Por Sally Satler.
Quando eu estudava na FURB, era possível chegar numa sala, normalmente aberta, para se reunir com amigos ou colegas num dia qualquer pela manhã ou até mesmo à tarde, antes da aula noturna. Fazíamos isso até aos sábados e domingos, especialmente nos tempos em que militava no movimento estudantil do curso de Direito. Afora estes espaços, tínhamos opções fora de sala, num tempo em que os carros ainda não tomavam conta de todos os cantos da instituição.
Esta realidade mudou. Qualquer espaço ao ar livre, entre os prédios, hoje é tomado por carros. As salas de aula, agora com equipamentos de informática e eletrônicos, começaram a ser fechadas por ocasião dos furtos. A burocracia aumentou, visto que entrar numa simples sala, para realizar qualquer evento ou encontro, o aluno deve requisitar primeiramente ao DCE para que este então solicite reserva à instituição; ou então tem que contar com a boa vontade de um professor. O direito ao encontro vem sendo tolhido pouco a pouco, segundo os alunos, há também a proibição dos mesmos se sentarem nos cantos que ainda sobraram entre corredores, com a vigilância e controle dos guardas presentes na instituição. Não raro, a dispersão dos ‘grupelhos’ é balizada pelo olhar parcial, por vezes preconceituoso, daquele que vigia.
Os mecanismos de controle dissolveram a espontaneidade dos encontros e convivências, usurparam as trocas de ideias e saberes até mesmo com colegas de outros cursos e também com a comunidade. Os alunos, roboticamente, limitam-se a entrar na sua sala, assistir à aula e simplesmente ir embora. Do alto da passarela que corta a Antônio da Veiga, podemos reviver cenas do filme Tempos Modernos, impossível não comparar a entrada e saída da Universidade com a mesma dinâmica fabril, alunos-operários numa triste massa indistinta, tolhidos em suas originalidades e espontaneidade.
Para pressionar a instituição, depois de tantos pedidos e insistências, um grupo independente de alunos “Ocupou a FURB”: estão provisoriamente instalados numa sala de aula (R-307), com a finalidade de servir de espaço para o debate livre e aberto dos estudantes e para acelerar a negociação com a Universidade até que a mesma disponha de um espaço real de convivência.
Movimento Ocupação FURB.
Mais gramados, árvores, bancos e mesas. Menos cimento e estacionamentos. Mais coerência entre a teoria e a prática. Não é possível teorizar tanto sobre a cidade e a sociedade, sem viver e observar isso na própria Universidade. A Universidade deveria ser um espaço de mudança e de novos olhares sobre a cidade e a sociedade; e não reproduzir o seu status.
Este é um dos sete quiosques (espaços de convivência) que estão sendo construídos na Univ. Federal do Acre).
A FURB, por meio de seus gestores, precisa urgentemente rever o conceito de Universidade, que ainda se autorrefere como Pública. Uma Universidade verdadeiramente pública deveria priorizar espaços de convivência para acolher os estudantes, professores, demais servidores e toda a comunidade, estimulando assim a troca de ideias e saberes espontâneos. Uma Universidade com travas e fechaduras burocráticas não é uma Universidade. É prisão, do lado de fora e de dentro.
Foto: Paula Angels
Fontes:
Ocupação FURB – espaço real de convivência: clique aqui
UFAC constrói novos espaços de convivência: clique aqui