Por Caroline Oliveira, Brasil de Fato.
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro escuta, nesta terça-feira (15), Adriano Machado, fotógrafo da agência internacional de notícias Reuters. Na próxima quinta-feira (17), é a vez do depoimento do hacker Walter Delgatti Neto, que ficou conhecido como o hacker de Araraquara, após vazar mensagens de membros da Operação Lava Jato.
Adriano Machado
No dia dos atos golpistas que culminaram na invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes, em Brasília, Machado estava a trabalho na sede do Congresso Nacional, e registrou a ação dos bolsonaristas, bem como outros fotógrafos e profissionais da comunicação que estavam no local.
Os senadores e deputados aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que apresentaram os nove requerimentos de convocação de Machado, acusam o fotógrafo de ser uma pessoa infiltrada que incentivou os atos.
As acusações começaram depois que começou a circular um vídeo nas redes sociais no qual Machado aparece atrás de um grupo que arrombou a porta de acesso à antessala do gabinete da Presidência da República.
Em nota, a Reuters informou que o fotojornalista da Reuters que cobriu o ataque ao Palácio do Planalto em Brasília no dia 8 de janeiro havia passado a manhã cobrindo um protesto pacífico.
“Posteriormente, ele testemunhou um grande grupo de manifestantes subindo a rampa principal do palácio e os seguiu para documentar o desenrolar dos acontecimentos. Nós defendemos a sua cobertura, que foi imparcial e de interesse público”, diz o comunicado.
Na mesma linha, instituições que atuam em defesa da comunicação também saíram em defesa de Machado. As organizações Instituto Palavra Aberta, Instituto Vladimir Herzog, Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Tornavoz, Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca) afirmaram que a convocação de Machado é uma tentativa de intimidar o trabalho jornalístico.
“A liberdade de imprensa é um direito previsto pela Constituição Federal absolutamente fundamental para o bom funcionamento do regime democrático. A tentativa de intimidar um fotojornalista é, portanto, um claro ataque ao Estado Democrático de Direito, que não pode ser corroborado pelo Congresso Nacional”, defendem.
A Secretaria de Comunicação Social do governo federal também classificou a acusação como uma “campanha de desinformação” contra Adriano Machado. “As alegações contra Adriano Machado são totalmente descabidas. O profissional em questão é um repórter fotográfico e, como tal, foi ao local para cobrir um evento que transpassou a esfera nacional, e transformou-se em uma pauta internacionalmente acompanhada”, disse a Secretaria em nota publicada em 8 de maio deste ano.
“Vale destacar que o profissional da Reuters não foi o único fotojornalista a registrar as cenas que, aliás, foram transmitidas ao vivo por todas as redes sociais. Portanto, não procede a informação de que o fotógrafo seria um infiltrado e estivesse no Planalto antes dos ataques”, pontua o órgão.
Adriano Machado mora em Brasília e, desde 2016, trabalha como fotógrafo da Agência Reuters registrando eventos do governo federal.
Walter Delgatti Neto
Na quinta-feira (17) é a vez do hacker Walter Delgatti Neto prestar depoimento à CPMI. A oitiva estava prevista para ocorrer na última quinta-feira (10), mas foi adiada para dar mais tempo aos parlamentares para estudarem os documentos.
“Penso que a oitiva do hacker Walter Delgatti só será contributiva para a CPMI do 8 de janeiro depois que tivermos acesso aos documentos e provas, como quebras de sigilos e outros. Não adianta ouvi-lo agora sem os elementos necessários para confrontá-lo”, afirmou o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), durante a sessão que adiou o depoimento.
Preso pela Polícia Federal (PF), em 2 de agosto, Walter Delgatti Neto é alvo de uma investigação que apura a inserção de 11 alvarás de soltura e um mandado de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). As inserções foram feitas entre 4 e 6 de janeiro deste ano, dias antes dos atos que culminaram na invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes, em Brasília.
Em 27 de junho deste ano, Delgatti confessou à PF a sua participação em parte do esquema, que teria contado com a ajuda da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP). O hacker afirmou que o objetivo da invasão era expor as vulnerabilidades do sistema judiciário brasileiro, com o propósito de desacreditar o sistema eletrônico de votação.
Segundo Delgatti, Zambelli solicitou que, caso não conseguisse invadir as urnas eletrônicas, o hacker deveria procurar por “diálogos comprometedores” envolvendo Alexandre de Moraes. Em resposta, Delgatti afirmou que seria possível inserir um mandado de prisão contra o ministro no sistema do CNJ.
Zambelli teria feito o texto e enviado para publicação. Delgatti alegou que fez algumas alterações, pois “o português estava meio ruim”, e emitiu o mandado de prisão e o bloqueio de valores, no exato valor da multa aplicada ao PL pelo TSE, de cerca de R$ 22 milhões.
“DETERMINO, por fim, a extração integral de cópias e sua imediata remessa para o Inquérito n. 4.874/DF e de todos os inquéritos de censura e perseguição política, em curso no SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL para o CNJ, a fim de que me punam exemplarmente. Diante de todo o exposto, expeça-se o competente mandado de prisão em desfavor de mim mesmo, Alexandre de Moraes. Publique-se, intime-se e faz o L”, diz o ofício.
A ex-deputada confirmou que fez pagamentos para Walter Delgatti Neto, mas alegou que eles se referem a serviços prestados em seu site pessoal.
De acordo com a PF, os fatos investigados “configuram, em tese, os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica”, diz a PF.
O esquema se soma ao encontro entre Delgatti e Jair Bolsonaro (PL), em 10 de agosto do ano passado, que teria sido intermediado por Carla Zambelli. O ex-presidente teria dito a advogados que ficou em silêncio durante o contato com o hacker. Mas a versão do profissional de tecnologia é outra. Segundo ele, Bolsonaro perguntou se “munido do código-fonte conseguiria invadir a urna eletrônica”.
Edição: Geisa Marques
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