Folha de S. Paulo: Diretas Já… em 1984. E agora?

folha-diretas-indiretasPor Luis Felipe Miguel.

Em 1983, a Folha de S. Paulo tomou uma decisão ousada e apoiou a campanha das diretas. Foi uma decisão mercadológica. O jornal reforçou sua identidade com um público leitor que já não aceitava mais a ditadura. Projetou uma imagem “progressista”, até mesmo “transgressora”, de forma surpreendente para uma empresa que, pouco antes, mergulhara até o pescoço na cumplicidade com o terrorismo de Estado. É necessário reconhecer: foi uma jogada de mestre do velho Octávio Frias. A Folha tornou-se o maior e mais influente jornal do país.

Hoje, o jornal segue no rumo oposto. Está na linha de frente da defesa de Michel Temer e, sabendo que a permanência do golpista no poder está se tornando inviável, faz de tudo para abater no nascedouro a nova campanha das #DiretasJá. A manchete de hoje é um primor: “Maiores partidos rejeitam votar a favor de Diretas-Já”. Deve ser um furo de reportagem digno de um Prêmio Esso: a Folha “apurou” que as direções do PMDB, PSDB, DEM etc. são contra as diretas. O objetivo de dar informação tão banal em manchete é cristalino: fazer pensar que a campanha é inútil, que o jogo já está decidido.

Se tudo se resumisse ao Congresso, seria isso mesmo. Quanto mais a pressão por diretas crescer, porém, maior será o custo de escolher o substituto de Temer sem consultar o eleitorado. É isso que a Folha deseja evitar.

Na página 3, com direito a chamada de capa, um artigo assinado por Temer, afirmando que permanecerá até o final no cargo que usurpou – “a serviço das reformas” – e proclamando sua honestidade e sua devoção à democracia e à Constituição. Mesmo depois do vexame da entrevista exclusiva, em que a Folha foi incapaz de perceber contradições gritantes na defesa que Temer fez de si mesmo, o jornal permanece como veículo privilegiado da comunicação do Planalto.

O que mudou na Folha, da primeira campanha das diretas para cá? Não creio que apenas a falta de horizontes de Frias Filho explique. Mudou também o mercado, mudaram as condições de existência dos jornais. A Folha mantém seu discurso do “mandato do leitor”, a bizarra construção ideológica com que busca justificar a falta de pluralidade do mercado de mídia brasileiro, mas claramente se despreocupou disso. No mundo novo que as tecnologias da comunicação geraram, é cada vez mais difícil sobreviver vendendo informação. É mais negócio vender influência, alugando, a quem puder pagar, o que restou de seu prestígio.

Fonte: Facebook.

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