Filme pernambucano recebe prêmio de Melhor Longa de 2017 em premiação internacional

O ator Ellan Barreto faz o papel de dançarino de breakdance convidado para interpretar um ganguista numa novela. / Natália Correa
O ator Ellan Barreto faz o papel de dançarino de breakdance convidado para interpretar um ganguista numa novela. / Natália Correa

Por Marcos Barbosa.

Entre vivências e contações de histórias nas periferias brasileiras, surgiu a trama de Severina, personagem central de “A Princesa do Beco e o Lampião Cromado”, filme dirigido pela catarinense Rita de Cácia Oenning da Silva e pelo norte-americano Kurt Shaw. Os dois são idealizadores do projeto FavelaNews, canal de notícias que mostra a vida e o movimento dos moradores das favelas da Região Metropolitana do Recife. A obra recebeu o prêmio de Melhor Longa de 2017 nos Estados Unidos, concedido pela Subversive Cinema Society em Los Angeles, na Califórnia, que tem como objetivo reconhecer filmes originais e que estão fora das principais normas e tendências da indústria cinematográfica, homenageando películas que rompam fronteiras, desafiem concepções artísticas e experimentem novas formas de narrativas.

No enredo, Severina (Jenifer Cibele da Silva), uma criança de 10 anos moradora da periferia do Recife, interpreta a rivalidade entre duas favelas dentro de um cenário de conto de fadas, em que a realidade cotidiana dos moradores é vista como a vida de reis e rainhas de maracatus, de princesas e príncipes que lutam entre si e se apaixonam. A menina conta a história de Okado (Ellan Barreto), um jovem dançarino de breakdance que, ao ser convidado para interpretar um ganguista numa novela, vai a campo entrevistar jovens traficantes conhecidos, para a composição do seu personagem. Nessa sua jornada, acaba descobrindo que o verdadeiro mandante do tráfico é um policial corrupto, retratado como um dragão. Com uma mistura da inocência infantil e a seriedade de um documentário, a trajetória de Severina e Okado apresenta a resistência da periferia recifense de maneira diferente da grande mídia.

Segundo os realizadores, a ideia do filme surgiu de um desejo comum dos integrantes do FavelaNews em assumir novos desafios, a partir de uma tentativa de criar algo maior e mais complexo, que os colocasse em diálogo com profissionais da área do cinema. O roteiro foi iniciado com base nas muitas histórias, contadas ou vividas, por jovens e crianças que participaram das atividades do projeto. O processo produtivo contou com a colaboração de toda a equipe. Quase todos os atores e grande parte da equipe técnica são moradores de favela, alguns deles foram capacitados nas oficinas do próprio FavelaNews, ao longo dos anos. “O filme só foi possível porque a equipe como um todo se empenhou de modo leve e intenso. Foi um trabalho que uniu a gente em torno do jogo e do fazer cinematográfico: foi tudo experimental, uma espécie de laboratório”, conta Rita de Cácia.

Ainda de acordo com a diretora, a meta agora é fazer com que a obra chegue ao grande público. Para isso, os organizadores se inscreveram em alguns festivais onde acreditam ser possível achar distribuidores e negociar com redes de cinema e estão à espera de respostas. Mais para frente, já estão sendo planejados um lançamento no Recife e outro em Florianópolis, para depois de agosto. “Em Recife acho que o fundamental é levar o público da periferia a ocupar o Cine São Luiz. Estamos ainda sem data, mas já em diálogo com o Cinema”, conclui.

Enquanto o lançamento não sai, as atividades do FavelaNews não param e já há vários outros projetos encaminhados para os próximos dias. O grupo vai começar a rodar um novo documentário, “O Outro Lado do Outro”, que provoca e representa um encontro entre dois grupos de teatro e cinema infantis, um da favela e um do bairro das Graças, entre outras ações.

Edição: Monyse Ravena

Fonte: Brasil de Fato.

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