Há vários anos, o Museu da Imagem e do Som da cidade de Campinas oferece um espaço não apenas para exibir filmes, mas para pensar o próprio cinema. Trata-se da luta por uma sala pública de exibição de filmes, na qual tomam parte cinéfilos e movimentos culturais da referida cidade. São estes dois últimos que apresentam propostas de exibição, realizando ciclos de filmes.
As mais variadas cinematografias encontram-se ao alcance da população campineira, cabendo lembrar que além dos filmes serem exibidos ocorrem também debates sobre os mesmos. É esta postura cineclubista, tão importante para fornecer métodos de interpretação do audiovisual numa época em que telinhas e telonas orientam o cotidiano das massas, que coloca em relevo a obra do cineasta brasileiro Glauber Rocha.
Os ciclos de filmes do MIS Campinas já deram demonstrações de como a exibição e o debate cinematográfico são fundamentais para a formação histórica, literária e filosófica dos espectadores. Dentro da história do cinema político, por exemplo, já puderam ser vistas desde obras de autores soviéticos dos anos de 1920 (Eisenstein, Vertov, Pudovkin etc) até as experiências estéticas radicais de autores como o francês Jean Luc Godard. Eis que a obra de um conhecido e estudado cineasta, sempre comentado pelos corredores do museu, marcará presença em 2019: serão exibidos filmes de Glauber Rocha, num ano em que o diretor de Deus e o Diabo na Terra do Sol(1964) completaria 80 anos.
A história do cinema brasileiro é feita de desbravadores, aventureiros, inovadores, conformistas e revolucionários. Glauber Rocha é um autor que seguramente insere-se no panteão dos revolucionários. Realizador e principal teórico do movimento do Cinema Novo da década de 1960, Glauber fez da poesia e da política as forças motivadoras de um autêntico cinema brasileiro. Seus filmes são portadores da crítica e da denúncia dos problemas sociais do Brasil. Sua obra mobiliza as energias da sétima arte para construir uma cultura revolucionária que nasce dos povos do terceiro mundo. Para este artista, a luta do cinema brasileiro é a luta pela transformação da sociedade, é a luta pela ruptura estética que exprime o desejo de descolonizar o nosso olhar.
Perante estes tempos sombrios em que vivemos, julgamos necessário exibir, debater e escrever sobre os filmes de Glauber; referências indispensáveis para todos aqueles que desejam filmar livremente a nossa realidade. O ciclo de filmes divide-se em duas edições: no primeiro semestre serão exibidos os filmes mais conhecidos do autor. O ciclo mensal “GLAUBER ROCHA, 80 ANOS” inicia-se a partir do dia 7 de março, na sessão das 19:30. Os filmes da Primeira edição do ciclo serão exibidos sempre na primeira quinta feira dos meses de março, abril, maio e junho. No segundo semestre, serão exibidos os títulos menos conhecidos da cinematografia de Glauber, realizados quando o cineasta viveu no exílio, ao longo dos anos de 1970. O ciclo tem o seu fim com a exibição do polêmico longa metragem “A Idade da Terra” (1980).
Aqueles que contentam-se com pipocas e migalhas estéticas atiradas pelo imperialismo norte americano, devem ficar longe deste ciclo de filmes. Mas aqueles interessados em refletir sobre a história do Brasil, que se reconhecem como latino americanos e que desejam entender como a arte pode agir sobre a realidade política, estão convocados.