Por Railídia Carvalho.
Começa nesta terça-feira (13) o Fórum Social Mundial 2018, que será sediado em Salvador, na Bahia. Até o dia 17 de março os olhares do mundo estarão voltados para o Brasil e para os movimentos mundiais que resistem ao retrocesso social. A conjuntura de retirada de direitos, golpe parlamentar e a ofensiva de uma política neoliberal vivida pelo Brasil torna estratégica esta edição do Fórum que traz como tema Resistir é Criar, Resistir é Transformar.
Mais uma vez o Fórum se inicia com a tradicional Marcha de Abertura programada para começar nesta terça, às 15h. O cortejo sairá da Praça do Campo Grande, prossegue pela Avenida Sete, até a Praça Castro Alves, local símbolo de lutas históricas em defesa da democracia e também da resistência baiana ao golpe de maio de 2016 no Brasil.
E foi essa ativa resistência dos brasileiros aos desdobramentos do golpe um dos argumentos debatidos ao se propor a capital baiana como sede da edição 2018 do Fórum, contou Liége Rocha, secretária nacional da Mulher do PCdoB e integrante do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial desde 2009. O evento se realiza a cada dois anos, tendo a última edição ocorrida em 2016, em Montreal no Canadá. As inscrições ainda podem ser feitas a partir desta terça na Biblioteca da Universidade Federal da Bahia, a partir das 8h.
“Os vários movimentos sociais nessa conjuntura, não só nacional mas também internacional, podem jogar um papel de resistência e aqui debateremos como essa resistência pode contribuir para transformar a realidade. É estratégico o papel que o Fórum pode jogar ampliando a visibilidade mundial para a situação nacional de hoje e possibilitando uma agenda de luta que possa nos fazer avançar na transformação da realidade do Brasil e de outras partes do mundo”, avaliou Liége.
São esperadas 60 mil pessoas participando do Fórum que terá 1.300 atividades. O campus de Ondina na Universidade Federal da Bahia vai concentrar a programação. “Essa agenda do Fórum é fundamental para os movimentos sociais especialmente neste momento em que diversas instituições, como as universidades, estão sob ataque. A UFBA foi acionada na Justiça a quatro dias do início do Fórum”, lembrou Renato Jorge Pinto, Coordenador do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Universidades Públicas Federais no Estado da Bahia (ASSUFBA) e integrante da equipe organização do FSM.
Na sexta-feira (9) o professor da Ufba, Carlos Zacarias foi convocado a depor na na 16ª Vara Federal Cível para dar explicações sobre a disciplina “Tópicos Especiais em História: o golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”. A Justiça atendeu liminar protocolada pelo vereador Alexandre Aleluia (DEM/BA), que pede a revisão da disciplina. O ataque à autonomia universitária começou na Universidade de Brasília, quando o ministro da Educação, Mendonça Filho, questionou a legalidade do curso. Outras nove universidades resolveram criar disciplinas com o mesmo nome.
Presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil na Bahia (CTB-BA), Pascoal Carneiro, também da organização do Fórum no Estado, completou que a realização do Fórum no Brasil vai fortalecer a luta dos trabalhadores para além das pautas específicas. “A democracia está sob ameaça e a democracia interessa acima de tudo aos trabalhadores e às trabalhadoras. Eventos como esse faz ter discussão mais transversal não aquela pauta de cada categoria. E o tema da democracia está em debate neste fórum em várias oficinas ressaltando a importância da unidade dos trabalhadores, movimentos sociais e se construir uma agenda positiva para a sociedade”.
Em um contexto mundial de precarização do trabalho, o tema terá repercussão importante no Fórum, especialmente entre as mulheres, garantiu Liége. “Nas discussões dos movimentos de mulheres o direito ao trabalho em condições de igualdade e sem precarização faz parte faz parte de um documento com 10 questões imprescindíveis a serem abordadas no Fórum”, informou.
Liége também ressaltou a importância da solidariedade aos povos, que é marca do Fórum Social, como denúncia da ação imperialista sobre os países da América Latina, por exemplo. “Olhando além da realidade do Brasil os retrocessos fazem parte de uma realidade maior que é da América Latina. Que passa agora por retrocessos, teve várias fases de ditadura, neoliberalismo, onda progressista e agora vive um momento de investida do imperialismo que começou com o golpe de Honduras, Paraguai, depois o Brasil”, enfatizou a dirigente.
“Cheguei agora de uma jornada na Venezuela e vi a necessidade de cada vez mais se prestar solidariedade àquele país e divulgar a situação do bloqueio a Venezuela nos moldes do que aconteceu com Cuba. Participei de uma assembleia de mulheres com Maduro e as participantes tinham uma vibração para enfrentar o imperialismo e denunciar os impactos que provoca no dia a dia das mulheres e do país”, relatou Liége.
Na opinião dela, o Fórum é um momento privilegiado. “Há a articulação dos movimentos sociais em luta, movimentos que querem resistir, querem avançar e que acreditam que um novo mundo é possível”, definiu Liége.
Para Ângela Guimarães, presidenta nacional da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro), o contexto global e local é complexo, exigindo uma tomada de posição e resistência diante do avanço do neoliberalismo e do fascismo. Nesse quadro, o Fórum Social Mundial se consolidou como espaço de articulação e de luta dos movimentos sociais.
A presidenta também disse que é de extrema relevância que o Fórum aconteça no Brasil este ano.
“É importante que o evento seja realizado aqui porque além do mundo voltar os olhos para o Brasil, os outros países também irão saber o que se passa desde 2016 com o golpe de Michel Temer. Como pautas que desestruturam o mundo do trabalho, que são contra o direito das mulheres e dos negros. Assim, os gritos que os movimentos sociais vêm dando nos últimos dois anos, gritos de denúncia, irão repercutir em nível global”, disse a presidenta da Unegro.
Ainda é necessário destacar que o evento será realizado na Bahia, em Salvador especificamente, estado e cidade com mais negros do país, o que confere outro significado para a Unegro.
Em contraste com as outras edições – que ocorreram de um ponto de vista diferente, ou seja, a partir da comemoração do salto progressista na América Latina – hoje o que será discutido é o avanço neoliberal no continente com a destruição dos direitos sociais. Para ela, o tema e o slogan foram acertados porque resistência é a marca do Fórum deste ano.
Confira os eixos temáticos do FSM 2018:
• Ancestralidade, Terra e Territorialidade;
• Comunicação, Tecnologias e Mídias livres;
• Culturas de Resistências;
• Democracias;
• Democratização da Economia;
• Desenvolvimento, Justiça Social e Ambiental;
• Direito à Cidade;
• Direitos Humanos;
• Educação e Ciência, para Emancipação e Soberania dos Povos;
• Feminismos e Luta das Mulheres;
• Futuro do FSM;
• LGBTQI+ e Diversidade de Gênero;
• Lutas Anticoloniais;
• Migrações;
• Mundo do Trabalho;
• Um Mundo sem Racismo, Intolerância e Xenofobia;
• Paz e Solidariedade;
• Povos Indígenas;
• Vida Negras Importam.