Por Montserrat Martins.
O discurso do Temer no Dia da Mulher virou piada nas redes sociais, com o seu elogio às qualidades domésticas da mulher, em plena Era em que elas vem superando todos os limites e convenções sociais. A questão séria que emerge dessa fala de um Presidente ‘biônico’ e anacrônico é: o que é o feminino hoje, e o que é o masculino?
Na tradição filosófica chinesa o Yin é o princípio feminino e o Yang o masculino, sendo o primeiro simbolizado com a Lua, noturna, significando a passividade e capacidade de absorção e o segundo representado pelo Sol, simbolizando o dia, a luz e a atividade. Conceitos que poderiam ser facilmente classificados como machistas em nossa cultura, mas que tem de ser compreendidos na cultura Oriental como uma forma de complementariedade onde tanto mulheres quanto homens possuem os dois princípios, o Yin e o Yang.
Em busca de conceitos universais, os Junguianos estudaram os Arquétipos que representam as energias masculinas e femininas presentes nas nossas vidas. Um livro profundo sobre as energias masculinas é Rei, Guerreiro, Mago, Amante, escrito por Robert Moore e David Gillete, que vale a pena ter em casa para ler e reler. Tal como no Yin-Yang, todos nós temos doses variáveis dessas diferentes energias e ler sobre elas é estimular o autoconhecimento em busca do nosso equilíbrio interior.
Os arquétipos femininos, encontrados desde a Mitologia Grega, são ainda mais complexos, Ártemis/Diana, representando a Deusa Selvagem, Atenas/Minerva simbolizando a da Sabedoria e da Civilização, Héstia/Vesta a da Lareira, Hera/Juno do Casamento e do Poder, Démeter/Ceres a Deusa dos Ciclos da Vida, Perséfone/Prosérpina do Mundo Espiritual e Oculto, e Afrodite/Vênus a Deusa do Amor, da Sexualidade e da Arte.
Há uma visível analogia entre os arquétipos do feminino e do masculino, por exemplo o Amante representa a mesma energia de Afrodite/Vênus. A criatividade e expressividade artística, em ambos os arquétipos, está associada às energias amorosas e sensuais. Da mesma forma que Atenas/Minerva simbolizam Sabedoria e Civilização, esse é o papel do arquétipo do Mago. A Deusa Selvagem, Ártemis/Diana, representa a mesma energia do Guerreiro, assim como Hera/Juno, do Casamento e do Poder, são análogas ao Rei.
Só compreendendo que temos dentro de nós as mais diversas formas de energia, e que todas são fundamentais em nosso equilíbrio interior, seremos capazes de fugir dos estereótipos do feminino/masculino. Num mundo repleto ainda de preconceitos e incompreensões, o desafio do autoconhecimento e da harmonia é vital.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade
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Fonte: EcoDebate