Fidel, por Eduardo Galeano

Fidel na Serra Maestra, durante a luta de guerrilhas (Foto: Enrique Meneses, no “Paris Match”)
Fidel na Serra Maestra, durante a luta de guerrilhas (Foto: Enrique Meneses, no “Paris Match”)

Tradução: Eric Nepomuceno.

Seus inimigos dizem que foi rei sem coroa e que confundia a unidade com a unanimidade.
E nisso seus inimigos têm razão.

Seus inimigos dizem que, se Napoleão tivesse tido um jornal como o Granma, nenhum francês ficaria sabendo do desastre de Waterloo.
E nisso seus inimigos têm razão.

Seus inimigos dizem que exerceu o poder falando muito e escutando pouco, porque estava mais acostumado aos ecos que às vozes.
E nisso seus inimigos têm razão.

Mas seus inimigos não dizem que não foi para posar para a História que abriu o peito para as balas quando veio a invasão, que enfrentou os furacões de igual pra igual, de furacão a furacão, que sobreviveu a 637 atentados, que sua contagiosa energia foi decisiva para transformar uma colônia em pátria e que não foi nem por feitiço de mandinga nem por milagre de Deus que essa nova pátria conseguiu sobreviver a dez presidentes dos Estados Unidos, que já estavam com o guardanapo no pescoço para almoçá-la de faca e garfo.

E seus inimigos não dizem que Cuba é um raro país que não compete na Copa Mundial do Capacho.

E não dizem que essa revolução, crescida no castigo, é o que pôde ser e não o quis ser. Nem dizem que em grande medida o muro entre o desejo e a realidade foi se fazendo mais alto e mais largo graças ao bloqueio imperial, que afogou o desenvolvimento da democracia a la cubana, obrigou a militarização da sociedade e outorgou à burocracia, que para cada solução tem um problema, os argumentos que necessitava para se justificar e perpetuar.

E não dizem que apesar de todos os pesares, apesar das agressões de fora e das arbitrariedades de dentro, essa ilha sofrida mas obstinadamente alegre gerou a sociedade latino-americana menos injusta.

E seus inimigos não dizem que essa façanha foi obra do sacrifício de seu povo, mas também foi obra da pertinaz vontade e do antiquado sentido de honra desse cavalheiro que sempre se bateu pelos perdedores, como um certo Dom Quixote, seu famoso colega dos campos de batalha.
(Do livro “Espelhos, uma história quase universal”)

Fidel com a guerrilheira Celia Sánchez

Com Ernest Hemingway, um dos poucos norte-americanos que permaneceu em Cuba após a revolução
Com Ernest Hemingway, um dos poucos norte-americanos que permaneceu em Cuba após a revolução

Falando à multidão, num longuíssimo discurso na Praça da Revolução

Com Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sarte, nos primeiros anos da revolução

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Com Angela Davis e Malcolm X (na foto acima), durante uma visita aos EUA

Com o primeiro-ministro sueco Olof Palme, o líder mais ousado da social-democracia europeia

Com Salvador Allende, na breve aventura do Poder Popular chileno

Fonte: Outras Palavras.

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