Dos momentos cotidianos que batem como um soco na alma, a imagem triste e solitária
de um filhote sem ninho. Caiu sabe Deus como. Tão desprotegido, abandonado. Tão só
num mundo em que uma ave maior o pega e destroça como quem come um fast-food.
Que imagem de dor. A síntese do amor, da empatia ali, presente num filhote gritando
como quem grita “mamãe”.
Veja só. Tudo ocorreu em tomar um ar lá fora e um cigarro. Era um dia bem banal. A
escadaria no fim da rua dava caminho aos mais diversos pontos do bairro. Uma longa
escadaria de acesso, enquanto o filhote desesperado, tão sem chão e rumo. Pense, meu
Deus, na utilidade desse bichinho. Seja no colorir do mundo, propagar sementes
inesperadas e soar elegantemente o ir e vir.
Um rapaz o avistou e teve sua alma dilacerada pela impotência de resolver aquela vida.
Parou quando a ideia era só tomar um ar e um cigarro. Queria uma longa escada e
paciência para alcançar os galhos e, enfim, achar o ninho em que uma mãe furiosa
aguarda pelo filho. Para assim, por favor, com urgência, sanar a preocupação dela e
solidão dos irmãos. Tão pequeno o pobre que caiu. O rapaz se aproximou e notou seu
futuro bicar como solução para o que viesse o colocar em risco. Sim, em risco a vida do filhote, futuro pássaro voando em liberdade. Parado, olhava aquele canto e via o pequeno berrar por ajuda ou simples medo. Outros tantos rapazes e moças passavam, olhavam e seguiam rumo ao objetivo maior. Seja este qual for. O rapaz não. Ali permanecia. Ensaiou uma ida ao lar para pegar um pouco d’água. Perguntou pra si e para uns que passaram o que comeria o bicho. Pensou em caçar uma colher e cavar minhocas. Dada a empatia, talvez, daria até com a própria boca. Um amigo chegou:
– Perdido aí, rapaz?
– Ah… um filhote. Um filhote sem ninho. Que triste não?
– Deixa eu ver.
Olhou e teve alguma pena. Entretanto, passou rápido diante da constatação.
– Sempre achei que filhote era feio, mas este parece ser mais feio que os mais feios. Credo!
O rapaz, ainda preso na ideia do filhote, seguiu em solução. Melhor, a falta. Já o amigo concluiu:
– Na verdade… olhando bem… é filhote de urubu!
Triste constatação. A frase soou como um quadro pintado em excelência e caindo, transformando-se em pedaços numa escada descuidada. . Pense, meu Deus, no problema desse bichinho para o mundo. Seja em ser uma imagem horripilante, propagar doenças inesperadas e soar o ir e vir por cima de carniças. Que terror!
– Pois é! Urubu! Olha bem o bico. Esse aí vai fazer estrago.
O rapaz, antes convencido de que poderia ajudar o pobre bicho, perguntou qualquer coisa pro amigo, terminou o cigarro e se despediu. O encanto passou rápido. Já o filhote ficou lá. Com fome, medo e dado ao acaso de uma ave maior o comer como quem come um fast-food. É… joga bosta na Geni.