Festivale surgiu para promover a organização política do povo do Vale

Idealizador do evento conta que viu na cultura uma poderosa arma política para lutar contra a ditadura

Por Wallace Oliveira

A 36ª edição do Festivale acontece até 27 de julho / Foto: Maria Ramalho

Abril de 1977. Quatro jovens filhos do Jequitinhonha começaram a percorrer a região para conhecer melhor sua própria terra. Eles não aceitavam que ela fosse vista como “vale da fome e da pobreza”. Ao mesmo tempo, esses caminhantes inquietos também queriam lutar contra a ditadura e acabaram descobrindo na cultura do Vale uma arma poderosa.

Em março de 1978,  eles criaram um jornal independente para chegar a toda a região, falando e dando voz a associações de pedreiros, lavadeiras, artesãos, sindicatos, casas de cultura. Surgia, assim,, o Jornal Geraes, que durou sete anos.

Do seio do Geraes, em novembro de 1979, os estudantes Aurélio Silby, Carlos Figueiredo, George Abner e Tadeu Martins gestaram o 1º Encontro de Compositores do Vale do Jequitinhonha, em Itaobim. “Descobrimos ali que a música era um caminho a trilhar na organização política do Vale do Jequitinhonha. Foi um sucesso”, recorda Tadeu. O encontro reuniu 22 compositores de 15 cidades da região.

Para além da música

O passo seguinte foi um novo evento, congregando também o folclore, a dança, o artesanato. “A ideia era reunir o que o Vale produz na cultura. Além de uma mostra de tudo, teríamos um momento para confraternização, mas também para aumentar a organização política e discutir avanços sociais”, relata o produtor cultural Tadeu Martins, idealizador do evento.

Nascia, assim, o Festivale – Festival da Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha. Tadeu pensou o slogan “a vida do Vale em verso e viola”, que acabou virando “vida, Vale, verso e viola”. A primeira edição aconteceu em Itaobim, em 1980.

A iniciativa frutificou. Desde o início, já foram 35 edições (só não ocorreu em 1997, 2001, 2005 e 2012). Inspirou outros eventos culturais na região e fora dela. Acolheu e projetou centenas de artistas para o Brasil e o mundo, como Rubinho do Vale, Paulinho Pedra Azul, Titane e Célia Mara, os poetas Gonzaga Medeiros e Cláudio Bento, os artistas plásticos Gildásio Jardim e Marcelo Brant, as artesãs Lira Marques e Dona Isabel, para citar alguns dos mais conhecidos.

Vale da riqueza

Graças a um imenso trabalho coletivo do qual o Festivale é parte, a cultura do Jequitinhonha, com o tempo, passa a ser reconhecida como um dos grandes afluentes da cultura popular nacional. É natural, portanto, que o evento cruze as fronteiras de Minas, junto com o rio, para celebrar a 36º edição junto à foz, em Belmonte (BA).

Para Tadeu Martins, a intenção inicial dos criadores também está viva no papel político que o Festivale pode cumprir. “Durante um tempo, o Festivale saiu um pouco da linha, virou a festa pela festa. A partir de 2006, tentou-se uma retomada, aos poucos. Posso dizer que os dois últimos foram um retorno total ao que era nas origens: muito debate, palestra, as outras coisas todas acontecendo”, acrescenta.

FESTIVALE 2019

A 36ª edição do Festivale acontece até 27 de julho, em Belmonte, na Bahia, com mostras de cultura popular, de fotografia, shows, oficinas, feira de artesanato, festival da canção e muito mais. Confira a programação completa.

 

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