Governo Bolsonaro gastou R$ 779 milhões com viagens até novembro de 2019

Foto: Alan Santos/PR

Por Luís Eduardo Gomes.

Integrantes e aliados do governo Bolsonaro tem divulgado um “meme” nas redes sociais que usa manchetes de sites para dizer que o governo federal gastou em 2014, último ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), R$ 483 milhões em viagens, enquanto o atual presidente gastou R$ 8 milhões em viagens em 2019. O que o meme não diz, no entanto, é que trata-se de uma comparação entre coisas diferentes e que os dados disponíveis não contabilizam o ano todo. Na verdade, uma busca rápida no Portal da Transparência revela que o governo federal já teve computados R$ 779,73 milhões em gastos com viagens em 2019.

Para acessar a informação, basta entrar no Portal da Transparência e selecionar a opção “Viagens a serviço” e, depois, “Painel”. A página que irá abrir indica que já foram contabilizadas 572.608 viagens do governo federal em 2019, totalizando os R$ 779 milhões. Esta página não indica quando os dados foram atualizados pela última vez, mas outra, a que abre quando a opção no card “viagens em serviços” selecionada é “Consulta”, indica que a última atualização dos dados é do dia 19 de novembro, o que significa que os valores devem aumentar quando o ano inteiro for contabilizado.

Foto: Reprodução

O Portal informa que, destes R$ 779 milhões, R$ 319 milhões são referentes ao pagamento de passagens aéreas e 434,4 milhões ao pagamento de diárias. A rubrica “outros gastos” soma R$ 4,3 milhões.

Do total das despesas com viagens, 85% foram gastos no Brasil e 15% no exterior. O órgão que mais gastou foi o Ministério da Justiça e Segurança Pública, comandando por Sérgio Moro, que foi responsável por 21,45% do total, seguindo pelo Ministério da Educação (18,95%), Ministério da Defesa (15,61%), Ministério da Economia (13,06%) e Ministério da Saúde (5,81%). Os outros órgãos somaram 25,12%.

Destinos mais comuns

Os principais destinos de viagens do governo federal foram Rio de Janeiro e São Paulo. O trecho Brasília-Rio de Janeiro foi feito 12.261 vezes, enquanto Rio de Janeiro-Brasília 12.164. O maior valor pago para uma viagem entre Brasília e Rio de Janeiro foi de R$ 3.962,82, e o menor R$ 1, com a média em R$ 1.026,99, segundo o Portal da Transparência. Entre São Paulo e Brasília, foram realizadas 10.386 viagens, com outras 10.239 no sentido inverso.

O Portal informa ainda que Porto Alegre, cidade do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), foi o terceiro principal destino, com 3.949 viagens no trecho Brasília-Porto Alegre e outras 3.936 no trecho Porto Alegre-Brasília.

O principal destino internacional foi Buenos Aires, capital da Argentina, para onde foram realizadas 462 viagens. Chama a atenção que uma delas chegou a custar R$ 36.002,21, um valor mais de 12 vezes superior à média do trecho, que foi de R$ 2.861,01.

Levando em conta todas as origens e destinos, o estado que recebeu o maior número de “missões” foi São Paulo, com 74.162 (11,47% do total), seguido por Minais Gerais — 57.092 missões (8,83%) — e Rio Grande do Sul — 40.179 missões (6,21%). Na outra ponta, os estados que receberam o menor número de missões foram o Amapá — 3.991 (0,62%) –, Acre — 5.776 (0,89%) — e Sergipe — 9.459 (1,46%).

Um “top 10” disponível no Portal indica que o campeão de viagens internacionais foi o secretário de Assuntos Econômicos Internacionais, Erivaldo Alfredo Gomes, que gastou R$ 198 mil nessas viagens e recebeu R$ 111 mil em diárias. Já em destinos locais, o principal viajante foi o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que gastou R$ 172 mil em viagens e recebeu R$ 26 mil em diárias dentro do Brasil.

O “meme” dos gastos em viagens foi compartilhado, inclusive, pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que sozinha gastou R$ 165 mil apenas em viagens — entre nacionais e internacionais –, incluindo uma no valor de R$ 23.897,35 para Miami e Washington, nos Estados Unidos, valor bem acima do usual para uma viagem padrão de classe econômica.

Comparação com governos anteriores

A comparação com governos anteriores não é possível porque os dados disponíveis para 2019 vão até o dia 19 de novembro. No entanto, o Portal da Transparência aponta que, dos últimos seis anos, 2014 foi aquele em que o governo federal mais gastou com viagens, R$ 1,446 bilhão, entre passagens (R$ 491 milhões) e diárias (R$ 955 milhões). Em 2015, no entanto, o último ano completo do governo Dilma, o valor caiu para R$ 1,039 bilhão, voltando a subir nos anos seguintes. Em 2016, foram R$ 1,320 bilhões. Em 2017, R$ 1,195 bilhões. Em 2018, R$ 1,374 bilhão.

O Portal indica que apenas o órgão Presidência da República gastou R$ 19,980 milhões em viagens até novembro de 2019. Para efeito de comparação, em 2018, o mesmo órgão gastou em R$ 32.050 milhões em viagens. Em 2015, primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff, foram R$ 29 milhões gastos em viagens pela Presidência da República.

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