolou nesta sexta (29) um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 490/2020 para sustar os efeitos da medida. “Um golpe na educação e na articulação que culminou na constitucionalização do fundo. Não vamos aceitar”, escreveu em suas redes.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.