Oficialmente, o aniversário da independência do Mali é nesta segunda-feira (22). Mas a comunidade que vive em São Paulo resolveu aproveitar o último domingo (21) para celebrar os 54 anos da data, pedir a união dos cidadãos malineses e também agradecer o apoio que vem recebendo de diversas entidades e pessoas no Brasil.
O evento ocorreu na região do Glicério (no auditório da Missão Paz) e foi organizado pela União Malinesa em São Paulo no Brasil (UMSPB), com o apoio da Casa do Migrante (um dos braços da Missão Paz), Arsenal da Esperança (local de acolhida de parte da comunidade), Caritas São Paulo e do Consulado do Mali na capital paulista.
Pela primeira vez, a comunidade do Mali em São Paulo se organizou para celebrar a festa de independência do país. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
Para os malineses presentes, a festa foi uma forma de matar um pouco a saudade da terra natal, relembrando um pouco da história do país e dos costumes por meio de muita música, dança e apresentações teatrais que retratavam situações particulares do Mali. “Muito legal ver tantos malineses aqui em São Paulo e poder falar do país aqui”, diz o malinês Lassana Diallo, que está há um ano no Brasil.
“A cada ano que passa é uma alegria estar junto para lembrar esse dia, falar dos problemas que o país tá enfrentando e também para traçar melhores perspectivas para o Mali”, diz o atual presidente da UMSPB, o professor Saddo Ag Almouloud.
A festa contou com diversas apresentações teatrais, de música e dança do Mali. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
O evento chamou a atenção até da representação oficial do Mali no Brasil, que fez questão de registrar a iniciativa e a organização criadas em São Paulo. “Como é a primeira vez que tem essa festa aqui, lá em Brasília vamos fazer um relatório completo com imagem e tudo o mais para informar que há uma união dos malineses que foi criada aqui”, explica o Embaixador do Mali no Brasil, Cheickna Keita.
O evento teve ainda as presenças oficiais de Gerard Scerb, cônsul honorário do Mali em São Paulo, e do Grand Papa Modibo Diarra, chefe religioso da comunidade, que deixou sua mensagem pedindo a união entre os malineses.
Autoridades brasileiras e malinesas marcaram presença no evento. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
O jornalista Maurício Kubrusly, da TV Globo, também esteve presente no evento, dando uma mostra do interesse que a cultura e a presença do Mali e de outras comunidades migrantes já despertam na sociedade brasileira.
União e gratidão
A exemplo de outros eventos organizados pela comunidade malinesa, uma das principais mensagens é a da união entre os cidadãos do Mali e os de outras nacionalidades africanas, afim de lutarem pelos próprios direitos e se ajudarem mutuamente. “A festa leva o nome do Mali, mas também da África. Queremos a unidade, queremos todos os africanos para podermos nos ajudar da mesma forma que os brasileiros tem nos ajudado, manter a solidariedade”, explica Adama Konate, que vive no Brasil há dois anos e é um dos fundadores da UMSPB, da qual é o atual secretário-geral.
A organização do evento fez questão ainda de lembrar e presentear entidades e pessoas que têm ajudado a comunidade malinesa nos últimos anos, deixando uma mensagem de paz e conciliação. “O futuro não pode ser construído sobre a vingança. Viva a República do Mali, viva os malineses, viva nossos amigos africanos e brasileiros e todos os nossos amigos do mundo”, discursou Almouloud, presidente da UMSPB.
Malineses, brasileiros e representantes de outras nacionalidades prestigiaram o evento. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
O missionário italiano Simone Berardi, do Arsenal da Esperança, reforçou o discurso pedindo paz, união e solidariedade entre malineses e todos os presentes na festa. “Cada problema pode se tornar uma oportunidade. E a oportunidade é essa. Façam aos outros o bem que vocês receberam. Essa é a verdadeira e única arma que nós temos para construir a paz neste mundo”.
Contribuições para o Brasil
Já para brasileiros e pessoas de outras nacionalidades que prestigiaram o evento, trata-se de uma forma tanto de conhecer melhor as origens e costumes dos malineses como de reconhecer uma nova realidade no Brasil.
“É um momento no qual eles se reúnem, até de nostalgia e de matar as saudades da família. Para o Brasil é um momento histórico, porque essa questão da imigração não era tão presente como é hoje”, lembra a assistente social Mayra da Silva, que trabalhou por um ano e meio no Arsenal da Esperança, mas continua a manter contato e prestigiar as comunidades que conheceu atuando pela entidade – o interesse foi tanto que até resolveu aprender francês para facilitar a comunicação com os migrantes que atendia.
Além do novo idioma, Mayra lembra ainda o aprendizado que adquiriu graças aos imigrantes e refugiados que atendeu. “Tem pessoas que falam sete ou oito idiomas, com diversas formações (médico, engenheiro, advogado). Sempre que conversava com algum deles eu saía mais completa, com algo novo”, completa.
Banca com artesanato e roupas típicas do Mali era outra atração da festa. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
Presente ao evento, o coordenador de Políticas para Imigrantes da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, Paulo Illes, lembrou essa já crescente presença da comunidade na capital paulista. “O Mali tem trazido grandes contribuições culturais para São Paulo, que tem uma das maiores comunidades africanas da América Latina. São Paulo foi construída por imigrantes. Temos de continuar desenvolvendo políticas migratórias para a cidade”.
Segundo dados da Coordenação, a capital paulista já conta com mais de 500 mil imigrantes, sendo 370 mil deles em situação regular. E os malineses são parte dessa comunidade, que cada vez mais se faz presente no cotidiano da maior cidade brasileira.
Com colaboração de Marcel Vincenti
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Fonte: Migramundo.