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Funcionária da JBS é demitida após abaixo-assinado contra cobranças das refeições

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A empresa brasileira JBS é a maior produtora global de carnes. No terceiro trimestre de 2014, o seu lucro líquido cresceu 397% em relação a igual período de ano anterior.  Foi R$ 219,8 milhões para R$1,1 bilhão.

No último ano, ela também “invadiu” a TV, via campanhas publicitárias de suas marcas Seara, estrelada por Fátima Bernardes, e Friboi, por Toni Ramos.

A JBS, porém, tem outro lado nada glamouroso. Tem sido denunciada por desrespeito a direitos trabalhistas de funcionários. Por exemplo, descumprimento da pausa de 20 minutos a cada 1h40min em ambientes frios. Falta de locais adequados para o intervalo de recuperação térmica dos trabalhadores expostos à temperaturas extremamente frias para o corpo humano (entre 5o C e -15o C). Excesso de jornadas de trabalho;  há registros de até 12 horas seguidas. Infringir normas de saúde e segurança dos trabalhadores.

Apenas em 2014, teve quatro condenações por irregularidades trabalhistas em fábricas no Acre, Maranhão, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, que lhe custaram R$ 8 milhões em indenizações.

Em 16 de janeiro de 2015, Andreia Pires de Oliveira, trabalhadora da JBS de Osasco, foi demitida por justa causa, apesar de ter estabilidade no emprego garantida por lei até setembro.

A justificativa da empresa foi o excesso de suspensões: oito (sete por atrasos no horário de entrada) em três anos de trabalho.  A última em 15 de janeiro, por ter saído uma hora mais cedo no dia 12. A alegação é de que o supervisor não havia sido informado, configurando abandono de trabalho. Contudo, o superior imediato de Andreia, o líder, havia sido informado e encarregado de avisar ao supervisor, como é de costume.

Andreia trabalhava no terceiro turno no setor de higienização pré-operacional. Entrava às 23h e saía às 6h30.

“Na verdade, a razão para a minha demissão é outra. Fui demitida porque  comecei a passar um abaixo-assinado, pedindo à JBS para rever a decisão de cobrar as nossas refeições”, afirma Andreia ao Viomundo. “Nós, funcionários, não pagávamos a refeição. De repente, arbitrariamente, a empresa passou a cobrar R$ 28,22 por mês. Já estávamos com  mais de 200 assinaturas.”

“Além disso, eu não poderia ter sido demitida”, explica Andreia. “Fui membro da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) de setembro de 2013 a setembro de 2014. Tinha estabilidade no emprego garantida por lei até setembro de 2015.”

O papel da Cipa, como bem lembra Andreia em sua carta aos colegas (na íntegra, abaixo), é cuidar pela segurança dos trabalhadores, observando o cumprimento de normas básicas, como o uso correto dos EPI´s (equipamentos de proteção individual),  o excesso de trabalho e assédio moral da chefia para aumento de produtividade.

“São situações que contribuem para acidentes frequentes, além do surgimento de doenças”, observa.

“Essa postura de Andreia se fazia necessária frente à completa omissão do Sindicato dos Trabalhadores da Carne e dos Frios do Estado de São Paulo”, diz Diana Assunção, do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), que está dando apoio à trabalhadora demitida. “Nosso objetivo é a readmissão dela.”

O Viomundo  perguntou à JBS o que tinha a dizer sobre a denúncia. A resposta, via sua assessoria de imprensa: “A JBS informa não comenta decisões sobre demissões e/ou contratações na empresa”.

Carta de Andreia Pires aos colegas de trabalho

“Como muitos devem saber, na última sexta-feira fui demitida por justa causa, segundo o supervisor porque levei muitas suspensões. Apesar de ainda estar com a estabilidade da CIPA. A última suspensão que levei foi na quinta, porque na segunda tinha pedido para sair 1h mais cedo. O supervisor esperou dois dias (terça e quarta) para “decidir” que não tinha sido avisado que eu sairia mais cedo e aplicou a suspensão. É claro que avisei, sabemos que a demissão não foi por causa disso.

Todos que me conhecem nessa fábrica sabem que não fico quieta frente a tanta coisa errada que fazem, seja com o trabalhador ou com o alimento que produzimos. Essa semana estávamos passando um abaixo assinado para não cobrarem nossas refeições, quase 200 assinaram e eu estava ajudando. Por isso é que fui demitida, porque não querem aceitar nem o mínimo que podemos fazer para nos defender. Eles tiram dentista, encarecem o convenio, tiram várias coisas de benefícios e quem fala alguma coisa é mandado sem direitos?!

Faz 3 anos que trabalho aqui, foram muitas noites de trabalho pesado junto com a equipe do terceiro turno. Assim como vários colegas, também tenho buraco de sabão corrosivo na mão, muitas vezes tive que correr pra torneira com os olhos ardendo, trinquei um dedo em acidente, arrastamos peso, esfregamos chão, parede, placas pesadas da formax, damos o sangue toda noite para essa fábrica ficar limpa e agora o que recebo em troca quando tento me defender?

Durante a minha atuação na CIPA conseguimos melhorar a situação, com bastante atenção a todos no chão de fábrica, acompanhando, falando para usar luva, óculos, viseira, não só no meu turno, mas em todos os turnos. Sempre levei muito a sério meu trabalho na higienização e como cipeira, isso ninguém pode duvidar.

Faço essa carta para denunciar a todos essa grande injustiça que fizeram comigo. Agradeço aos colegas de todos os turnos com os quais pude trabalhar, continuarei lutando com unhas e dentes, seja onde estiver, por melhores condições de trabalho, contra tanta exploração.”

Foto: Reprodução/Jornalopção.com.br

Fonte: MST.org

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