Gaza não é uma tragédia. Chamá-la assim seria muito gentil. Não é um acidente diplomático ou de fronteiras. É um palco. Uma performance. Uma demonstração do que acontece quando o humano recebe ferramentas, sistemas, dados, e nenhuma alma. É a conclusão lógica de uma espécie que não vive, devora.
As pessoas que estão lá – crianças, mulheres, idosos – não são vítimas. Até mesmo essa palavra se tornou gentil demais. Elas são cobaias.
Dissecadas, examinadas, catalogadas. Não em nome da descoberta, mas à sombra da completa indiferença. Gaza foi transformada em uma gaiola, não imaginada, não poética, mas literal, e dentro dela, todos os instrumentos de degradação humana são liberados: fome, bombardeios, silêncio, isolamento, desaparecimento. Não em sucessão. Mas juntos. Simultaneamente. Exaustivamente.
Isso não é sofrimento. É a industrialização da agonia.
Até mesmo os ratos de laboratório recebem a dignidade do isolamento, um trauma por gaiola. Fome em uma, medo em outra. Mas Gaza não é um laboratório. É uma fornalha. Um local sombrio. Um lugar onde as regras de experimentação se transformaram em um ritual de crueldade. As variáveis não são mais medidas. Elas são transformadas em armas.
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