Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info.
Nota-se, gigantesca, é verdade,
A folia chegando
Alguns se indagam sobre ir ou ficar
Outros a estabelecem como calendário
O som respira ao instante de tomar os dias
E as cores, espero, combinaram como meta
O sublime
Escrevo essas linhas sabe lá Deus o motivo
Afinal… convenhamos
O ano nem começou
Óbvio que o ano nem começou
O ano nem começou e já acabou
Já acabou pra tanta gente
O ano já acabou nos corredores de sangue da ação
Da ação carioca de combate ao crime
A ação que combate o crime cometendo crimes
Entende?
A justiça injusta, a execução de uma ordem
A execução de um papel social, uma função
A execução
A execução no pescoço do homem no mercado
Ou, agora pouco, a gravata no pescoço do homem que mandou o outro dar
uma gravata no pescoço de um homem
O ano já acabou quando, de novo, largaram a lama pra matar gente
Pra derrubar a casa da gente
Pra contabilizar corpos de novo
De novo?
Notícias que tomam os jornais
E colocam gente pra se aglomerar no resto do verão numa banca
Enquanto aguardam o ônibus
Ou vídeo
Do instante que a lama desce
De novo
Pra matar
E traz a sensação de que, de novo, não vai dar em nada
E assim nossos pés nos levam pelos dias
E falamos despreocupados do tanto de gente que já tá indo
É quando penso nos meninos mortos pela máquina que queriam deles dinheiro
Não há manto
Não há paixão
Não há nada que apague a morte de meninos
Alocados em um lugar que não deveriam estar alocados
Um local com cara de qualquer coisa
“e agradeça já que a instituição te dá esse hoje”
E o hoje ficou pra trás
Bem assim
Foi como as águas tomando a cidade do Cristo que abençoa todos
E a eminência de outro desabar
Aí olham pro céu e oram
No mais
O presidente foi tirar o saco de bosta
O filho segue na milícia
O amigo saiu
O vice, carnavalesco, vestiu máscara de “parça do certo”
O laranja segue tranquilo
Os laranjas seguem tranquilos
O governador de SP, carnavalesco, veste máscara de mau
– inspiração do presidente –
E brada ser mau
Alguém, por favor, bata o pé com força no chão pra vermos o desespero que adentra esse homem por um bobo barulho, ocasional, e assim se faça seu lado menino medroso?
Ele tem caneta e assinou papel pra baterem em professores
Tal como seus anteriores
No mais seguem doidinhos pra reformar o bolso do pobre
Seguem falando absurdos
Meu Deus! Como falam asneiras!
Caralho! Como “se enganam”
E os bancos guinessbucando em lucro
Agora ouça
Vem chegando o primeiro bloco deste dia
Vamos nos vestir de utopia
Vamos dançar a utopia?
Vamos ser utopia e chamar esse bloco de alegria?