Frei Betto dedica prêmio da ONU a movimentos sociais: ‘Sou um grão’

Escritor e colunista da Rádio Brasil Atual chama atenção para integração latino-americana, pede aprendizado da cultura indígena e cobra valorização da democracia comunitária

O escritor e militante pelos direitos humanos Frei Betto dedicou aos movimentos sociais o Prêmio Internacional José Martí 2013, concedido ontem (12) pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Em conversa com a jornalista Marilu Cabañas, o colunista da Rádio Brasil Atual cobrou ainda a valorização da democracia e do saber dos povos originários.

“O prêmio é um reconhecimento a todos aqueles com quem trabalho, principalmente os movimentos sociais, os movimentos de igreja, na integração da América Latina”, disse Betto, que receberá a homenagem no próximo dia 30 em Havana, Cuba. “Creio que isso não é um mérito pessoal. É um mérito de todos os companheiros e companheiras com quem a gente atua. Sou um grão no meio deste cesto enorme.”

Nascido em Belo Horizonte em 1944, Carlos Alberto Libânio Christo foi preso duas vezes durante a ditadura (1964-85) e, após a redemocratização, manteve a defesa da promoção de uma política de direitos humanos. Durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, ocupou o posto de assessor especial da Presidência da República e foi um dos responsáveis por desenvolver o Programa Fome Zero, que acabou resultando no Bolsa Família.

“Toda a minha vida militante tem sido de servir às comunidades. Só acredito em uma democracia que passe pelo comunitário”, diz o escritor, acusando o mundo de viver uma democracia representativa que não contempla os interesses dos mais pobres. Para ele, é fundamental promover um trabalho de conscientização popular. “A partir dessa consciência que vão adquirido de sua cidadania conseguem operar mudanças. E mudanças tão significativas que conseguem eleger um metalúrgico presidente da República.”

Frei Betto considera que os povos indígenas têm significado um importante aprendizado a partir da valorização dos conhecimentos tradicionais e do respeito ao meio em que se vive, sem sentimento de posse sobre a terra e sobre os bens naturais em geral. “Os povos indígenas têm muito a nos ensinar em termos de partilha, em termos de afeto. Não há pessoas excluídas, não há discriminações.”

Para o escritor, falta ao Estado brasileiro garantir os direitos destes povos e o reconhecimento da cultura. “É começar a educação desde a infância. Por isso digo aos meus amigos: em vez de levarem seus filhos para a Disneylândia, levem para a Amazônia, levem para o Pantanal, levem para o Xingu. Eles vão adquirir uma outra cultura, uma outra visão do que significam nossos povos originários.”

O Prêmio José Martí foi criado em 1994 pelo Conselho Executivo da Unesco por iniciativa do governo de Cuba para homenagear “organizações e indivíduos que se destacaram na causa da unidade e integração da América Latina e Caribe, com base no respeito às tradições culturais e valores humanistas”. Martí foi um político e pensador cubano, importante na independência da ilha em relação à Espanha.

Fonte: Rede Brasil Atual.

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