A 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes concedeu o prêmio mais importante da edição ao longa-metragem Baronesa, da mineira Juliana Antunes. Elegido pelo júri da crítica, o filme concorreu com mais seis produções que integraram a Mostra Aurora, seção do evento dedicada a produções de diretores em início de carreira.
Mistura entre documentário e ficção, Baronesa foi o primeiro filme de Antunes. O longa-metragem registra a rotina de duas amigas, Andreia e Leidiane, que vivem no bairro Vila Mariquinha, em Belo Horizonte. Com uma câmera muito próxima das personagens, o filme aborda a experiência de ser mulher em um bairro de periferia.
O anúncio do vencedor foi muito aplaudido pelo público. “Baronesa atravessou nossas vidas por muito tempo. Foi um processo de filmagem muito difícil já que fugimos completamente dos sets tradicionais. Era a primeira experiência no cinema da maioria da equipe, mas todos nos doamos muito para realizar o delírio que foi esse filme”, afirmou a diretora, agradecendo a recepção da plateia.
Em entrevista a Brasileiros, Luis Joaquim, que integrou o júri, fala sobre a seleção: “Baronesa tem muitos méritos, é incrível que seja o primeiro trabalho da diretora. Ela consegue acessar esse ambiente, que não é o dela, e filmá-lo de maneira carinhosa, sem ser condescendente. A produção tinha tudo para dar errado, mas, felizmente, ela se mostrou muito potente e sincera”.
Outro grande premiado da noite foi o curta-metragem cearense Vando Vulgo Vedita, dirigido por Andréia Pires e Leonardo Mouramateus. O filme recebeu tanto o prêmio do juri da crítica quanto do Canal Brasil. Joaquim comenta que o curta tem “um frescor, é uma obra muito viva e vibrante. O filme trata das ambiguidades entre liberdade e violência de uma forma muito sutil”.
Uma das novidades deste ano foi a inauguração da mostra Olhos Livres, focada em produções experimentais, que fogem das linguagens convencionais. Os filmes concorriam ao prêmio Carlos Reichenbach concedido pelo júri jovem. O longa-metragem maranhense Lamparina da Aurora, de Frederico Machado, foi o escolhido.
Visivelmente surpreso, Machado agradeceu ao festival: “Tiradentes é um lugar de resistência, de vanguarda mesmo. O prêmio é uma forma de o filme circular por mais lugares”. Ele ainda acrescentou que “estamos vivendo um momento muito difícil do País, embora não seja muito, tento lutar com a minha arte”.
O participante do júri jovem, Rodrigo Oliveira, afirmou a Brasileiros que Lamparina da Aurora foi “o filme que mais se arriscou esteticamente, correndo o risco de não ser aceito. É uma produção difícil e corajosa, que simboliza bem o propósito da mostra Olhos Livres”.
Outra novidade desse ano foi a criação do prêmio Helena Ignez, dedicado a um destaque feminino. A contemplada foi Fernanda de Sena, diretora de fotografia de Baronesa. “Fico muito contente de ser premiada por uma função que normalmente é exercida por homens. Também acho importante premiarmos outras pessoas que não sejam os diretores. Quero deixar meu incentivo para que outras meninas decidam trabalhar nessa área”, afirmou.
Nesta edição, a Mostra de Cinema de Tiradentes comemorou vinte anos, cotando com novas seções e prêmios e reunindo um público de 35 mil pessoas. Um destaque do evento foi inauguração da Casa da Mostra na cidade histórica. Mistura de biblioteca, a casa será um espaço permanente que reunirá todo o acervo vinculado ao festival.
Durante os nove dias de programação da mostra foram exibidos 108 filmes de 13 estados brasileiros. A temática deste ano – Cinema em reação, cinema em reinvenção – abordou a efervescência política atual, trazendo muitos filmes engajados. Encerrado o festival, aqueles que queiram conferir as produções premiadas poderão assisti-las em março no CineSesc, em São Paulo.
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Fonte: Brasileiros.