Hoje acordei cedo pra desfrutar de meu último dia em Barcelona. Foram duas semanas de muitas emoções numa cidade onde tudo acontece : cultura, arte, arquitetura modernista, manifestações políticas que tem à Espanha em efervescência desde 15 de maio através dos Indignados misturadas com turistas branquelos que vem a procura do sol que seus países não proporcionam.
Estava começando a arrumar a mala para partir amanhã rumo a Azkoitia, cidade onde mora nosso amigo e colaborador de Desacato, Koldo Campos, quando escuttei música numa espécie de kombi na praça que fica aqui em frente. Não é normal nessa cidade ouvir esse tipo de “barulho” e achei estranho. Começam a se ouvir apitos e tambores. Aos poucos aparecem mutas crianças e adultos com bandeiras, que no início pareciam bandeiras palestinas. Com as roupas espalhadas pelo quarto, o computador e ventilador ligados me jogo pelas escadas.
Em poucos minutos se fez uma manifestação bem organizada que logo descobri que era um ato da solidariedade catalã com a autodeterminação do povo saharaui, o lema: “Pela justiça e a liberdade do povo saharaui”. Uma mãe que acolhe crianças saharauis nos meses do verão explicou a Desacato que “uma parte do Sahara Ocidental está ocupada pelo Marrocos. Uma grande parte da população mora em campos de refugiados na Argélia, umas 200.000 pessoas que vivem em condições muito duras. Durante os meses de mais calor, julho e agosto, as crianças são acolhidas na Catalunha e a Espanha durante as férias. Hoje, todos se juntaram para se manifestarem e lembrar a Espanha (país que fora a potência colonizadora), como responsável também pela situação que vivem todos os saharauis, que uma boa parte do Sahara Ocidental está invadida pelo Marrocos e tem todos os seus direitos negados”. (Ver vídeo Palavras de uma mãe catalã que recebe crianças saharauis.)
Na manifestação havia crianças e adolescentes saharauis de férias em Catalunha, junto com as suas famílias de acolhida. Além de exigir a independência do Sahara, também se reclamou uma infância com futuro em um Sahara livre e independente”.
Houve brevíssimos discursos em apoio à causa e para finalizar se procedeu à leitura de um Manifesto em catalã. Depois disso as crianças e adolescentes dançaram e seguiram rumo ao zoológico de Barcelona.
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Fotos e vídeo de Tali Feld Gleiser.