Texto de Rádio França Internacional /RFI.
Em Ercheu, um vilarejo de 750 habitantes no norte do país, os Le Pen – seja o pai, Jean-Marie, ou a filha, Marine – ficam à frente nas eleições presidenciais há mais de 30 anos. Em 2022, Marine Le Pen conquistou 55% dos votos no primeiro turno no município e 75% na segunda votação, da qual Emmanuel Macron saiu vitorioso para um segundo e último mandato.
Em um encontro com eleitores na cidade, nesta sexta-feira (7), o deputado do partido Laurent Jacobelli tentava convencer que “o fim do túnel não está tão longe e os dias felizes da vitória nos aguardam”, porque “o alinhamento dos planetas é o melhor que já houve”.
Analistas políticos franceses têm advertido que a aprovação da reforma e a intransigência de Macron favorecem a extrema direita, ao “atropelar” a vontade do povo e impor mais anos de trabalho para pessoas que, por exercerem profissões braçais ou por terem baixa qualificação, já enfrentam dificuldades para chegar à aposentadoria. Entre eles, muitos já votam na extrema direita ou são suscetíveis a fazê-lo.
Outro deputado do RN, Julien Odoul, acrescentou que o otimismo se deve a “pesquisas extremamente positivas, emocionantes”. Uma sondagem do Ifop-Fiducial desta semana colocou Marine Le Pen no topo das intenções de voto no primeiro turno da próxima eleição presidencial, com 30% dos votos se o pleito fosse hoje, à frente do líder da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, com 22%, e o ex-primeiro-ministro Edouard Philippe, apresentado como potencial sucessor de Macron, com 28%.
Esperança ponderada
Deputada, Marine Le Pen se manteve discreta nos debates acalorados sobre o tema dentro e fora da Assembleia, deixando para a esquerda o papel de incendiar o clima político e das manifestações – que têm registrado sistematicamente atos de violência repudiados pelo eleitorado de extrema direita.
“Vitória em 2027? Já havíamos dito isso em 2022, mas não deu certo”, pondera a eleitora Martine Caron, à AFP. “Muita gente tem medo”, considera, avaliando que talvez seja o momento de experimentar outro nome do partido, como o atual presidente da sigla, Jordan Bardella. “Ele é bom”, afirma.
Didier Delimauges, 57 anos, morador do vilarejo, considera que Bardella “é diferente, um pouco menos duro”. O operador de logística garante que nunca votou na extrema direita, mas foi à reunião de sexta-feira “para ouvir o que seria dito” porque, na sua opinião, o “os dirigentes do RN não foram piores que os outros” na questão das aposentadorias.
Medo de ‘confusão’
David, 48, um ladrilhador que prefere não dar o nome completo, resolveu votar pela primeira vez na extrema direita no ano passado. “O problema que vejo ao meu redor é que as pessoas votam no RN no primeiro turno, mas não no segundo. Elas têm medo que dê confusão nas periferias, que seja uma bagunça.”
François Berthout, eleitor lepenista “desde o início dos anos 80”, também se diz “pouco optimista” quanto a uma futura vitória porque, segundo ele, o partido “ainda é qualificado como de extrema direita”. Ao seu lado, um de seus amigos que não quer ser identificado é mais direto: “O RN nunca vai dar certo, porque [a imprensa] demoniza tudo”, disse, reconhecendo que “sempre tem deslizes” dos representantes do partido. Questionado se pensa em votar em Le Pen” em 2027, ele responde: “Talvez. Mas eu também não posso simplesmente não ir votar”.
Outro potencial eleitor, Xavier Jésu, 64 anos, concentra suas esperanças na nova geração da família: a ex-deputada Marion Maréchal, sobrinha de Marine. “Quero a união das direitas”, disse, acrescentando que, até a próxima eleição, ”faltam ainda quatro anos. É muito tempo”.
Com informações da AFP