O governo de Jair Bolsonaro repassou R$ 7,5 milhões doados para a compra de testes rápidos da Covid-19 ao programa Pátria Voluntária, liderado pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro.? O dinheiro foi doado pela Marfrig, um dos maiores frigoríficos do país, no dia 23 de março, início da pandemia no país. A ideia original era adquirir 100 mil testes para a doença.
De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, após a transferência do dinheiro, no dia 1º de julho, o governo Jair Bolsonaro consultou a Marfrig sobre a possibilidade de utilizar a verba em outras ações de combate à pandemia, não mais nos testes. O dinheiro foi então repassado ao projeto Arrecadação Solidária, vinculado ao Pátria Voluntária.
O programa liderado pela primeira-dama foi o mesmo que repassou dinheiro para instituições missionárias evangélicas aliadas da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. Os repasses de doações privadas foram realizados sem edital de concorrência.
A Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) recebeu R$ 240 mil e foi indicada por Damares para receber os recursos, segundo documentos do programa, levantados pela Folha. A AMTB tem como endereço registrado em seu site e na Receita Federal o mesmo endereço de registro da ONG Atini, fundada por Damares em 2006 e onde a ministra atuou até 2015. No local, porém, funciona um restaurante desde novembro do ano passado.
Os R$ 7,5 milhões doados pela Marfrig representam quase 70% da arrecadação do programa de Michelle até agora, totalizando R$ 10, 9 milhões.
O Pátria Voluntária foi criado por decreto do presidente Jair Bolsonaro em julho do ano passado e já consumiu cerca de R$ 9 milhões dos cofres públicos em publicidade pagos pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência. O objetivo do programa é fomentar a prática do voluntariado e estimular o crescimento do terceiro setor, arrecadando dinheiro de instituições privadas e repassando para organizações sociais.