Gean surpreendeu os cidadãos florianopolitanos gastando o capital político obtido na última eleição municipal em pouco mais de 20 dias à frente do governo.
Por Raul Fitipaldi e Rosângela Bion de Assis, para Desacato.info
Matéria em desenvolvimento. 10:17 / 24/1
Gean (PMDB), novo prefeito de Florianópolis, apesar de ser um político jovem, com apenas 44 anos, já tem uma longa carreira na Capital do Estado. Tem experiência de sobra nas relações da Câmara de Vereadores com o Poder Executivo municipal, é calejado e sabe o que faz. É por isso que surpreendeu os cidadãos florianopolitanos gastando o capital político obtido na última eleição municipal em pouco mais de 20 dias a frente do governo.
Seguindo o roteiro do governo ilegítimo de Michel Temer, num abrir e fechar de olhos, Gean apresentou à sociedade um pacote indigesto de 37 medidas que começaram a mobilizar os movimentos sociais, sindicatos e partidos em Florianópolis, na tentativa de barrar as iniciativas impopulares do prefeito. As manifestações de rua começaram no protesto contra o aumento abusivo das passagens de ônibus que atingiu em 11% a tarifa padrão e acima de 26% a tarifa social, com a pretensão, ainda, de dificultar a gratuidade para portadores de necessidades especiais e para os idosos. Mais uma manifestação pela tarifa e a Assembléia Popular de ontem, segunda-feira, frente à Câmara de Vereadores de Florianópolis deram marco às manifestações diversas que se desenvolvem em janeiro. Junto aos protestos gerais houve um importante ato dos servidores municipais que percorreu as ruas do Centro da cidade.
Conversas diversas da oposição com relação às medidas impopulares vêm convergindo na criação de uma frente única de luta contra as propostas de Gean. O prefeito conta com a maioria da Câmara, e a linha divisória entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo já foi atravessada em favor dos interesses dos setores que sustentam o governo. A maioria da Câmara de Vereadores, na prática, está sendo substituída por uma ‘Super Comissão’ que se prepara para dar o aval ao prefeito no momento em que está sendo desenvolvido este texto. 11 dos 37 projetos não entrarão em votação hoje, terça-feira, 24.
Gean afirma que os projetos enviados à câmara são necessários por causa do rombo nas contas da Prefeitura, mas, não sabe dizer qual é o rombo exato deixado pelo antecessor, Cézar Souza, que anunciou 90 milhões e não o bilhão que denuncia Gean. E justifica com o rombo do Executivo municipal sua crítica à greve dos municipários, como se o rombo fosse originado pelos trabalhadores da Prefeitura. A cifra que Gean denuncia da dívida da Prefeitura superaria os 600 milhões de reais. Talvez para justificar todo o pacote de medidas, o prefeito fala de que poderia chegar ao estrondoso 1 bilhão de reais. A quem deve a Prefeitura e quem são os maiores devedores aos cofres públicos ninguém sabe.
Gean Loureiro queima seu capital político numa lavareda de agressões a conquistas sociais frente a uma população que tem uma história combativa de lutas e que acumula capacidades reconhecidas de unidade na hora de ocupar as ruas. Florianópolis é uma cidade que costuma surpreender o Brasil pelo fôlego e organização dos seus protestos; esquivou as férias estudantis, os recessos laborais e está marchando contra o “pacotão”. Gean parece desconhecer essa história que acumula 10 anos de luta pelo Plano Diretor da Cidade, 13 anos de luta pelo Passe Livre e muitos capítulos da história contemporânea do Brasil que tiveram início na Capital catarinense. Estimulado e obrigado pela sua base de sustentação, que não é outra que a poderosa elite que governa Florianópolis, com a qual contraiu seus compromissos de campanha, os setores poderosos da construção e do transporte público de passageiros, e a oligarquia da cidade, Gean tem dificuldades para governar de acordo com seus compromissos de campanha que ficaram dilapidados nos primeiros 20 dias de governo.
A maioria que o respalda na Câmara de Vereadores pode não ser suficiente. Nem a mídia conservadora poderá convencer facilmente os moradores florianopolitanos de que este novo governo municipal é seu aliado. Os Movimentos Sociais não respaldam o prefeito, nem a OAB, a UFECO, os movimentos estudantis, os ambientalistas, o movimento sindical. Também não há espaço de negociação com os partidos do leque progressista cujos militantes estavam ontem na frente da Câmara: PCB, PCdoB, PT e PSol. Inclusive o vereador do PP, Pedrão, declara que as medidas retiram direitos dos trabalhadores municipais.
A greve dos servidores entra na segunda semana e uma novidade política torna mais difícil a vida de Gean no médio prazo: a maioria dos movimentos sociais e setoriais, e os partidos da esquerda florianopolitana, parecem indicar a consolidação de uma caminhada de unidade, reeditando uma percepção de frente de lutas que não se via desde a década de 90. A política de Florianópolis não pode ser seccionada da política nacional do Brasil. O partido de Gean Loureiro faz parte do Golpe parlamentar, jurídico e midiático que sofre o Brasil e é encabeçado pelo correligionário de Gean, Michel Temer. O fardo que tem que carregar Gean Loureiro pode inviabilizar seu governo mais rápido do que poderia esperar no dia da sua diplomação.
Em todo caso, Gean ostenta um lugar inédito na história de Florianópolis, como salienta o morador da Lagoa da Conceição e militante sindical, Valmir Braz, “Gean não passou ainda o estágio de prova e já está demitido pela comunidade de Florianópolis”.