Por José Roberto Paludo.
A TFP (Tradição, Família e Propriedade) foi uma insígnia criada no Brasil, no início do anos 1960, com objetivo de se contrapor às ideias “revolucionárias” que vinham crescendo na época. Toda e qualquer pensamento que propusesse algum tipo de mudança era considerado “revolucionário”, por isso, a TFP se tornou um dos símbolos mais fortes e emblemáticos do conservadorismo na história do Brasil.
Essa insígnia se transformou em movimento de massa, levou às ruas muitas pessoas, conscientes ou não daquilo que estavam defendendo e legitimou o golpe civil- militar de 1964 no Brasil, ou seja, por isso é necessário destacar que o golpe foi também civil e não apenas militar.
Na cidade de Florianópolis pode-se dizer que essa insígnia tornou-se um projeto político e vem dominando a cidade faz mais de meio século, ou seja, nesse período, salvo raras exceções, estão no poder municipal pessoas ligadas a Tradição, Família e Propriedades ao mesmo tempo.
Depois de Osvaldo Machado, eleito prefeito da capital em 1962, retirado do cargo em setembro de 1964, houve uma sucessão de 14 políticos biônicos nomeados pelos militares: Dakir Polidoro (1964), Paulo G. Vieira da Rosa (1964-1966), Acácio Garibaldi S. Thiago (1966-1970), Nagib Jabor (1970), Ary Oliveira (1970-1973), Nilton Severo da Costa (1973-1975), Dib Cherem (1975), Waldemar Joaquim da Silva Filho (1975), Esperidião Amin (1975-1978), Nagib Jabor (1978 -1979), Almir Saturnino de Brito (1979), Francisco de Assis Cordeiro (1979-1983), Cláudio Ávila da Silva (1984), Alcino Vieira (1985) e Aloísio Acácio Piazza (1985), este último, eleito presidente da Câmara de Vereadores. Portanto, se a TFP foi a legitimação da ditadura, todos esses deveriam ter alinhados com essa ideologia conservadora.
Depois disso, retomando o período democrático, essa insígnia da TFP foi se transformando em projeto político da seguinte forma: Tradição vem assentada no controle da mídia e algumas outras instituições de formação da opinião pública e legitimação do poder; Família é representada por nomes tradicionais ou por uma rede de micro poderes de controle de pequenas organizações que deveria ter papel independente, mas que são controladas pelos interesses dos grandes; Propriedades dos mandatários ou dos financiadores que controlam o PIB da cidade, ou seja, a especulação imobiliária, o transporte coletivo, o grande comércio e serviços de alto padrão ligados ao turismo.
Nesse período, de 1985 em diante, houve duas experiências que pretensamente tentaram mudar esse projeto. Num primeiro momento Edison Andrino de Oliveira (1985), que apesar de ter “família” com alguma tradição na ilha de Desterro, fez um governo com alguns aspectos de mudança. Depois dele, a única e principal experiência fora do eixo foi de Sérgio Grando, eleito em 1992, porque os demais foram: família Amin, família Bulcão Vianna, família Berger e o atual família César Souza.
Florianópolis não é apenas bela por natureza, como diz o hino, mas também é bela pelo seu potencial cultural, social, econômico e ambiental. Existe um grito de protesto ainda sufocado ou desorientado que busca uma nova insígnia, que se contraponha a essa velha e atrasada tradição que sufoca o novo, o diferente e o criativo. Já é hora de despertar uma nova semente, que seja regada e cuidada para dar frutos e não seja abandonado a beira do brejo como outros semeadores que tentaram enraizar suas ideias.
Talvez essa nova insígnia se estabeleça sobre outros valores: Democracia, Sustentabilidade e Cidadania (DSC).
Democracia radical, com participação direta, conselhos, conferências, transparência, controle social e muito diálogo. Temos um potencial de lideranças capazes e ávidas por participação, com potencial para contribuir na construção de um poder popular incomparável com esse conservadorismo atual.
Sustentabilidade é a chave para o futuro deste planeta, mas é necessário reverter os valores da sociedade de consumo para valores que levam ao equilíbrio econômico, social e ambiental. A cidade de Florianópolis já tem um grande potencial apesar dos que têm Propriedade tentarem controlar ou sufocar esses novos valores.
Cidadania plena, mobilidade urbana moderna, habitação, segurança, saúde e educação de base social, integração de todos pela cultura e pelo lazer e reversão dessa sociedade segmentada, desde as praias até os espaços urbanos.
DSC: está lançada mais uma semente, talvez demore um pouco para brotar e muito mais ainda para dar frutos, mas se for regada, cuidada e adubada algum fruto bom poderá ser colhido.
José Roberto Paludo – Morador Campeche, professor, mestre e doutorando em Sociologia Política na UFSC.
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Fonte: Blog do Cadu.