“Foi brincadeira, ele não é racista”, diz esposa de gerente que entregou bananas

Esposa de gerente que entregou bananas como ‘homenagem’ ao Dia da Consciência Negra justifica atitude do marido, mas vítimas não engolem versão. “Não perdoo. Isso não é brincadeira que se faça com conhecidos e muito menos com desconhecidos. Tinha que cumprir pena. Se a punição for severa, ele não vai parar de fazer nunca”, desabafou uma das vítimas.

Mulher de Ascendino Correa Leal, de 68 anos — gerente do restaurante Garota da Tijuca, na Zona Norte do Rio, que foi preso por injúria racial após entregar bananas a funcionários de uma entregadora no Dia da Consciência Negra —, a dona de casa Maria Leal afirma que o marido não é racista, e defende que a atitude não passou de uma brincadeira. O gerente do estabelecimento foi demitido esta semana.

Ele é muito brincalhão. Sempre fez essas brincadeiras e eu dizia para ele parar de fazer isso, porque um dia se daria mal. Deu no que deu. Fez a brincadeira no lugar errado, na hora errada e com a pessoa errada. Mas ele não é racista. Tanto que meu pai e meu irmão são negros, e ele sempre os amou muito — diz ela, que tem 58 anos.

Depois de ser liberado, mediante o pagamento de uma fiança de R$ 800 — determinada pelo delegado da 19º DP (Tijuca), onde o caso foi registrado —, o gerente foi afastado do trabalho pela direção do restaurante e, de acordo com Maria, deixou a cidade na tarde desta segunda-feira.

— Não posso dizer para onde foi, mas um casal de amigos passou e levou ele para viajar, porque ficamos assustados com a repercussão. Não estão deixando nem ele ver televisão. Meu marido é hipertenso, está muito nervoso. Tenho medo de perder ele — conta Maria.

A dona de casa afirmou ainda que o marido trabalha há 30 anos no restaurante e que a direção do estabelecimento tem oferecido ajuda, mas não especificou de que tipo.

Na última sexta-feira, o gerente teria oferecido duas bananas a três homens negros, funcionários de uma entregadora, que foram deixar mercadorias no estabelecimento. O acusado teria dito ainda que as frutas eram uma homenagem ao Dia da Consciência Negra. Um dos entregadores sentiu-se ofendido e acionou a Polícia Militar.

‘Não perdoo’

O discurso de Maria não convence William Dias Delfim, um dos entregadores que recebeu a banana das mãos de Ascendino. Ele nunca havia feito entregas naquele restaurante antes e não conhecia o gerente.

— Isso não é tipo de brincadeira que se faça com conhecidos e muito menos com quem você nem conhece. Não perdoo o que ele fez. Depois de entregar a banana para o Osmar (Ribeiro, também entregador) que foi lá dentro, ele fez questão de dar a volta no caminhão para entregar outras duas bananas para mim e para o motorista. Disse que era uma homenagem ao Dia da Consciência Negra, porque nós somos da mesma raça — conta William.

De acordo com o entregador, Ascendino só tentou explicar que era uma brincadeira depois que a polícia foi acionada.

— Ele veio querendo pedir desculpas e até perguntou se a gente não queria almoçar no restaurante para deixar aquilo tudo de lado — diz.

William criticou o fato de o gerente ter sido liberado no mesmo dia da prisão, após pagar a fiança.
— Tinha que cumprir a pena. Se a punição não for severa, ele não vai parar nunca de fazer isso.

As informações são do jornal carioca Extra.

Fonte: Pragmatismo Político.

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