“A desigualdade perante a lei é o que faz e continua fazendo a história real, mas a história oficial não é escrita pela memória e sim pelo esquecimento. Bem o sabemos na América Latina, onde os exterminadores de índios e os traficantes de escravos têm estátuas nas praças das cidades e onde as ruas e as avenidas costumam levar nomes dos ladrões de terras e dos cofres públicos.”
Esse trecho do texto “A amnésia obrigatória”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, nos alerta para a necessidade de resgatarmos a história e não nos calarmos perante a amnésia obrigatória imposta pelas ditaduras militares que tomaram de assalto os países da América Latina. Nesse sentido, o cinema brasileiro traz um rico acervo para conhecermos nossa história e continua cumprindo com seu papel social. No último mês, dois filmes importantes puderam ser vistos em Porto Alegre: Legalidade e A Torre das Donzelas.
Legalidade
O longa-metragem Legalidade, de Zeca Brito, resgata importantes momentos históricos que acontecerem em Porto Alegre e que repercutiram em âmbito nacional, durante o movimento liderado pelo governador Leonel Brizola, em 1961. O longa, que é uma mistura de ficção com fatos reais, apresenta inúmeros acontecimentos de um passado não tão distante.
Em agosto de 1961, o Brasil conheceu inédita campanha da legalidade em defesa da ordem jurídica vigente durante a primeira experiência de democracia ampliada a partir de 1945. Naquela oportunidade, sete anos depois de as mesmas forças do atraso terem sido derrotadas em sua tentativa golpista de romper com a ordem democrática contra o governo do presidente eleito Getúlio Vargas (1950-1954), emergiu rápida e inesperada mobilização civil e militar na defesa da posse do vice-presidente João Goulart diante da renúncia do então presidente Jânio Quadros.A campanha da legalidade se formou em torno da Rádio Guaíba de Porto Alegre que passou a funcionar diretamente do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, acompanhada pela retransmissão de diversas rádios do país.
Legalidade ainda está em cartaz em Porto Alegre na Sala Paulo Amorim da Casa de Cultura Mario Quintana.
A Torre das Donzelas
“Há desejos que nem a prisão e nem a tortura inibem: liberdade e justiça. Há razões que nos mantêm íntegros mesmo em situações extremas de dor e humilhação: a amizade e a solidariedade. O sensível documentário A Torre das Donzelas, de Suzzana Lira, traz relatos inéditos da ex-presidente Dilma Rousseff e de suas ex-companheiras de cela do Presídio Tiradentes, em São Paulo, resultando em um exercício coletivo de memória feito por mulheres que acreditam que resistir ainda é um único modo de se manter livre.
Com uma narrativa diferente da usualmente utilizada quando se fala sobre as violações de direitos humanos do regime militar, a produção joga luz ao afeto desenvolvido entre essas mulheres dentro do cárcere.“A torre foi um lugar de dor e aprisionamento, mas também foi um momento de transformação pessoal para cada uma delas. Por isso elas reagiram muito bem ao cenário, pois era uma lembrança de um lugar de luta, de resistência, e também de muito companheirismo”, explica Lira.
Em cartaz por pouco tempo na cidade, o filme poderá ser visto na Mostra Ela na Tela, na Cinemateca Paulo Amorim, na Casa de Cultura Mario Quintana, no dia 26 de outubro, às 19h15, seguido de debate com a diretora. Saiba mais: https://www.elanatela.com.