Envio de Carmen Susana Tornquist.
Carta da Comuna
Recorremos a esta pequena mensagem para colocá-lo/as a par dos últimos acontecimentos referentes a Ocupação Amarildo. A Ocupação (agora, Comuna), desde a semana passada, está instalada no município de Águas Mornas (cerca de 41 km de São José), iniciando sua nova etapa como assentamento da Reforma Agrária Popular. Desde a expulsão – de caráter fascista – dos Amarildos da Ilha, em 15 de abril passado, a ocupação esteve no bairro Maciambu Pequeno (Palhoça), cerca de 35 km de Florianópolis). Durante este período, houve perdas em termos numéricos, pois muitos dos ocupantes desistiram de manter-se neste local, bem distante da cidade onde viviam, até então.
O terreno do Maciambu foi cedido temporariamente por pessoa ligada à filantropia religiosa e implicou em tensionamentos com órgãos representantes dos indígenas que habitam a região e lutam, desde os anos 90, pelo reconhecimento de seus territórios originários. No entanto, apesar da tentativa do governo de colocar uns contra os outros – companheiros que lutam pela terra – conseguiu-se negociar a permanência e a saída do local de forma pacífica e eticamente afinada com a consciência de classe que deve unir indígenas, camponeses, trabalhadores da cidade, moradores de rua. Em maio, após ocupação do INCRA, finalmente, foi conquistada a primeira das áreas que deverão compor a Comuna Amarildo, situada no bairro Teresópolis (Quesaba) em Águas Mornas, onde estão agora as famílias que estavam no Maciambu.
Os meios de comunicação regionais, como era de se esperar, impuseram à força uma versão mentirosa e lacunar de todos os acontecimentos que envolvem a intensa trajetória da Ocupação Amarildo em Florianópolis, que, infelizmente, passou a informar até mesmo os setores combativos de nossa região, dificultando assim a solidariedade necessária não apenas para fazer a resistência dos que permaneceram no momento, mas para amplificar esta experiência que, agora, inicia uma etapa auspiciosa. Cabe destacar que mesmo com a conquista da área em Águas Mornas, a situação segue inconclusa e ainda vulnerável -, considerando-se ainda a reação xenofóbica e preconceituosa de parte da população da região, comandada pelo Prefeito local, recentemente, e ameaças pessoais a pessoas da coordenação, exigindo nosso apoio e vigilância permanente.
Entretanto, ao contrário da visão hegemônica divulgada pela mídia burguesa, é preciso dizer que até o momento a Ocupação Amarildo sempre esteve amparada na legalidade, como ainda contribuiu para desvendar as situações ilegais, em especial a que se refere ao suposto proprietário do terreno da Vargem Grande, onde a Ocupação teve seu começo. O terreno, que estava destinado a ser mais um grande empreendimento imobiliário de luxo, hoje é reconhecido como área da União, sendo, ainda passível de usufruto coletivo e social. Já a área do Maciambu caminha, talvez com novos elementos decorrentes deste processo, para a sua homologação, como Terra Indígena Guarani. Já a área de Águas Mornas, cedida pelo INCRA, já se caracteriza como pré- assentamento. Além disto, duas outras áreas, nas imediações, estão sendo estudadas pelo INCRA e deverão, sob a pressão do movimento social, provavelmente ser concedidas às outras quase 500 famílias cadastradas pelo órgão ainda em fevereiro passado, em sua luta por terra, trabalho e teto. Por isto, estamos convencidos de que até agora Amarildo é um movimento vitorioso!
Estamos cientes de que Amarildo é apenas a ponta do iceberg que começa a emergir na cidade, junto com outras ocupações organizadas da Grande Florianópolis(Palmares e Contestado), trazendo a tona as contradições do processo de crescimento local. Contrariando, assim, o discurso da qualidade de vida e o projeto de elitização da capital e litoral catarinense, como postulavam as elites ansiosas por eliminar as contradições que tem garantido, até agora, sua permanência no poder.
Temos muito trabalho pela frente, mas também alguns reparos e ressarcimentos a fazer, decorrentes dos processos de subalternização e expropriação a que foram submetidos os companheiros da Ocupação. De todos, ressaltamos aqui o mais emergencial: a falta de cumprimento da parte do governo em garantir os caminhões de frete e ônibus para fazer a mudança das famílias na semana passada,entre Palhoça e Águas Mornas.
Neste sentido, solicitamos o apoio dos companheiros para nos ajudar a pagar estas dividas contraídas na semana passada, a partir de deliberação coletiva na reunião da frente, e que ultrapassam os 2500 reais (1000 reais já foram assumidos pelo Sintram e Adfaed), além de doações individuais.
Contamos com seu apoio político neste momento, e reiteramos o convite para participar da Frente de Apoio a Ocupação Amarildo, que tem acontecido semanalmente no SINTESPE/SC, nas quartas feiras a noite. No dia 2 de agosto, teremos também uma atividade festiva em prol da Comuna, no Rancho do Neco
(Sambaqui). Uma divulgação permanente das atividades da Frente de Apoio e outras informações sobre Amarildo encontram-se no Portal Desacato – a outra informação e blog da Ocupação.
Todo apoio será bem vindo!
Florianópolis, 18 de julho de 2014.
COMUNA Amarildo de Souza