Fiocruz libera primeira vacina nacional contra a covid. Queiroga pega carona

Presidenta da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, comemorou a vacina AstraZeneca 100% nacional como marco da “autossuficiência” brasileira. Ministro, que atrasou vacinação infantil, faz pose para a mídia

Queiroga, que atrasou a imunização infantil, tenta surfar a onda da vacina nacional

São Paulo – A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) entregou nesta terça-feira (22) ao Ministério da Saúde as primeiras doses da vacina AstraZeneca contra a covid-19 produzidas totalmente com Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) nacional. Em evento montado para a mídia, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi fotografado aplicando a primeira dose da AstraZeneca nacional, durante cerimônia em Brasília.

Queiroga, que colaborou com o negacionismo do governo Bolsonaro, agora tenta capitalizar politicamente o esforço realizado pelos pesquisadores e diretores da Fiocruz. O ministro foi diretamente responsável, por exemplo, pelo atraso da vacinação infantil. Em vez de ordenar o imediato início da campanha, perdeu tempo com audiências públicas desnecessárias sobre o assunto, e outros artifícios.

Apesar de posar como entusiasta da vacina nacional da Fiocruz, a posição do ministro ainda é dúbia. Ao mesmo tempo que já reconheceu que a maioria dos internados em UTIs atualmente é composta por não vacinados, insiste em criar obstáculos à imunização. No caso mais recente, o Ministério da Saúde chegou a divulgar nota sugerindo que os pais ou responsáveis procurassem “recomendação prévia de um médico” antes de vacinar seus filhos.

A vacina nacional

O primeiro lote da AstraZeneca brasileira, de 550 mil vacinas, foi liberado pelo controle de qualidade do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) na semana passada. Ao todo, a entidade planeja produzir 45 milhões de doses do imunizante neste ano.

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, comemorou a entrega das novos imunizantes 100% nacionais. Ela afirmou tratar-se de “um marco” da autossuficiência brasileira no setor e da importância da presença do Estado em setores essenciais para a população, como a Saúde. “Termos realizado uma transferência tecnológica desse porte em tão pouco tempo para atender a uma emergência sanitária só reafirma o papel estratégico de instituições públicas como a Fiocruz para o desenvolvimento do país e garantia de acesso com equidade a um bem público”, afirmou à Agência Fiocruz.

A Fiocruz já produziu IFA nacional suficiente para cerca de 25 milhões de doses de vacina. Desse total, o laboratório já envasou 2,6 milhões de doses, incluindo as 550 mil já disponíveis. As demais estão em diferentes etapas para liberação.

Benefícios

O diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Mauricio Zuma, afirmou que a planta industrial do laboratório está preparada, “com capacidade extra”, podendo operar e entregar as vacinas conforme a demanda. Nesse sentido, a produção 100% nacional traz benefícios econômicos, contribuindo para a balança comercial, ao reduzir a necessidade de importações. Além disso, garante a oferta do imunizante à população.

Ao mesmo tempo, trata-se de uma das vacinas de mais baixo custo do mercado, com o valor de U$ 5,27 por dose, o que contribui para a sustentabilidade econômica do Sistema Único de Saúde (SUS).

Trajetória

Bio-Manguinhos/Fiocruz e AstraZeneca assinaram o contrato de transferência de tecnologia da vacina em 1º de junho de 2021. No dia seguinte, o Instituto recebeu dois bancos, um de células e outro, de vírus. Ambos foram aplicados na produção do IFA nacional. As equipes de Bio-Manguinhos passaram a operá-los em julho, após receberem treinamento específico.

Foram cerca de 10 meses entre a assinatura da Encomenda Tecnológica, firmada com a AstraZeneca em 8 de setembro de 2020, e a incorporação total dos equipamentos, processos e atividades que permitiram o início da produção por Bio-Manguinhos/Fiocruz ainda em julho de 2021.

Desde então, o IFA nacional passou por diversos processos de validação e controle de qualidade, inclusive no exterior. Toda a documentação técnica foi elaborada e submetida, em fins de novembro, ao órgão regulatório brasileiro. Em janeiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o Instituto como unidade produtora do IFA.

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