‘Fenômeno’ esgota, e Haddad e Serra farão 2º turno em SP

Com reportagem de Gabriel Bonis, Matheus Pichonelli e Piero Locatelli.

O fenômeno sucumbiu no primeiro turno. Líder durante a maior parte da campanha, o candidato Celso Russomanno (PRB), em queda livre havia duas semanas, encerrou a primeira fase da campanha na terceira colocação, atrás de José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT).

                                                      Haddad fala em coletiva em SP após garantir a ida ao segundo turno. Foto: Divulgação

Dessa forma, uma das mais arriscadas estratégias políticas do currículo de Luiz Inácio Lula da Silva triunfou. Ao menos por enquanto. Com o discurso de que São Paulo, uma das regiões mais refratárias ao PT, precisava de um rosto novo para governar a cidade, o ex-presidente conseguiu levar seu ex-ministro da Educação, novato em eleições, a um desempenho semelhante ao do ex-governador, ex-prefeito, ex-deputado e ex-senador tucano.

Serra, dado como favorito antes do início oficial da corrida, chegou à frente na disputa, com 31% dos votos válidos. Haddad, que até semana passada não aparecia sequer com 20% das intenções de votos, recebeu 29%. O ex-líder da campanha terminou com 21,57%. Com a derrota já desenhada, Russomanno telefonou para os dois adversários e desejou sorte. Em entrevista coletiva, fez questão de ressaltar o ato e lembrar que não atacou ninguém ao longo da campanha. Nos últimos dias, já com o declínio acentuado, ele havia se queixado dos ataques dos rivais, que exploraram na tevê a ausência de propostas concretas do então líder. Russomanno também foi alvo, na imprensa e nos debates da tevê, em razão de suas relações com a Igreja Universal do Reino de Deus, que controla o seu partido, o PRB.

Haddad, por sua vez, apareceu em público vestido com uma camisa vermelha e ao lado da família e de dois dos principais nomes do PT em São Paulo, os ministros Aloizio Mercadante (Educação) e Marta Suplicy. “Foi uma jornada difícil, eu saí de 3% de intenção de votos, chegamos a 29% dos votos válidos, uma trajetória significativa”, disse Haddad em coletiva neste domingo 7, já garantido no segundo turno.

Um lugar que, para o cientista político Celso Roma, jamais foi ameaçado pela campanha Russomano. A polarização entre PT e PSDB, defende, estava definida desde o inicio da eleição. “Serra e Haddad tiveram maior tempo de exposição no rádio e televisão, além de seus partidos possuírem muitos filiados e cabos eleitorais que puderam ser mobilizados para tentar convencer os indecisos.” Essa estrutura faltou ao candidato do PRB, que viu sua base de votos ruir em pouco mais de uma semana.

Outro fator que ajudou na derrocada de Russomano foi a dificuldade em penetrar em áreas geográficas tradicionalmente ligadas ao PT, na periferia, e aos tucanos, no centro expandido. “Na reta final, Serra e Haddad se esforçaram nestas regiões.” Nelas, obtiveram os seus melhores resultados. No Jardim Paulista, Indianópolis e Pinheiros, distritos de classe média alta da capital, o tucano somou mais de 60% dos votos. Já os principais resultados do petista, com mais de 45% dos votos, ocorreram em Parelheiros, Grajaú e Cidade Tiradentes, regiões pobres de São Paulo.

                                 O candidato Celso Russomanno, na reta final da campanha, quando pesquisas apontavam declínio. Foto: Divulgação

Ainda é uma incógnita para onde irá agora esse um quinto do eleitorado do peerrebista. De acordo com Roma, a tendência é que os votos de Russomano migrem para Haddad. Serra, por sua vez, terá como principal dificuldade a sua alta taxa de rejeição. “Serra foi rejeitado por uma parte dos eleitores conservadores. O problema não vai ser dirigir ao eleitorado do PSDB, mas aos antipetistas, que neste momento o rejeitaram e votaram em Russomanno.”

Há também as alianças. Gabriel Chalita, candidato do PMDB que obteve 13% dos votos, fatalmente estará ao lado de Haddad. Serra, enquanto isso, começa a se movimentar. Nas palavras do candidato a vice de sua chapa, Alexandre Schneider, a hora agora é de buscar apoio de qualquer partido. “Vamos até mesmo atrás dos votos do Gianazzi”, prometeu Schneider, meio irônico, meio sério, sobre a importância, a essa hora, dos 61.515 (1,02%) obtidos pelo candidato do PSOL.

Fato é que, na maior cidade do País, valerá agora o peso de dois modelos de governo. Serra terá ao seu lado o governador Geraldo Alckmin (PSDB), um dos principais artífices de sua campanha. Haddad, por sua vez, levará ao palanque a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, para quem a atual eleição foi uma das mais complicadas que já disputou.

Os candidatos, mais do que nunca, vão precisar do reforço dos padrinhos políticos para garantir o apoio de eleitores históricos e os novos indecisos. “Dependem mais dos padrinhos do que deles mesmos”, aponta Roma.


Serra acena para militantes após votar: tucano terminou 1º turno na frente. Foto: Divulgação

A dependência dos padrinhos ficou clara logo no discurso de agradecimento de Haddad. “É inevitável agradecer a ajuda de algumas lideranças. Fiquei muito emocionado com duas ligações que recebi, uma da presidenta Dilma Rousseff e outra do ex-presidente Lula, que me ajudaram a consolidar esse plano de governo”, disse Haddad.

Dilma é o trunfo de Haddad para conquistar a classe média do centro expandido simpático a Serra. Lula e Marta serão a vitrine para os eleitores da periferia. FHC e Alckmin podem ajudar o Serra a manter eleitorado tucano fiel. E, principalmente, devem fazer coro à promessa de que, desta vez, cumprirá seu mandato até o fim.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/

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