Segundo o colunista da Sputnik Maksim Rubchenko, os EUA atingiram o teto da dívida pela quarta vez nos últimos oito anos. Os casos anteriores ocorreram em maio de 2011, em agosto de 2017 e em fevereiro de 2018, quando o presidente dos EUA Donald Trump suspendeu a lei sobre o teto da dívida por um ano. Nos últimos 12 meses o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos contraiu empréstimos no valor de 1,22 trilhões de dólares – um valor recorde desde 2009.
“Todos entendem que os EUA não são capazes de pagar suas dívidas. Enquanto financistas do Fed [banco central dos EUA] e do Departamento do Tesouro estão tentando reduzir o apetite da administração Trump, os ‘economistas progressistas’ propagandeiam uma nova atitude frente ao problema. Trata-se da chamada teoria monetária moderna”, afirmou Rubchenko.
De acordo com adeptos dessa teoria, se a dívida é denominada na moeda nacional do país emissor, como no caso dos EUA, o país não irá enfrentar os problemas tradicionais ligados à dívida pública e ao déficit orçamentário – o Fed pode imprimir tantos dólares quantos precisa para amortizar a dívida.
Entretanto, o presidente do Fed, Jerome Powell, critica essa teoria. “Em minha opinião, a ideia de que o déficit orçamentário não importa para os países que contraem créditos em sua moeda nacional é errada”, sublinhou ele.
Powell destacou que a dívida dos EUA é muito alta em relação ao PIB e, o que é ainda mais importante, está crescendo mais rápido do que o PIB. Segundo os dados do Departamento do Tesouro, nos últimos 20 anos os gastos públicos nos EUA aumentaram 46%, enquanto o PIB – apenas 27%.
“Seremos forçados a gastar menos ou aumentar as receitas orçamentais”, declarou ele. Isso significa que os EUA deveriam abandonar os grandes e dispendiosos projetos de Trump, como a construção de muro fronteiriço com o México, ou aumentar os impostos. As duas variantes causariam grandes problemas para Trump nas eleições de 2020, por isso ele ignora os apelos do Fed.
Atingindo o teto da dívida, o Departamento do Tesouro dos EUA deixa de poder oferecer aos investidores novas emissões de obrigações, o que, por sua vez, afetará a posição do dólar na arena mundial: a demanda por dólares cairá porque, sem títulos da dívida pública, os investidores terão menos oportunidades de investir na moeda dos EUA.
Entretanto, a desvalorização do dólar é apenas um pormenor em comparação com o fato de o Departamento do Tesouro poder ficar sem dinheiro já em agosto deste ano.
Se isso acontecer, os EUA, tal como em 2011, estarão à beira do calote técnico por não serem capazes de servir suas dívidas. Em 2011, o então presidente dos EUA Barack Obama conseguiu convencer os deputados a aumentar o teto da dívida. No entanto, essa tarefa será mais difícil para Trump porque o conflito entre o presidente dos EUA e os legisladores estadunidenses está se agravando a cada dia que passa.
“O Congresso está tentando levar Trump ao impeachment ou, pelo menos, evitar sua vitória nas próximas eleições presidenciais. Os investidores em todo o mundo estão se preparando para um evento sem precedentes, mas esperado – o calote dos EUA”, concluiu o autor do artigo.